FRIO FORA DE ÉPOCA
O governo de Mendoza na Argentina declarou estado de emergência climática após duas noites de forte geada na região em que as temperaturas chegaram aos 4,5° negativos no início da semana passada. No Brasil houve ocorrência de neve em Santa Catarina. Segundo os primeiros relatos, cerca de 10.000 hectares de vinhedos foram afetados pela frente fria fora de época. O instituto nacional de viticultura da Argentina ainda não comentou o ocorrido e está avaliando a extensão total dos danos. Vinícolas, no entanto, dão conta que a região de San Carlos, no sul do Vale do Uco, foi a mais afetada, com 90% dos vinhedos da região danificados. A esperança dos produtores é que, por ser a última a entrar na fase da brotação, os vinhedos afetados ainda possam dar flores nos próximos dias se o clima normalizar. Algumas vinícolas e regiões, como é o caso da cidade de Rivadavia onde está localizada a Bodega Uxmal, já anunciou que as festas da vindima dessa safra serão suspensas para que os produtores possam se concentrar em minimizar os prejuízos.
OS DEFEITOS DO VINHO
Apesar de toda a tecnologia atual, os vinhos ainda não estão 100% livres de apresentarem algum defeito. É matemático: quanto mais garrafas são abertas, maior a chance de encontrar alguma com defeito. A chance de um vinho apresentar algum problema é muito baixa. Grandes produtores geralmente trabalham com um controle rigoroso de qualidade em toda a linha. Devemos ainda lembrar que defeito é diferente de “gosto”. Ou seja, aquele vinho que você abriu e não apreciou muito o aroma ou sabor, por não estar acostumado a eles, pode não estar defeituoso. O seu gosto não se alinhar com as características que o vinho apresenta definitiva mente não é um defeito.
Falaremos um pouco sobre os defeitos mais comuns.
Bouchonné
Este provavelmente é o mais famoso defeito do vinho. E curiosamente costuma decorrer de fatores sobre os quais o produtor tem quase nenhum controle. O mais clássico é a rolha de cortiça, daí o nome “bouchonné”, que numa tradução direta significaria “rolhado”,ou seja, com gosto de rolha. Fique atento a aromas de papelão molhado, porão úmido, poeira, mofo e bolor. Se os aromas do vinho forem assim e não se sentir frutas, pode acreditar, seu vinho está bouchonné.
Oxidação
Há vinhos cujos estilos são levemente ou até bastante oxidativos. Estilo à parte, um vinho jovem não deve apresentar uma cor similar à de um muito antigo e tampouco aromas de certa forma madeirizados (o termo vem do estilo dos vinhos da ilha da Madeira), que denotam um processo de oxidação. Isso pode ocorrerem diversas etapas da produção, mas principalmente durante os processos de envelhecimento em barrica ou garrafa. Uma rolha com defeito ou uma armazenagem pouco cuidadosa também podem levar à oxidação. Aqui, o álcool é transformado em aldeído acético, resultando em aromas indesejados.
Redução
Redução é o oposto da oxidação. E isso ocorre durante o processo de vinificação, quando a exposição limitada do vinho ao ar (um ambiente redutivo) leva à formação de compostos voláteis de enxofre. E os aromas de enxofre, convenhamos, não são dos mais agradáveis. A redução não significa necessariamente um defeito de produção do vinho e tende a não ser um problema muito sério, porque os odores geralmente desaparecem durante a aeração do líquido. No entanto, se cheiros ruins não desaparecerem após a aeração, então o vinho tem, sim, algum defeito mais grave. Se você sentir alguns dos aromas descritos abaixo, mas sutilmente, experimente decantar o vinho ou então jogue uma moeda de cobre na taça; o odor deve desaparecer depois disso. Um vinho dito reduzido pode apresentar aromas de fósforo queimado, alho, borracha queimada, repolho cozido e, provavelmente as mais características, ovos podres.
Brett
Brettanomyces, ou Brett, é uma levedura que pode aparecerem diversos momentos da produção de um vinho, mas principalmente nas fases de amadurecimento quando ele é colocado em barricas de carvalho antigas. Ela geralmente surge quando as leveduras Saccharomyces cerevisiae decaem ao final da fermentação e o vinho ainda mantém nutrientes, que levam ao aparecimento desses microrganismos. Então, quando surge, a Brett tende a atacar alguns polifenóis que levam à degradação da cor da bebida e ajudam a liberar compostos que produzem odores não muito agradáveis. A presença de Brett, porém, ainda hoje causa debates. Há quem ligue sua presença à complexidade dos vinhos. Outros rechaçam essa tese completamente. Ou seja, a Brett pode ser tanto um defeito intolerável (quando em altos níveis) como um toque de classe, se os aromas que a caracterizam não forem muito fortes.
Se os aromas do vinho lembrarem couro, pelo de cavalo, estábulo, curral, suor animal ou similares, isso denota que provavelmente há presença de Brett.
Vinho Cozido
Este é um dos defeitos de certa forma mais comuns. E aqui, até mais do que no caso do bouchonné, o produtor é quase sempre “livre de culpa”. O vinho pode ficar cozido, ou madeirizado (como já apontamos antes, o termo faz referência ao estilo oxidado dos vinhos da ilha da Madeira), devido a picos de temperatura no transporte ou mesmo na armazenagem. A exposição prolongada ao calor (como alguns vinhos da ilhada Madeira são propositalmente feitos) “cozinha” o vinho, quase que literalmente. Vinhos guardados em locais inadequados, sem controle de temperatura, expostos ao sol invariavelmente vão ficar “cozidos”. E esse processo de cozimento torna a bebida sonsa ou precocemente oxidada. O vinho é novo, mas não mostra frescor? Parece “cansado”? No paladar as frutas parecem que foram cozidas ou assadas? Há notas de oxidação? A rolha estava deslocada para dentro? Tudo isso pode ser um indicativo de vinho cozido.
Receba notícias em primeira mão pelo Whatsapp
Assine nosso canal no Telegram
Siga o NOVO no Instagram
Siga o NOVO no Twitter
Acompanhe o NOVO no Facebook
Acompanhe o NOVO Notícias no Google Notícias