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Coluna Longe de Sereno – por Élida Mercês – 15 de Agosto

por: NOVO Notícias

Publicado 15 de agosto de 2022 às 17:55

COLUNA LONGE DE SERENO – POR ÉLIDA MERCÊS

Natal, uma cidade linda e abandonada

Foto: Fábio Cortez/Arquivo/Novo

Natal é uma cidade linda. Essa é uma constatação facilmente feita por qualquer pessoa que, morando aqui, não deixe o olhar perder a sensibilidade diante do que a natureza nos apresenta a todo momento. Pois, para aquelas pessoas que chegam à cidade, um passeio de Ponta Negra à Redinha permite a rápida confirmação dessa máxima, apesar dos pesares.

Isso porque quando a realidade se sobrepõe ao que as belezas naturais revelam, o encantamento tende a não ter mais o mesmo efeito. Passear no calçadão de qualquer uma das praias urbanas da cidade, por exemplo, oferece riscos tanto por causa da mobilidade – já que os buracos não se restringem ao solo lunar que se transformou a malha viária de Natal -, como por causa da insegurança. Isso sem falar que, para ir de um lugar a outro é preciso alugar um carro, optar por Uber ou táxi, já que o serviço de transporte público é uma piada de mau gosto que o natalense é obrigado a encarar todos os dias, sem qualquer perspectiva de melhora.

O principal cartão postal da cidade, Ponta Negra, passa por um processo de diminuição da praia por causa do avanço do mar, o que também resulta na erosão do calçadão, causada pelo contato constante com as ondas. Mas, veja, essa é uma realidade agravada desde 2011! De lá para cá, a Prefeitura de Natal discute a necessidade do enrocamento, que é a instalação de uma proteção contra a erosão, e do alargamento artificial da faixa de areia.

Depois de 11 anos de iniciada essa discussão, dois dos pouco mais de três quilômetros da proteção entre a praia e o calçadão foram instalados na praia de Ponta Negra e, de acordo com reportagem da Tribuna do Norte de 11 de agosto passado, a obra de ampliação da faixa de areia só deve começar no próximo ano. Se não chover, porque, em Natal, chuva é sinônimo de cidade parada, imagine obra.

Situações como essa são corriqueiras nesta cidade e levantam questionamentos diversos como o que justifica o município demorar mais de uma década para executar uma obra de três quilômetros que ainda corre o risco de mais atraso devido à falta da documentação requerida para o licenciamento ambiental? O que fazem o prefeito e secretários? Por onde andam os vereadores desta cidade? Cadê os empresários que amargam os prejuízos causados pela deficitária infraestrutura?

As belezas naturais que fazem de Natal uma das cidades mais bonitas deste país não sustentam a competitividade diante de capitais como o Rio de Janeiro que, mesmo com todos os problemas sociais amplamente conhecidos e divulgados, consegue ofertar uma experiência aos turistas e moradores que frequentam as praias urbanas que a capital potiguar está longe de conseguir, por pura falta de gestão e vontade política.

Uma cidade turística como Natal precisa atrair natalenses e visitantes às ruas, à orla, o tempo todo, ao invés de ser cidade dormitório para praias e cidades vizinhas. Mas isso jamais acontecerá enquanto a falta de compromisso, o descaso e o abandono forem orientadores das ações governamentais.

Assim como aconteceu em todo o planeta, Natal luta para superar as consequências econômicas e sociais da maior crise sanitária do século, que é a pandemia da Covid-19. Mais do que nunca, a cidade e as pessoas precisam de cuidado, já.