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Documentário questiona versão oficial da morte do político potiguar Glênio Sá

Filha do ativista, Jana Sá, jornalista e diretora do filme junto com o irmão, Gilson Sá, comenta sobre motivação em buscar a verdade sobre a morte de seu pai

por: NOVO Notícias

Publicado 16 de maio de 2022 às 17:30

Lançamento do filme foi seguido de debate sobre ditadura – Foto: Divulgação

Glênio Sá, comunista, ex-preso político da ditadura militar, único potiguar a participar da Guerrilha do Araguaia, morreu em 26 de julho de 1990. A causa conhecida e divulgada à época: acidente automobilístico. Porém, os filhos do ativista, Jana Sá e Gilson Sá, contestam a versão oficial da morte no documentário “Não foi acidente. Mataram meu pai”, lançado no final de abril, em sessão para convidados, na Casa da Ribeira. Em entrevista ao NOVO Notícias, jornalista Jana Sá comenta sobre

NOVO – Como surgiu a ideia de fazer um documentário sobre o seu pai?

– A ideia desse filme, na verdade, sempre teve presente na vida da gente. Eu perdi meu pai, eu tinha só seis anos de idade, e eu cresci muito com essa versão dentro de casa, contada pela minha mãe, pelos meus tios, irmãos do meu pai, de que eles não acreditavam nessa versão oficial de que teria sido um acidente. E aí tudo isso foi despertando muito ideia de até de seguir a profissão de jornalista, de contar essa história, de contar a história da participação do meu pai na Guerrilha do Araguaia, porque me incomodava também muito, quando eu estudava, não ver essas histórias que eu escutava na minha casa, nos livros. Então isso me inquietava bastante; e quando eu terminei minha graduação em jornalismo em 2004, eu escrevi um livro reportagem sobre a participação do meu pai.

Eu solicitei documentos à Agência Brasileira de Inteligência que mostram que a vigilância, a perseguição ao meu pai ultrapassaram mais de dez anos a Lei de Anistia, que é de 1979. Portanto ele continuava a ser perseguido. Então isso reforçava muito essa versão da minha mãe. E comecei a pesquisar sobre isso também a partir daí, Esse documentário é fruto de mais de vinte anos de pesquisa. Nesse período, eu tive que ouvir testemunhas, reler depoimentos, juntar documentos, fazer análise desses documentos. E aí eu me deparo com o livro “Memórias de Uma Guerra Suja”, onde o ex delegado do DOPS, Cláudio Guerra, fala sobre um acidente automobilístico que aconteceu na década de noventa, em que uma pessoa do Nordeste, um político que combateu a ditadura militar, foi morto pela ditadura ainda, em um acidente forjado.

E aí eu fiz uma pesquisa  sobre acidentes que aconteceram nesse período, que tivesse tido a repercussão que ele fala nacional e não encontrei nada. Então tive que voltar nas delegacias, fui no local do acidente, falei com moradores, escolhi depoimentos desses moradores e o documentário traz isso, Traz todos esses indícios que conseguiu reunir em mais de vinte anos de pesquisa.

NOVO – O filme foi lançado no dia de aniversário de Glênio Sá. Comente a escolha da data.

– Foi uma data bem emblemática porque se ele tivesse vivo completaria setenta e dois anos nessa data. É também a data que se rememora os cinquenta e oito anos do golpe e os cinquenta anos da guerrilha do Araguaia. E aí é, a gente fez um debate depois, porque apesar de ser uma história, história do meu pai, que interessa muito particularmente à família, descobrir as verdadeiras circunstâncias da morte dele, eu acho que se trata acima de tudo da história do Brasil, né? Porque o caso de painho ele se soma a vários outros casos de pessoas que foram mortas pela ditadura militar pós o período de redemocratização. Então, é muito importante porque isso mostra que a ditadura não acabou, que ela continuou e que ela continua a agir até os dias de hoje.