Na íntegra da delação, Mauro Cid confirma detalha informações acerca da tentativa de golpe de Estado. Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
A defesa de Braga Netto considerou que a denúncia da PGR é fantasiosa e afirmou que o general tem reputação ilibada e mais de 40 anos de serviços prestados ao Exército
Publicado 19 de fevereiro de 2025 às 14:52
A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, mostra a tentativa de blindagem do general Braga Netto nos primeiros depoimentos prestados à Policia Federal (PF). A íntegra do documento foi liberada nesta quarta-feira (19).
A delação foi utilizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para embasar a denúncia oferecida ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente e mais 33 acusados no inquérito do golpe. O sigilo dos depoimentos foi retirado nesta quarta-feira (19) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF.
De acordo com um dos depoimentos na íntegra da delação, Mauro Cid confirmou que “dosou as palavras” sobre as tentativas de Braga Netto de obter informações sobre a delação, por meio de ligações telefônicas para o general Lourena Cid, pai do ex-ajudante.
Em depoimento prestado em dezembro do ano passado, Cid foi perguntado pelo delegado Fabio Shor se havia receio de repassar informações para a investigação. Cid disse que levou em conta a hierarquia militar para não confirmar, em um primeiro momento, que Braga Netto teria a intenção de financiar militares para execução do plano golpista e obter dados sobre a delação.
“Pelo respeito que a gente tem com uma autoridade, um general quatro estrelas, que às vezes é muito caro, dosa muitas palavras para evitar estar acusando ou falando de uma autoridade, ainda mais um general quatro estrelas. Mas, diretamente por causa dessa situação, não. Mais pelo íntimo interno, do ethos militar”, afirmou.
Na delação, Mauro Cid confirmou que Braga Netto, ex-ministro e vice de Bolsonaro nas eleições de 2022, repassou a ele “dinheiro dentro de uma sacola de vinho”, e os recursos teriam permanecido com um militar identificado como Rafael de Oliveira”, disse.
“O general Braga Netto me entregou o dinheiro, eu tenho quase certeza que foi no Alvorada, até me lembro que eu botei na minha mesa ali na biblioteca do Alvorada e depois o De Oliveira veio buscar o dinheiro comigo na próprio Alvorada, só que eu não consigo lembrar o dia. Então, eu entreguei o dinheiro para o De Oliveira, mas eu não sei dizer o valor porque estava na casa, estava lacrado, não mexi, porque ele me entregou e eu passei para ele”, completou.
Braga Netto está preso desde 14 de dezembro de 2024, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito do golpe. Segundo as investigações da Polícia Federal, baseadas na delação de Cid, o general estaria obstruindo a investigação.
A defesa de Braga Netto considerou que a denúncia da PGR é fantasiosa e afirmou que o general tem reputação ilibada e mais de 40 anos de serviços prestados ao Exército.
“O general Braga Betto está preso há mais de 60 dias e ainda não teve amplo acesso aos autos, encontra-se preso em razão de uma delação premiada que não lhe foi permitido conhecer e contraditar”, declarou a defesa.
Confira abaixo a íntegra da delação de Mauro Cid na íntegra:
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou nesta quarta-feira (19) o sigilo sobre a íntegra da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que serviu como base para a investigação que levou à denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro foi denunciado nesta terça (18) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes. Outras 33 pessoas também foram denunciadas.
No despacho desta quarta, Moraes também abriu prazo de 15 dias para manifestação das defesas. Pela determinação, a contagem deve correr de forma simultânea para todos os acusados, incluindo Mauro Cid.
Segundo a acusação, o ex-presidente liderou uma trama golpista gestada em 2022, nos últimos meses de seu mandato, com o objetivo de se manter no poder após ser derrotado na corrida presidencial daquele ano.
Uma das principais alegações das defesas dos acusados é de que não tiveram acesso à íntegra da delação de Cid. Ao levantar o sigilo após a denúncia, Moraes afirmou que a medida visa a “garantia do contraditório e da ampla defesa”.
“Da mesma maneira, a manutenção geral do excepcional sigilo da colaboração premiada não mais se justifica na preservação ao interesse público, pois não é mais necessária, nem para preservar os direitos assegurados ao colaborador, nem para garantir o êxito das investigações”, acrescentou o ministro.
Além da delação de Cid, que foi ajudante de ordens e trabalhou ao lado de Bolsonaro durante todo o mandato presidencial, a denúncia da PGR trás diversos outros elementos de prova, incluindo vídeos, anotações, mensagens, registros de frequência em prédios públicos, entre outros materiais colhidos pela Polícia Federal (PF).
A defesa de Bolsonaro nega o envolvimento dele na trama golpista. Assinada pelo advogado Paulo Cunha Bueno, a nota afirma que Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.
A delação de Cid envolve também outras investigações que têm Bolsonaro como alvo, como a que apura a falsificação do cartão de vacinação para covid-19 do ex-presidente e o caso de venda de objetos como joias e relógios, recebidos por ele como presente de autoridades estrangeiras.
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