As projeções de investimentos que se tem para as bacias integrantes da Margem Equatorial são altas e envolvem cifras bilionárias. A região deverá ser alvo de investimentos da ordem de US$ 3,2 bilhões até 2027. Isso apenas por parte da Petrobras
Publicado 29 de abril de 2024 às 19:48
O mercado de exploração e produção de petróleo e gás no Rio Grande do Norte, que já vinha passando por transformações com a entrada de operadores independentes, foi novamente sacudido, mas, dessa vez, por uma enxurrada de ânimo. O anúncio da descoberta da Petrobras de uma reserva de petróleo na Margem Equatorial, em águas ultraprofundas da Bacia Potiguar trouxe perspectivas otimistas para a economia do estado, e sobretudo para as micro e pequenas empresas (MPEs) que atuam nessa cadeia produtiva como fornecedoras e prestadoras de serviços de grandes petrolíferas. A possibilidade de exploração das reservas pode significar o estabelecimento das atividades offshore no estado e um mar de oportunidades de negócios.
A explicação para o entusiasmo, que tomou conta dos potiguares desde o comunicado da Petrobras no início deste mês, pode estar relacionada à área, onde as reservas foram localizadas na Bacia Potiguar. O perímetro do poço Anhangá, onde a petrolífera identificou o acúmulo de hidrocarboneto a mais de 2.196 metros de profundidade, integra a faixa que é considerada pelo mercado a mais nova fronteira exploratória brasileira, uma espécie de “Novo Pré-Sal”, devido ao grande potencial para exploração e produção. A coluna estimada de hidrocarbonetos (petróleo e gás) detectada pela Petrobras é da ordem de 290 metros, sendo 140 metros de reservatório.
A região em questão é a chamada Margem Equatorial, uma extensão de mais de 2,2 mil quilômetros, ao longo da costa, que vai do litoral setentrional do Rio Grande do Norte até o Oiapoque, no Amapá. Além da Bacia Potiguar, a margem equatorial engloba outras bacias, como a Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas e Ceará. A descoberta no poço Anhangá já é a segunda no estado neste ano. Em janeiro, a Petrobras já havia encontrado hidrocarbonetos no poço Pitu Oeste, que fica a cerca de 24 quilômetros do poço Anhangá.
Especialistas calculam que, juntas, as cinco bacias da Margem Equatorial podem conter mais de 30 bilhões de barris de petróleo, representando uma reserva potencial que se estende além do ano de 2050. Por isso, essa região próxima à linha do Equador é estratégica, e promissora, não somente para a indústria energética brasileira, mas também para toda a economia.
As projeções de investimentos que se tem para as bacias integrantes da Margem Equatorial são altas e envolvem cifras bilionárias. A região deverá ser alvo de investimentos da ordem de US$ 3,2 bilhões até 2027. Isso apenas por parte da Petrobras, sem contabilizar os 42 blocos nas bacias Potiguar, Ceará, Barreirinhas, Pará-Maranhão e Foz do Amazonas, arrematados em leilões da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), o que inexoravelmente leva a um impacto positivo para geração de riquezas nesses estados e no Brasil.
A confirmação das operações de exploração dessas reservas de petróleo trará reflexos em toda a cadeia produtiva do setor no estado, e ainda repercussões em outros setores, como turismo e serviços. É o que pensa José Nilo Júnior, o presidente da Redepetro-RN, entidade que reúne as pequenas empresas potiguares que estão dentro da cadeia de valor das grandes companhias do segmento.
“As expectativas são boas, visto a produção terrestre ter sido restabelecida de uma forma paulatina. Através das intervenções dos poços maduros já existentes e da perfuração de novos poços”, afirma o presidente da Redepetro-RN, José Nilo.
Em relação às novas descobertas na Margem Equatorial no Rio Grande do Norte, Nilo explica que a confirmação da exploração ainda depende dos estudos da Petrobras. No entanto, a existência desse petróleo acumulado na costa potiguar já é animadora por si só.
