Cotidiano

Cresce a presença de moradores de rua em Natal. Secretarias do município e do estado não sabem quantos ou quem são

Eles ocupam canteiros e calçadas em busca de ajuda e de programas sociais

por: NOVO Notícias

Publicado 7 de agosto de 2021 às 00:05

João Félix, que mora nas ruas de Natal há 10 anos – Foto: Carlos Azevedo/Novo Notícias

Você já deve ter notado o aumento crescente do número de pessoas em situação de rua na capital potiguar. Muitas delas, atingidas em cheio pela crise econômica oriunda da pandemia do coronavírus, que se estabeleceu no Brasil desde o primeiro trimestre do ano passado. Pessoas que, por causa da alta na inflação, das demissões em massa, do aumento no preço dos itens básicos de sobrevivência, não conseguiram manter um teto sobre a própria cabeça e de sua família.

A reportagem do NOVO encontrou uma família que, apesar de viver nas ruas de Natal há muitos anos, relatou detalhes sobre esse aumento na população em situação de rua e a falta de assistência do poder público à comunidade.

Era por volta das 17h30 quando a reportagem encontrou um grupo de pessoas na avenida Prudente de Moraes, em Natal; entre eles, João Félix, que logo ficou curioso com a aproximação da equipe do NOVO, querendo saber se era assistentes sociais para pleitear um alojamento para sua família, formada pela esposa e dois filhos.

Quando foi dito se tratar de uma reportagem, ele quis saber alguma notícia sobre o auxílio emergencial do governo federal ou de alguma outra ajuda governamental que pudesse lhe ajudar.

João, que é natural do município de Caiçara do Norte, nos contou que veio para a capital há 10 anos em busca de emprego para ajudar a família, mas que nunca conseguiu por causa de sua escolaridade. “Eu só estudei até a quinta série, mas eu sei lavar banheiro, varrer. Sei trabalhar com limpeza”, disse ele.

Com as roupas perfeitamente limpas, João deixou claro que faz questão de andar sempre bem vestido e asseado, apesar de sua condição, pois espera que a qualquer momento a oportunidade de trabalho apareça e ele esteja apresentável. “Não é porque moro na rua que sou obrigado a andar sujo, né!?”, afirmou, com um olhar triste mas esperançoso.

João Félix contou que vive nas ruas com a esposa, e que todo dinheiro e doação que conseguem são entregues à cunhada, que cria seus filhos. Ficou nítido, na inquietação de suas mãos, o surgimento do desespero por um lugar para reunir sua família. “Não podemos colocar nossos filhos em risco na rua, pois o Conselho Tutelar pode levar eles”, explicou.

Em seu desabafo, João nos disse que é muito difícil lidar com o preconceito e o julgamento das pessoas. “Elas acham que só porque a gente mora na rua somos usuários de drogas e não é isso. No meu caso é a falta de emprego”, afirmou. Indagado sobre qual o seu sonho naquele momento, ele disse ser conseguir um emprego para juntar sua família novamente e visitar a mãe, que ainda mora em Caiçara do Norte e está com a saúde frágil.

Uma das coisas que mais chamou a atenção da reportagem foi a esperança, o cuidado e o amor que João carrega consigo.

Estado e Município oferecem programas

A Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas) dispõe do Serviço Especializado em Abordagem Social – SEAS, que atende pessoas em situação de rua e realiza ações para identificar condições de risco social e pessoal, como: trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, dentre outras violações desse público.

Já o Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas), pretende, a partir do mês de setembro, fazer um mapeamento das pessoas em situação de rua em nível estadual para, a partir desse diagnóstico, formular ações direcionadas a cada perfil.

A secretária, Íris Oliveira, responsável pela pasta, diz que “o objetivo da pesquisa é identificar o perfil dessa população; quais são as suas características sociais e econômicas, origem territorial, gênero, orientação sexual, escolaridade, quais são os vínculos familiares na rua, condições de saúde”.

Apesar do papel do Estado, quanto à população de rua, ser apenas de cofinanciador para oferta de serviços de alta complexidade, de acordo com a Lei Orgânica de Assistência Social e das normativas que regulamentam o Sistema Único de Assistência Social, o governo estadual assumiu, durante a pandemia, o aluguel social que beneficiou famílias em situação de rua inscritas no Cadastro Único.

Além do aluguel social, o Estado também abriu isenção da taxa do Restaurante Popular e, durante os finais de semana, distribuiu alimentação pronta.

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