A década de 1960 é um período da história marcado por intensas revoluções sociais que transformaram a humanidade e é o tema do livro “1968 – O ano que não terminou”, escrito pelo jornalista Zuenir Ventura”. Nele, o escritor apresenta fatos que aconteceram no Brasil e no mundo do início daquela década até a publicação, em 13 de dezembro de 1968, do decreto que instaurou a época mais severa da ditadura militar no Brasil, por meio do Ato Institucional nº 5 (AI-5).
O contexto apresentado por Ventura aborda aspectos políticos, sociais, culturais e religiosos por serem esses elementos que representam o que somos enquanto sociedade. Em 2008, ao publicar “1968 – O que fizemos de nós”, o jornalista revisita esses mesmos elementos para mostrar como estava o mundo na primeira década dos anos dois mil e como a mudança é marca inerente ao desenvolvimento humano, apesar dos sonhos, planos e projetos.
As utopias de todas as matizes ideológicas que influenciaram – e influenciam – o caminhar da sociedade em uma luta diária por direitos, espaços, reconhecimento e respeito às próprias crenças fundamentaram o crescimento dos movimentos sociais, como o feminista. Porém, se essas influências são capazes de orientar a restruturação social, ao mesmo tempo elas são incapazes de impedir a ação daqueles que se opõem, em maior ou menor grau, às mudanças que, a despeito da resistência, aconteceram e seguirão acontecendo.
Exemplo é a chamada revolta de Stonewall, em referência a um bar gay de Nova York, onde, em 28 de junho de 1969, houve um confronto entre a polícia e os frequentadores do lugar, que resultou em manifestações sociais contrárias à violência policial. Os protestos se espalharam pelo mundo e, desde então, o dia 28 de junho é celebrado como o dia do orgulho LGBTQIA+, pois, assim como o AI-5, as leis que criminalizavam as pessoas por causa do gênero tinham como fundamento a intimidação pelo medo e a intolerância contra a discordância às verdades absolutas que, por natureza, rejeitam a mudança.
Apesar de não ter sido o primeiro caso de violência policial contra gays registrado na história, o caso de Stonewall pode ser visto como bem explicou Zuenir Ventura em “1968 – O ano que não terminou”, quando falava sobre o caso do assassinato do estudante Edson Luís pela polícia, no restaurante estudantil Calabouço: “A repercussão de certos acontecimentos políticos nem sempre é proporcional à importância dos atores neles envolvidos.”
Apesar dos movimentos conservadores e reacionários, a violência contra homossexuais foi transformada em crime, bem como o direito às liberdades foi restabelecido no Brasil depois de 21 anos de regime ditatorial instaurado pelo golpe militar de 1964. Esses são dois exemplos de que mesmo que no caminho existam àqueles apegados à crenças consideradas absolutas por alguns, a mudança sempre acontecerá.
Mesmo com tantas lutas e avanços, os discursos reacionários devem, sim, causar espanto, como o do suplente de deputado estadual do RN, recém-empossado, Michael Diniz (Solidariedade). Um homem negro que se declara monarquista, conservador e homofóbico. Além de criminoso, o discurso repetidas vezes pronunciado prega o retorno a uma realidade na qual ele jamais teria direito à voz, porque na monarquia brasileira, o negro era escravizado. E esse é um período para o qual espero não voltar.
Receba notícias em primeira mão pelo Whatsapp
Assine nosso canal no Telegram
Siga o NOVO no Instagram
Siga o NOVO no Twitter
Acompanhe o NOVO no Facebook
Acompanhe o NOVO Notícias no Google Notícias