“É cedo para conhecermos o real potencial de produção. A economicidade do projeto é que vai traçar esse novo desafio. Mas, a nossa esperança é que a quantidade de óleo ali existente possa reforçar ainda mais a economia aqui no Rio Grande do Norte contribuindo com a geração de emprego, com a melhoria da renda e oxigenando o setor de serviço do comércio e da indústria. Um alento para a gente é que a companhia já está explorando. E, se depender da tecnologia e da capacidade da Petrobras, nós não temos dúvida de que será um projeto muito exitoso”.
Estudos recentes estimam um incremento de cerca de R$ 65 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) nacional e a criação de 320 mil novos postos de trabalho. Quem aponta as estatísticas é o empresário Gutemberg Dias, que por anos presidiu a Redepetro-RN. Ele entende que a exploração dessas reservas pode trazer benefícios econômicos que vão além do aumento substancial no PIB e da geração de empregos, envolvem a ampliação da arrecadação de impostos e o desenvolvimento de infraestrutura regional.
Gutemberg faz uma analogia às descobertas na Margem Equatorial ocorridas na Guiana e no Suriname. Desde a identificação de petróleo pela Exxon Mobil, na Guiana, em 2015, as reservas do país aumentaram para 11 bilhões de barris. O Suriname também fez descobertas significativas, com reservas aprovadas de 4 bilhões de barris.
A própria Petrobras já opera nessa região, tendo perfurado mais de mil poços na Margem Equatorial, ao investigar todo o potencial dessa faixa na costa setentrional. Além disso, estão sendo aplicadas tecnologias avançadas, como algoritmos de última geração, inteligência de dados e operação remota, para garantir a segurança operacional e minimizar os impactos ambientais. Toda essa conjuntura presume, em um futuro breve, um cenário propício à criação de mais oportunidade de negócios também para empreendimentos de pequeno porte.
Para o diretor superintendente do Sebrae no Rio Grande do Norte, José Ferreira de Melo Neto, o anúncio da recém descoberta é a melhor notícia do ano para o estado, pois mexe com a economia potiguar inteira. “O petróleo já representa, ou já representou, cerca de 50% do PIB da indústria potiguar. Então tem uma posição significativa em termos de geração de royalties e novos negócios”.
A descoberta e, consequentemente, a produção nessa área poderão impulsionar a economia do estado, dada a escala de produção nesse ambiente de águas ultraprofundas. Hoje, a produção offshore representa cerca de 95% de toda a produção nacional. O diretor acredita que o desafio do Sebrae será incluir o pequeno negócio no offshore, com o mesmo êxito que teve no onshore.
“Essa inserção foi resultado de um trabalho conjunto entre Sebrae e a Redepetro-RN, que é a nossa maior referência, em termos de sucesso de um projeto de encadeamento produtivo”, pontua Zeca Melo.
O gestor do projeto de Petróleo & Gás do Sebrae-RN, Robson Matos, também entende que, se firmando todas as expectativas, haverá um mar de oportunidades em diferentes frentes. “Se por um lado a produção em terra, ou seja, onshore, já exerce alto grau de importância na nossa economia, seja, na geração de empregos, em oportunidades para fornecedores da cadeia, além de divisas para o estado em forma de tributos e royalties, a produção em águas profundas deve gerar um impacto muito maior. A ordem de grandeza é outra”, avalia.
Segundo o gestor, existe uma grande possibilidade de se ampliar as oportunidades para toda a cadeia de fornecedores não só do estado, mas de todo o Brasil. “Nesse ínterim, o pequeno negócio, já fornecedor ou potencial fornecedor, poderá se beneficiar com todas essas oportunidades”, garante Robson Matos.
Apesar das oportunidades, existem desafios técnicos e burocráticos, que precisam ser sanados para viabilizar as operações. É o caso do licenciamento ambiental, que, de acordo com os empresários do setor, precisa ser reavaliado, para, assim, aproveitar-se plenamente o potencial das atividades na região. Especialistas dizem que a descoberta de petróleo, no geral, pode trazer oportunidades e desafios para as pequenas empresas, entretanto, o sucesso dependerá da capacidade de adaptação, inovação e articulação com outros atores e setores. Mas, o Rio Grande do Norte está um passo à frente.
