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Com escassez de bolsas de sangue, cirurgias eletivas são adiadas no RN

Bolsas do banco de sangue do Hemonorte estão sendo destinadas exclusivamente aos serviços de urgência e emergência

por: NOVO Notícias

Publicado 16 de janeiro de 2023 às 15:30

Período entre final e início de ano costuma ser crítico para os hemocentros de todo o país – Foto: Julia Galvão/NOVO Notícias

A situação do banco de sangue do Hemonorte está tão crítica que as bolsas remanescentes estão sendo destinadas apenas aos serviços de urgência e emergência. Com isso, parte das cirurgias eletivas marcadas para este início de ano foram remarcadas no Rio Grande do Norte. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) não soube informar quantos procedimentos foram adiados, mas confirmou a situação.

“O hemocentro trabalha com um mínimo de bolsas chamado de ‘estoque crítico’. Quando esse patamar é atingido, o sangue só é liberado em casos de urgência e emergência. Entretanto, muito do consumo de sangue é feito em procedimentos eletivos. Cirurgias oncológicas, neurocirurgias, cirurgias cardíacas etc., tanto de adultos quanto de crianças. E, se eu não tiver sangue disponível além do estoque crítico, a cirurgia acaba sendo cancelada. Isso causa um prejuízo no funcionamento da Saúde de um modo geral”, detalhou o diretor do Hemonorte, Rodrigo Villar.

De acordo com o hematologista, o período de fim e começo do ano sempre é crítico para os bancos de sangue não só do RN, mas de todo o país, pois muitas famílias viajam durante as férias escolares e isso acaba comprometendo as doações. “A entrada de sangue nos hemocentros cai bastante nesse período. E o problema é que, todo dia, o Hemonorte continua liberando sangue para todos os hospitais do RN. Nós atendemos 100% de toda rede SUS do estado e ainda fazemos a complementação da rede privada, que não consegue recolher sangue suficiente para todos os hospitais privados. Então temos uma demanda diária de saída muito alta e, nesses dois meses, acabamos tendo, todos os dias, um déficit na entrada de doadores”, explicou.

Rodrigo Villar ressalta que, se 5% da população do RN doasse sangue, seria suficiente – Foto: Julia Galvão

Rodrigo ainda contou que, se apenas 5% da população potiguar doasse sangue regularmente, seria o suficiente para suprir a demanda do estado. No entanto, apenas 2% da população é doadora. “Se houvesse regularidade na doação, a gente não precisaria passar por todo esse problema”, revelou o diretor do Hemonorte.

Uma doação pode beneficiar mais de um paciente, pois, do sangue, são separados diferentes componentes, como hemácias, plaquetas, plasma e outros.

O auxiliar de serviços gerais Flavio Celestino é o doador com o maior número de doações feitas ao Hemonorte. Até hoje, de acordo com o órgão, ele já foi responsável por 226 doações e mais de 14 carteiras de doador foram completamente preenchidas em 32 anos como doador.

“Eu comecei a doar sangue em 1991, e desde então continuo doando e ajudando a salvar vidas. Cada doação é equivalente a quatro vidas salvas. Se todo mundo pudesse ajudar, o estoque sempre estaria cheio. Todos os dias alguém precisa de uma transfusão de sangue, de plaquetas, de plasma ou hemácias. Quem está no leito do hospital não pode esperar. Enquanto eu tiver vida e saúde para doar, eu doarei”, contou.

Quem também faz sua parte é o motorista por aplicativo Antônio Plácido, que doa sangue regularmente há quatro anos. De acordo com ele, a sensação pós-doação é indescritível. “Eu sempre tive vontade de ser doador. Aí depois que fui pela primeira vez, nunca mais deixei de ir. A gente se sente muito bem. É uma sensação muito agradável. E de quatro em quatro meses, sem falta, eu estou doando. Enquanto eu puder doar, eu vou doar. E recomendo que, quem puder, tire um tempinho para ir doar. Você se sente bem e ajuda várias pessoas que precisam daquele sangue”, disse.

Ao contrário de Flávio e Antônio, o vendedor Diogo Alves nunca havia doado sangue. No entanto, após um parente precisar de doação, ele resolveu ajudar. Além disso, a situação o fez refletir. “Surgiu uma situação familiar. Uma pessoa da família precisou de doação, e acendeu um alerta de que, a qualquer momento, a necessidade pode bater à nossa própria porta. Então, a partir de agora, vou virar doador frequente”, revelou.

Para doar sangue, basta ter entre 16 e 69 anos de idade, pesar acima de 50 kg, sentir-se bem, com saúde, e apresentar documento oficial com foto. É necessário não estar em jejum no dia da doação, fazer um repouso de no mínimo seis horas na noite anterior à doação, não ingerir bebida alcoólica nas 12 horas anteriores à doação, evitar fumar por pelo menos duas horas antes e depois de doar e evitar ingerir alimentos gordurosos.

“A gente pede que as pessoas não se esqueçam de doar. Que mesmo nas férias, antes de ir para o fim de semana na praia, compareça ao Hemocentro para fazer sua doação. E espontaneamente, sem que a gente precise pedir para que doem”, finalizou o hematologista Rodrigo Villar.