O comitê brasileiro de seleção da Academia Brasileira de Cinema anunciou nesta sexta-feira, 15, que Deserto Particular, de Aly Muritiba, é o escolhido para representar o Brasil na categoria de melhor filme internacional no Oscar 2022.
O filme foi reconhecido, este ano, com o prêmio do público da mostra paralela Venice Days, do Festival de Veneza. Além disso, está na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece entre 21 de outubro e 3 de novembro, e programado para estrear nas salas de cinema em novembro.
“Foi uma escolha difícil. Ficamos entre alguns filmes, considerando cinematografia, temas. Por fim, chegamos a um consenso. É sempre uma escolha difícil quem representa o Brasil pro mundo. Tivemos excelentes filmes inscritos, com uma representação muito diversa da cinematografia brasileira, de diferentes estados, e todos eles muito engajados. Deserto Particular traz uma tema muito importante: como o amor pode ser um agente de transformação. É disso que o mundo precisa hoje”, disse Leonardo Edde, presidente da comissão.
O longa-metragem concorreu com outras 14 produções. Dentre elas, estavam 7 Prisioneiros, filme da Netflix dirigido por Alexandre Moratto; A Última Floresta, de Luiz Bolognesi; Medida Provisória, de Lázaro Ramos; e Carro Rei, de Renata Pinheiro.
“Foi mesmo uma escolha difícil e por uma razão muito simples: o alto nível dos filmes inscritos. Vários deles poderiam ter sido escolhidos para representar muito bem o Brasil. Como um só é o eleito, tivemos de cortar na própria carne até a maioria convergir ao escolhido. As questões estéticas, a qualidade da narrativa cinematográfica, sempre estiveram à frente das discussões, embora outros aspectos, como temática atual e potencialidade de diálogo com os votantes da Academia de Hollywood não tenham sido desconsiderados. Acredito que, com a escolha de Deserto Particular, conseguimos uma boa síntese entre esses aspectos. O debate entre nós foi em clima de amizade e alto nível de discussão. Tivemos um trabalho complicado mas em excelente companhia”, explica Luiz Zanin Oricchio, crítico de cinema, integrante da comissão e colaborador do Estadão.
Em virtude da pandemia da covid, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood manteve as regras especiais para a elegibilidade do candidato na categoria de Melhor Filme Internacional na 94ª edição do Oscar 2022, ou seja, que tenha sido lançado no país de origem entre 1º de janeiro de 2021 e 31 de dezembro de 2021.
A inscrição do filme escolhido deve ser feita até às 17h (horário de Los Angeles) da segunda-feira, 1º de novembro – corresponde às 22h de Brasília.
O comitê de seleção foi formado pelos cineastas Allan Deberton, Belisário Franca e Felipe Lacerda, os produtores Paula Barreto e Leonardo Edde, a atriz Virginia Cavendish e o crítico de cinema e colaborador do Estadão Luiz Zanin Oricchio.
Sobre ‘Deserto Particular’
O longa-metragem conta a história de Daniel (Antonio Saboia), um policial afastado de suas funções, e de Sara (Pedro Fasanaro), uma mulher transexual no interior do Brasil e que precisa esconder sua verdadeira orientação sexual. Os dois se conhecem pela internet e, mesmo à distância, engatam um romance.
O cenário desse amor retratado em Deserto Particular, porém, muda de figura quando Daniel vai até o encontro de Sara. A partir daí, o amor dos dois é testado em meio aos preconceitos do policial curitibano.
“À medida que o tempo foi passando e o contexto brasileiro foi se transformando nessa coisa aguda e raivosa, o projeto foi ganhando mais sentido”, disse Muritiba em entrevista ao Estadão, em setembro deste ano. “Quando ele surgiu, vinha de um desejo de fazer um filme de encontros e de amor. E, em um tempo de ódio como este que a gente está vivendo, um filme de amor ganha mais relevância, importância e ressonância.”
Brasil no Oscar
Com filmes selecionados por uma comissão desde 1961, o Brasil chegou perto da estatueta dourada de Melhor Filme Internacional em cinco ocasiões – sendo quatro delas com produções indicadas na categoria e uma outra que ficou apenas na lista de pré-indicados.
