Cotidiano

Dia da Mulher: o poder feminino nos negócios

Mulheres comandam 35% das empresas formais no Rio Grande do Norte; NOVO ouviu gestoras para falar do crescimento da participação feminina em postos de liderança

por: NOVO Notícias

Publicado 6 de março de 2023 às 15:30

Jeane Oliveira, CEO da Fibertec Brasil – Foto: Arquivo Pessoal

O Dia Internacional da Mulher, comemorado na próxima quarta-feira, dia 8 de março, traz a importância de lembrar o papel fundamental que as mulheres desempenham na sociedade e no mercado de trabalho. Cada vez mais elas vêm se destacando como empreendedoras.

Com 30 anos de experiência no setor de segurança privada, Jeane Oliveira, CEO da Fibertec Brasil, empresa de segurança eletrônica com atuação em território nacional e internacional, é um exemplo de que as mulheres estão se tornando protagonistas no mundo corporativo, ao assumir cargos de gestão antes dominados apenas pelo sexo masculino. “Já testei diversos produtos e serviços. Uns com sucesso, outros nem tanto. Mas as palavras de ordem por aqui são persistência e aperfeiçoamento, principalmente após receber feedbacks do cliente”, revelou a empresária, que está à frente da empresa com 13 anos de atuação no mercado potiguar.

Jeane começou sua carreira de uma forma inusitada no mundo dos negócios. Ele conta que no início foi trabalhando como recepcionista em uma clínica que não tinha muito movimentação de clientes. “Após me oferecerem uma comissão por cliente que fosse até lá, eu criei uma estratégia: bati de porta em porta, convidei as pessoas e falei tudo o que sabia sobre aquele lugar. A clínica começou a funcionar, ninguém acreditava! Desde as minhas primeiras experiências, sentia que a veia empreendedora existia em mim. Sempre soube onde queria chegar. Fiz tudo que estava ao meu alcance para ganhar o meu espaço. Trabalhei duro, me aperfeiçoei a cada oportunidade que tive e não tive medo de errar. Meu medo sempre foi ficar inerte e a vida passar. Sempre digo: ‘o não eu já tenho, vou correr atrás do sim’”, revelou.

Mesmo com toda a força de vontade, o fato de ser mulher por muitas vezes acabou pesando na caminhada da empreendedora. De acordo com ela, até hoje a cobrança é enorme. “Ser mulher é um desafio desde o momento que a gente nasce. Na liderança empresarial não seria diferente. Na minha posição, sinto muita cobrança. Mulheres geralmente são julgadas como menos competentes ou emocionais demais para liderar. Apesar do maior esclarecimento da sociedade quanto a esta temática, a falta de representação de mulheres em cargos de liderança ainda é muito comum. Para lidar com esses desafios, é preciso adquirir confiança em si e no seu trabalho, buscar aperfeiçoamento para desenvolver as habilidades e conquistar o seu lugar”, disse.

DESAFIOS DIÁRIOS

Eduarda Dubeux, diretora comercial e de marketing da Moura Dubeux – Foto: Arquivo Pessoal

Outra mulher que vem se destacando no empreendedorismo é Eduarda Dubeux. Ela é formada em Direito, mas conta que a área jurídica não fazia seus olhos brilharem. Com isso, ela entrou na empresa da família, a Moura Dubeux. “Entrei na empresa há mais de 10 anos na área comercial. Passei 2 anos e fui para o MKT. Fiz um MBA nessas áreas e me apaixonei pela comunicação. Comecei como analista na empresa e fui galgando para supervisão, gerente e agora diretoria. Sempre com muito foco e dedicação máxima a tudo que eu faço. Procurando sempre surpreender a mim mesma nas minhas entregas”, contou.

Hoje Eduarda é diretora comercial e de marketing da Moura Dubeux, uma empresa tradicional do mercado imobiliário. “Os desafios da função são inúmeros. Números extremamente desafiadores, gestão de pessoas, atuação em 7 cidades diferentes do Nordeste com suas peculiaridades, um negócio onde tem uma alta expectativa do seu cliente somada a uma jornada longa e com vários pontos de fricção. Além da conciliação com a vida pessoal em meio a todos esses desafios”, pontuou.

