Após uma manhã de volatilidade, o dólar à vista perdeu força e trabalhou em terreno negativo ao longo da tarde, em dia marcado por apetite por risco no mercado externo, alta firme da bolsa brasileira e expectativa de entrada de recursos externos para IPOs. Analistas atribuem a apreciação do real também a um movimento natural de correção, após oito pregões seguidos de alta do dólar, em meio a sinais de que o governo pode recuar em alguns pontos da reforma tributária.
Com máxima de R$ 5,2848 e mínima de R$ 5,1640, o dólar à vista fechou a R$ 5,1740, em queda de 1,25%. Houve um enfraquecimento mais forte da moeda americana no fim do pregão, com o registro de novas mínimas, na esteira de declarações do diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, de que a liquidez é “abundante” e que não vê “miss match” (descasamento) relevante no mercado de câmbio neste momento.
Serra disse que a intervenção do BC no mercado de câmbio na quinta-feira, 8, com oferta de 10 mil contratos de swap cambial, foi padrão. “Vamos ver se o mercado vai precisar de dólares no fim do ano. É sempre melhor que o mercado resolva seus problemas sozinho, mas, quando isso não acontece, estamos aptos para atuar”, afirmou, em videoconferência organizada pelo Santander.
Operadores ponderam que a volatilidade continua exacerbada, com o dólar oscilando mais de 10 centavos entre a mínima e a máxima, e que a moeda americana ainda permanece muito sensível ao ambiente político conturbado, em meio a atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e os outros chefes de Poderes.
Para o head de câmbio da Acqua-Vero, Alexandre Netto, sinais de que o governo pode recuar em alguns pontos da reforma tributária, aliados ao ambiente externo favorável ao risco, abriram espaço para uma correção natural no mercado de câmbio, a despeito dos ruídos em Brasília.
“A questão da reforma foi um dos principais ‘drivers’ para a piora no câmbio. Nos últimos dias, houve sinais de que a proposta vai ser alterada, o que trouxe certo alívio”, afirma Netto, que não vê, contudo, espaço para uma rodada mais forte de apreciação do real. “Parece que a alta dos juros já está ‘precificada’ no câmbio e o ambiente político ainda é muito ruim, com a corrida eleitoral parecendo cada vez mais próxima”.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sinalizado que aceitará a retirada de “maldades” do texto. É ventilada a possibilidade de queda da proposta de taxação de dividendos entre empresas e a manutenção da isenção para fundos imobiliários.
Do lado do comércio exterior, a balança comercial registrou superávit de US$ 2,013 bilhões na segunda semana de julho, levando o saldo positivo acumulado no mês a R$ 3,563 bilhões. Em 2021, a balança comercial tem superávit de US$39,750 bilhões.
Os resultados comerciais podem dar mais sustentação ao real no curto prazo, desde que os exportadores optem por internalizar recursos, em vez de mantê-los no exterior. A expectativa é que, com o aumento da taxa Selic ao longo dos próximos meses, as empresas passem a fechar mais contratos de câmbio, por conta do aumento do custo de oportunidade.
Em sua videoconferência, Serra, do BC, afirmou que recursos de exportações estão sendo utilizados para pré-pagamentos de dívidas no exterior, o que retirou um pouco de liquidez do mercado de câmbio. Para o diretor do BC, esse fenômeno é temporário e será revertido em breve.
Em relatório, a Armor Capital afirma que, após cinco semanas sem internalizar recursos, os exportadores trouxeram US$ 893 bilhões ao país na última semana de junho. Embora saliente que esses dados devem ser vistos com cautela, a gestora afirma que “se essa reversão for mantida e o exportador continuar trazendo recursos deve haver um fôlego para o câmbio”.
Lá fora, o dólar teve um comportamento misto em relação às principais divisas emergentes, com queda frente ao peso colombiano e a lira turca, alta na comparação com o rand sul-africano e certa estabilidade ante ao peso mexicano, considerado o principal par do real.
O mercado aguarda a divulgação, amanhã, do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em junho, e discursos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (na quarta e na quinta-feira) para calibrar as expectativas em torno do início da redução do volume de compra de ativos.
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