O primeiro bom resultado veio em 1963. O Pagador de Promessas foi indicado a Melhor Filme Internacional logo após levar para casa a Palma de Ouro, do Festival de Cannes. No entanto, no prêmio da Academia, perdeu para o drama francês Sempre aos Domingos.
Depois disso, veio uma seca de 33 anos, quebrada com a indicação de O Quatrilho, de Fábio Barreto. Mas, outra derrota, agora para o holandês A Excêntrica Família de Antônia.
Em 1998 e em 1999, chegou o melhor momento do Brasil na categoria: indicações seguidas de O Que É Isso, Companheiro? e Central do Brasil, respectivamente. Este último, dirigido por Walter Salles, também conquistou uma indicação na categoria de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro. Ainda assim, todos os indicados não levaram a estatueta dourada.
Já a última vez que o Brasil arranhou uma indicação a Melhor Filme Internacional foi em 2008, quando O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias foi pré-selecionado – quando membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas fazem uma primeira seleção para, depois, escolher apenas cinco. Mas o filme de Cao Hamburger ficou de fora.
Por fim, vale lembrar, também, da história do filme Cidade de Deus na premiação. O longa-metragem de Fernando Meirelles foi selecionado pelo Brasil para concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar de 2003. Só que acabou ficando de fora da lista de indicados. Ainda assim, este não foi o ponto final da história da produção com o Oscar.
Em 2004, Cidade de Deus quebrou o recorde de indicações do Brasil no Oscar. Apareceu nas categorias de Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia. Não levou nenhuma das estatuetas, mas, desde então, não superado por nenhuma outra produção brasileira em número total de indicações no prêmio da Academia.
A seguir, confira todos os filmes já selecionados e os seus respectivos países:
*Albânia: Three Lions Heading to Venice, Jonid Jorgji;
*Alemanha: I’m Your Man, Maria Schrader;
*Armênia: Should the Wind Drop, Nora Martirosyan;
*Áustria: Great Freedom, Sebastian Meise;
*Brasil: Deserto Particular;
*Bulgária: Fear, Ivaylo Hristov;
*Camboja: White Building, Kavich Neang;
*Canadá: Drunken Birds, Ivan Grbovic;
*Colômbia: Memória, Apichatpong Weerasethakul;
*Croácia: Tereza37, Danilo Serbedzja;
*Coreia do Sul: Escape from Mogadishu, Ryoo Seung-wan;
*Equador: Submersible, Alfredo León León;
*Eslováquia: 107 Mothers, Péter Kerekes;
*Eslovênia: Sanremo, Miroslav Mandic;
*Espanha: El Buen Patrón, Fernando Leon de Aranoa;
*Finlândia: Compartment No. 6, Juho Kuosmanen;
*França: Titane, Julia Ducorneau;
*Geórgia: Brighton 4th, Levan Koguashvili;
*Grécia: Digger, Georgis Grigorakis;
*Holanda: Do Not Hesitate, Shariff Korver;
*Hungria: Post Mortem, Péter Bergendy;
*Irlanda: Shelter, Seán Breathnach;
*Israel: Let There Be Morning, Eran Kolirin;
*Japão: Drive My Car, Ryusuke Hamaguchi;
*Kossovo: Hive, Blerta Basholli;
*Macedônia do Norte: Sisterhood, Dina Duma;
*Malawi: Fatsani: A Tale of Survival, Gift Sukez Sukali;
*Malta: Luzzu, Alex Camilleri;
*Marrocos: Casablanca Beats, Nabil Ayouch;
*Peru: Powerful Chief, Henry Vallejo;
*Polônia: Leave no Traces, Jan P. Matuszynski;
*Quirguistão: Shambala, Artykpai Suyundukov;
*República Checa: Zátopek, David Ondrícek;
*Sérvia: Oasis, Ivan Ikic;
*Somália: The Gravedigger’s Wife, Khadar Ahmed;
*Suíça: Olga, Elie Grappe;
*Taiwan: The Falls, Chung Mong-hong;
*Tunísia: Golden Butterfly, Abdelhamid Bouchnak;
*Ucrânia: Bad Roads, Nataliia Vorozhbyt.
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