Para ela, o gênero também é motivo para que as pessoas questionem sua capacidade profissional. “Acho que já sofri preconceitos por ser mulher, por ter uma vida socialmente ativa, ser fashionista… mas sempre soube que com trabalho e dedicação isso ficaria de lado. Nunca me abalei pelos julgamentos das pessoas. Sempre procurei fazer minha parte, entregar resultados e respeitar a todos”, afirmou.

ROMPENDO BARREIRAS

Fábia Miranda, gerente de Gente e Gestão e presidente do Conselho Sócio-Familiar do Grupo Nordestão – Foto: Arquivo Pessoal

Fábia Miranda é gerente de Gente e Gestão e presidente do Conselho Sócio-Familiar do Grupo Nordestão, a maior rede de supermercados do Rio Grande do Norte, cujo negócio fundado pelo seu avô. Além disso, ela ocupa as cadeiras de secretária-geral da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (ASSURN) e de diretora vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).

Fábia é bacharel em Sistemas da Informação e, durante a graduação, foi estagiária em uma indústria de alimentos. Já formada, ela trabalhou em um shopping dando apoio ao setor de marketing e, depois, passou por uma distribuidora alimentícia. Depois disso, começou sua carreira no Grupo Nordestão.

A gestora contou que busca impulsionar colaboradoras do Grupo e, como forma de fomentar oportunidades que apoiem e estimulem o desenvolvimento dessas mulheres, seja dentro ou fora das empresas, instituiu, junto a diretoria e demais setores, um programa de cargos e salários.

“Desde 2021 instituímos em nosso Grupo esse programa, no qual não há distinção entre homens e mulheres, e as remunerações são estabelecidas a partir das atribuições de cada função. Consideramos que a liderança feminina é essencial para estabelecer igualdade de gênero dentro das suas empresas e, por conseguinte, contribuir para a igualdade na nossa sociedade. Neste sentido, contamos com mulheres em todos os seus níveis hierárquicos. Elas destacam-se como líderes e gerenciadoras de áreas, coordenadoras, sub-gerentes, gerentes, diretoras e sócias”, contou. “Quero que as mulheres voem ainda mais alto, essa é uma das minhas maiores missões, tanto como gestora, quanto ser humano”, continuou Fábia.

Para ela, a participação feminina em papéis de liderança empresariais rompe importantes barreiras. “Até bem pouco tempo, o mundo dos negócios (e nesse cenário posso falar
com mais propriedade sobre o varejo) era um segmento bastante masculino e nós, mulheres, não ocupávamos posições decisivas. Dessa forma, considero que tive um pouco mais de dificuldade – o que me tornou muito mais forte, corajosa e resiliente”, considerou.

OCUPAR NOVOS ESPAÇOS

Fabiana Lopes, diretora-presidente da Neoenergia Cosern – Foto: Divulgação

E não é de hoje que o Rio Grande do Norte é um lugar de pioneirismo para as mulheres. Fabiana Lopes é a primeira mulher a ocupar o cargo de diretora-presidente de uma distribuidora da Neoenergia no Brasil – a Neoenergia Cosern. A conquista, de acordo com ela, foi natural. “Eu nunca tracei objetivos pautados em posição. De vez em quando escuto pessoas dizendo: ‘ah, com 30 anos eu quero ser diretor’. Para mim, isso nunca fez sentido. Eu sempre busquei mais, busquei novos desafios, sempre com o foco de aprender mais e me tornar uma profissional e uma pessoa melhor. E aí as posições foram acontecendo por consequência. À medida que você se expõe, sai da zona de conforto e busca novos desafios, você vai enchendo a mochila de conhecimento, de experiência, e quanto mais pesada a mochila estiver, mais bem preparada você vai estar para qualquer situação”, revelou.