Isso porque cumpriu boa parte dos requisitos que esse tipo de indústria requer, como capacitação e estímulo à inovação entre os pequenos negócios, ao criar o ambiente favorável à inserção das empresas locais para complementar as operações de exploração e produção terrestre. Muito disso se deve à atuação do Sebrae e parceiros, que inclusive deu suporte para a formação da Redepetro no estado, atualmente é um exemplo bem sucedido de encadeamento produtivo.
Robson Matos lembra que a instituição possui uma atuação bem consolidada na cadeia de petróleo e gás, prova disso é a atuação estratégica através de polos de referência em óleo e gás tanto para o ambiente onshore, como offshore. “Atuamos como um grande Hub de soluções em qualificação dos fornecedores, soluções em inovação e tecnologia, mercado, políticas públicas, com foco principal de inserir de forma competitiva os fornecedores na cadeia de valor das grandes empresas do setor, notadamente das operadoras, ou seja, quem explora e produz petróleo e gás”, finaliza.
O RN está em uma posição estratégica na indústria de petróleo e gás, com desafios e oportunidades para crescimento contínuo. A Bacia Potiguar continua sendo uma área de grande interesse para o setor de petróleo no Brasil. A entrada de operadores independentes e o foco na produção e exportação são tendências importantes para o setor. A descoberta de petróleo em águas ultraprofundas no Rio Grande do Norte pela Petrobras pode ter várias consequências para o setor, especialmente para pequenas empresas.
A atividade de produção e exploração dos combustíveis fósseis em solo potiguar influencia várias áreas, da infraestrutura, inclusive logística, com atração de novos investimentos, até as relações comerciais do RN no mercado internacional.
Em 2023, o Rio Grande do Norte registrou a maior produção de petróleo e gás em quatro anos. Foram produzidos 508.235 barris de óleo equivalente por dia (boe/d) na média anual, o melhor resultado desde 2019, quando o RN extraiu 571.991 boe/d. No comparativo entre janeiro deste ano e o mesmo mês de 2023, a produtividade média subiu de 37.158 boe/d para 41.846 boe/d.
Os números expressam o novo momento de retomada da atividade no Estado e revelam que a contribuição, em maior escala, das operadoras independentes, que assumiram a infraestrutura de óleo e gás após a venda dos campos terrestres maduros da Petrobras. Após a abertura do mercado, a produção de petróleo realizada por pequenos operadores no RN aumentou 300% em um ano, saltando de 4 mil barris de petróleo equivalente por dia (bpe/d) em 2019 para 16 mil bpe/d em 2020. A 3R Petroleum assumiu a produção nos campos do Rio Grande do Norte após a Petrobras concluir a transição do Polo Potiguar. Essa transação incluiu a venda de 22 áreas de exploração e estruturas como a refinaria Clara Camarão.
Impactos nas exportações – Na última década, o petróleo impactou as relações comerciais do estado ao adentrar a pauta de exportações, entrada motivada por uma conjuntura de fatores convergentes: o aumento do preço do barril de óleo no mercado internacional, o que torna bastante atrativas as exportações dessa commodity, limitações para o refino do óleo mais pesado no país, a volatilidade entre demanda e oferta internacional ocasionada pela crise entre Rússia e Ucrânia e os reflexos da pandemia.
Assim, nos dois últimos anos, assumiu a liderança com o começo de remessas enviadas para Singapura. Em 2022, o Fuel Oil foi principal item da pauta de exportações do estado com um valor de US$ 330,42 milhões – 44,8% do total das vendas externas potiguares. No ano passado, o ritmo se manteve. O estado exportou mais de 452,1 mil toneladas do hidrocarboneto, o que corresponde a US$ 256 milhões negociados internacionalmente.
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