Com base na análise de variáveis – como porcentuais de famílias endividadas e com contas em atraso, parcela da renda comprometida com dívidas, entre outras –, a radiografia tem o objetivo de avaliar o comportamento dos lares brasileiros, em todas as capitais do País, em relação à administração de suas condições financeiras e à utilização das opções de crédito em três períodos: a primeira metade do ano de 2020, quando foram impostas as restrições mais rigorosas visando ao controle da pandemia; o primeiro semestre de 2021, que mesclou o período mais mortal da pandemia com o início da vacinação e a reabertura das atividades; e o primeiro semestre de 2022, momento em que havia um cenário de vacinação e de retomada das atividades econômicas já consolidado e volta à normalidade.
Na edição passada, a FecomercioSP já tinha alertado para um quadro de deterioração da saúde financeira das famílias brasileiras e demonstrado preocupação quanto à trajetória futura dos níveis de endividamento e inadimplência numa conjuntura de queda da renda, elevação da taxa básica de juros e inflação de dois dígitos.
Ao fim do primeiro semestre de 2022, a renda média das famílias nas capitais brasileiras havia caído 3,9% em comparação ao mesmo período de 2020. O valor, que era de R$ 8.327, em junho de 2020, passou para R$ 8.031, em junho do ano passado, e R$ 8.001, em 2022. Nesta mesma base de comparação, a renda média registrou queda em 15 das 27 capitais.
Na visão da FecomercioSP, o fato de a renda média não ter crescido, mesmo em circunstâncias de queda do desemprego e significativa geração de empregos com carteira assinada, pode estar relacionado ao encerramento do auxílio emergencial. Além disso, elevou-se no número de pessoas com rendimentos, mas em um patamar médio menor. Por fim, a inflação alta também foi fator determinante na diminuição da renda ao impactar, de forma incisiva, o poder de compra das famílias.
Nessa conjuntura, as previsões da Entidade se mostraram corretas: o porcentual de famílias endividadas cresceu aceleradamente, passando de 67%, em junho de 2020, para 71%, em 2021, encerrando o primeiro semestre de 2022 em 78%, o maior patamar da série histórica desde 2010.
O crescimento do número de famílias endividadas, de maneira isolada, não é negativo, pelo contrário, indica uma razão da retomada do consumo que ficou reprimido ao longo dos meses de pandemia, sendo uma importante alavanca de retomada da atividade econômica – e os dados de crédito e vendas do varejo confirmam essa tendência. Em um contexto de inflação alta, o crédito também é uma ferramenta importante para as que os lares possam manter o padrão de consumo.
Dentre as capitais, as taxas mais elevadas foram observadas em Curitiba (PR), com 95,1%; Porto Alegre (RS), com 94,3%; e Belo Horizonte (MG), que alcançou a marca de 90,1%. Nas três capitais, estas são as maiores taxas desde o início da pesquisa, há 12 anos. Por outro lado, os menores índices foram registrados em Goiânia (GO), com 57,2%; e Campo Grande (MS), com 59,3%.
Ao considerar as médias históricas de famílias endividadas nos meses de junho, entre 2010 e 2021, e compará-las com os resultados apurados em 2022, as duas cidades mais populosas do Brasil também se destacaram: São Paulo passou do padrão histórico de 53% para 75% de famílias endividadas (em termos absolutos, significa um acréscimo de pouco mais de 962 mil lares nesta situação); e Rio de Janeiro, que contabilizou aumento de quase 650 mil famílias no contingente da população com dívidas (44,6% superior ao padrão histórico, a maior diferença porcentual entre as 27 capitais).
Dentre as capitais com maior índice de inadimplência, estão Belo Horizonte (43%), Boa Vista (42%) e Porto Alegre (41%). Um ponto em comum entre as capitais com maiores taxas de famílias com contas em atraso – que pode explicar parte deste comportamento – é a queda na renda familiar entre 2020 e 2022. Em Belo Horizonte e Porto Alegre, é possível observar um quadro de aumento acelerado no número de famílias endividadas, crescimento do valor da dívida e queda na renda. Vale ressaltar, porém, que a parcela da renda comprometida com dívidas se manteve estável em 30%, patamar considerável saudável, confirmando a seletividade do sistema financeiro na concessão de crédito.
Renda familiar
A renda mensal das famílias, nas capitas do Brasil, apontou queda de 3,9%, na comparação entre junho de 2022 e o mesmo mês de 2020: de R$ 8.327 para R$ 8.001, segundo a FecomercioSP. Vale ressaltar que a inflação em alta foi fator determinante para isso, ao reduzir, de forma incisiva, o poder de compra da população.
Para os próximos meses, a FecomercioSP espera uma melhora das variáveis do uso do crédito, considerando que o comportamento destes fatores está relacionado a um ponto específico: o nível da renda, que deve ser impactado positivamente por uma série de condições:
Nota metodológica
O estudo avalia as dimensões e efeitos sobre as famílias da política de crédito no Brasil entre as primeiras metades dos anos de 2020 e 2022. Para as análises relativas às capitais brasileiras, foram usadas as seguintes bases de dados primários: IPCA, Contagem da População, PNAD Contínua e Pesquisa de Orçamento Familiar, todas do IBGE, e as taxas mensais de endividamento, comprometimento da renda e taxa de famílias com contas em atraso constantes da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (PEIC), da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
A PEIC, realizada pela CNC em todas as capitais brasileiras, entrevista mensalmente mais de 17 mil pessoas nestas cidades, produzindo, de forma direta, mais de 100 mil questionários em cada semestre analisado, com dados informados de maneira direta pelos consumidores sobre a sua realidade de endividamento, a capacidade de pagamento e o perfil e a situação de suas dívidas. Por meio dos valores totais das 27 capitais, tem-se uma margem de erro de apenas 0,73 ponto porcentual (p.p.). Todos os valores foram atualizados para junho de 2021, a fim de viabilizar a comparação entre eles.
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