Sobre os desafios de ocupar um cargo de liderança em uma grande empresa, a diretora-presidente da Cosern disse que tenta minimizá-los. “Eu tenho a sorte de fazer parte de um grupo que luta pela inclusão, pela igualdade de gênero, então as adversidades acabam sendo minimizadas nesse sentido. Mas os desafios são os mesmos que outras mulheres enfrentam em qualquer situação. A necessidade de se provar muito mais, de ter que mostrar a capacidade técnica e também emocional de fazer a gestão e saber lidar com situações de crise… e eu tenho levado, cada vez mais, com bastante tranquilidade. Eu tento minimizar essas situações e pontuá-las quando acontecem. E aí a gente vai abrindo espaço para as próximas mulheres que vão ocupar novos espaços, que são de todos nós”, contou.

POTIGUARES EMPREENDEDORAS

Sâmela Gomes, coordenadora da Câmara da Mulher Empreendedora, da Fecomércio – Foto: Divulgação/Fecomércio

As mulheres vêm ocupando seus espaços no mundo dos negócios, mesmo não tendo tantas oportunidades como os homens. Atualmente no Rio Grande do Norte, 35% dos negócios formais são comandados pelo público feminino. O dado é de um estudo publicado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que aponta que, até o final de 2022, 10,1 milhões dos empreendimentos no Brasil eram liderados por elas.

“É de conhecimento amplo que as mulheres, em função de seu percurso histórico na sociedade, têm mais dificuldades de alavancar suas carreiras dentro da perspectiva tradicional de cuidadoras da família e da ordem doméstica. Muito se tem mudado ao longo das últimas décadas, mas ainda se tem um GAP importante: elas possuem maior nível de escolaridade, são dedicadas, mas isso ainda é muito pouco, pois ainda ganham menos e têm maiores índices de desistência em relação aos homens. Apenas 39% delas conseguem evoluir e consolidar seu negócio. Além disso, elas ainda pagam taxas de juros mais altas do que os homens (34,6% a.a. contra 31,1% a.a.), mesmo apresentando uma média de inadimplência menor (3,7% contra 4,2%)”, detalhou Sâmela Gomes, coordenadora da Câmara da Mulher Empreendedora, da Fecomércio.

Sâmela, que também é empreendedora, palestrante e psicóloga de formação, apontou algumas explicações para essa desvantagem que deixa as mulheres com uma participação menor na arena competitiva. São elas: a falta de suporte para dividir as tarefas familiares; a falta de preparação em assuntos como precificação, análise de concorrência, marketing, controle de estoque e compras; e dificuldades para reinvestimento e crescimento de seus negócios por falta de acesso a soluções financeiras.

Para ela, para que a equidade seja garantida, falta apoio social, com “um mercado menos misógino, relações mais horizontalizadas nas famílias, sem sobrecarga (e cobrança) maior sobre as mulheres; políticas públicas e linhas de solução em empresas e no mercado financeiro que olhem efetivamente para a situação feminina no empreendedorismo e no mercado de trabalho – e para ações afirmativas que de fato deem mais condição para que as mulheres tenham espaço no mercado, se desenvolvam e tenham possibilidades de serem mães, mulheres, executivas, empresárias, os papéis que quiserem; (…) e formação adequada – não somente aquela técnica, mas cursos que sejam direcionados para a realidade feminina”.

De acordo com Sâmela Gomes, as mulheres podem e devem sonhar com essa equidade. “Elas devem principalmente acreditar que podem sonhar com isso, que lhes é permitido.
Mas não se pode acreditar que a realidade vai se transformar sem que nada seja feito. É preciso ir à luta, fazer por si e por outras, também. Criar o que eu chamo de “exército lilás” nas minhas mentorias. Mulheres que empreendem por necessidade precisam ter a oportunidade de agir de forma mais racional. É preciso entender qual negócio de fato faz sentido abrir – como está o mercado, qual a expertise se tem, como precificar, quem são os concorrentes, o que fazem e estruturar o plano de negócios”, concluiu.