“Na equidade, você propõe uma igualdade que respeita as diferenças; e a partir disso a gente trabalha no sentido de promover a igualdade”, destacou a Secretária municipal de Políticas Públicas para as Mulheres ao NOVO Notícias
Publicado 7 de março de 2022 às 15:30
Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o NOVO entrevistou a Secretária Municipal de Políticas Públicas, Andréa Ramalho. Entre os destaques da entrevista, a secretária falou sobre os problemas ocasionados pela dependência financeira da mulher, a importância de trabalhar a equidade respeitando as diferenças e promovendo a igualdade, além das ações e centros de apoio mantidos pela secretaria de políticas públicas que dão suporte às mulheres vítimas da violência.
NOVO – Secretária, fale um pouco sobre os objetivos desse Mês da Mulher. O que a programação contempla e qual é a missão principal?
ANDRÉA RAMALHO – Neste oito de março, para além das comemorações que temos e que existem, e que são muitas, nós queremos sensibilizar mulheres que sofrem violência doméstica na cidade de Natal, para procurar os nossos equipamentos sociais. A gente tem um equipamento na Bernardo Vieira, 2280, que se chama Centro de Referência Elizabeth Nasser, e, infelizmente, nem todas as mulheres de Natal sabem que existe. Então a Prefeitura contratou uma agência que neste momento está trabalhando em uma campanha, enfatizando a data, mas também buscando dar visibilidade para que as mulheres possam ter acesso a um serviço digno, um serviço de qualidade, que contribua para transformar vidas.
NOVO – Então, as mulheres podem procurar o Município para serem atendidas quando precisarem de um apoio em casos de emergência?
Exatamente! Nós temos o 0800-281-8000, o Centro fica na Bernardo Vieira, 2280, bem próximo à Semtas. Mulheres das quatro regiões administrativas de Natal podem ter acesso a esse espaço.
NOVO – Você informa que um dos principais problemas enfrentados pelas mulheres é exatamente a dependência financeira, pois quando ela ganha o próprio dinheiro facilita que ela seja livre. Como você acredita que as mulheres podem buscar a sua independência financeira?
O empreendedorismo feminino é muito importante nesse segmento, nessa área que a gente trabalha, com violência doméstica familiar. Normalmente, o que a gente encontra são mulheres que dependem emocionalmente, na sua grande maioria, dos parceiros. Os agressores são os próprios parceiros, maridos, filhos, namorados, então elas têm uma dependência emocional e também uma dependência financeira. Por isso que se submetem a todos esses ciclos de violência. Então, nós na secretaria temos um foco, a autonomia financeira dessas mulheres. Essa parte do empreendedorismo é uma área de extrema importância, pois é uma área que pode mostrar saídas de caminhos dignos, de caminhos sem violência. Na secretaria hoje nós juntamos mulheres das quatro regiões administrativas de Natal, fizemos parceria com o CDL. Malu Fontes, vice-presidente do CDL, faz um grande trabalho, uma grande mulher, uma inspiração para todas nós mulheres. E a partir dessa parceria, estamos dando oportunidade para que esse artesanato, para que esse material seja exposto no Natal Shopping, e que essas mulheres possam expor, vender, conversar, encontrar clientes, procurar fazer negócio. São mulheres que já sofreram violência, na sua grande maioria passaram pelo nosso serviço.
NOVO – Há um grande esforço da secretaria, na verdade de todas as mulheres, da sociedade, por mais espaço no mercado de trabalho. Quais as ações de vocês para mudar essa realidade?
Essa questão é cultural. Ela vem da construção da nossa sociedade, desse patriarcado, do machismo que existe. Então, nós trabalhamos na desconstrução dessa visão para procurar exatamente dar o devido valor. E como é que a gente está fazendo isso? Nós estamos indo às escolas, trabalhando com as novas gerações. Nós temos um projeto de lei chamado Maria da Penha Vai às Escolas. Mas também a gente coloca novas formas de se relacionar, mostrando novos caminhos para que os jovens possam aprender a tratar as mulheres com mais respeito, com mais dignidade; que os próprios homens possam ter também uma visão feminista, no sentido de respeitar mulher é não bater em mulher, é valorizar a mulher, é lutar por mais oportunidades, é lutar por equidade, para que homens e mulheres tenham a mesma oportunidade, tanto nas empresas, como oportunidades de trabalho.
NOVO – A palavra atual é exatamente essa: Equidade! Teve um evento em janeiro de tendências da economia mundial, em Nova Iorque (EUA), e uma das principais palavras foi equidade.
E por que não igualdade? Porque nós não somos iguais. Você é um homem, eu sou uma mulher, existem características que são próprias do homem e próprias da mulher.
NOVO – Nem tampouco é inclusão, porque inclusão, às vezes você inclui, mas não trata como igual.
Exatamente! E na equidade você propõe uma igualdade que respeita as diferenças, respeita e reconhece, e a partir disso a gente trabalha no sentido de promover a igualdade. Mas não é só a igualdade, é a equidade. Então a palavra é essa. Nós precisamos que na sociedade, nós possamos promover a equidade. Nós mulheres, muitas mulheres até se colocam nesse lugar de Mulher Maravilha. Aí acorda cedo, vai para a academia, tem que ter o corpo sarado, tem que ser magra, depois volta, arruma os filhos, deixa na escola, depois trabalha, depois fica com marido, depois lava a louça. Jean. Paciência. Ninguém é uma supermulher. Os homens precisam dividir conosco as tarefas de casa, as tarefas cotidianas. As mulheres precisam parar de se cobrar, porque muitas adoecendo. Olha a ansiedade que a gente vê hoje, olha o nível de estresse das pessoas, elas vivem correndo em busca de um ideal de mulher, que na minha opinião não deveria ser esse. Cada um de nós deveria ter o nosso próprio ideal a partir da nossa história, da nossa crença, da nossa personalidade, do que nos faz bem, respeitando os nossos limites. E não é o que a gente vê. Então, acho que a gente tem que trabalhar para desconstruir essa supermulher, e construir uma mulher que se respeita, que se valoriza, que faz as coisas de acordo com o seu próprio movimento, com a sua própria dança interna.
NOVO – Você já fez um trabalho muito forte na área social, e também na área cultural, no artesanato. Como você acredita que a cultura pode contribuir para melhorar a vida das mulheres?
Não tenha dúvida que a cultura pode melhorar não só a vida das mulheres, mas da nossa sociedade como um todo. Inclusive, eu queria dizer que para o nosso planejamento desse ano, nós vamos contratar um grupo de teatro, que junto conosco, a partir da Lei Maria da Penha, vai elaborar uma peça para que possamos ocupar os espaços da cidade mostrando, defendendo a nossa causa, nossas bandeiras, e com certeza, a partir da cultura para que nós conseguimos entrar mais fácil no coração das pessoas. Então, essa questão cultural, eu entendo que passa pela educação, pelas escolas, pela arte também e por todas as ferramentas que nós podemos ter para inserir novas ideias, novos padrões de pensamento, novos paradigmas.
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