Daniel Diniz, reitor da UFRN – Foto: Cícero Oliveira
Daniel Diniz: “A suspensão das atividades não pode ser uma opção”
A coluna Daniela Freire conversou com o reitor da UFRN, Daniel Diniz, sobre o corte no orçamento da instituição, anunciado pelo governo federal.
Daniela Freire – Professor, o MEC comunicou há poucos dias um bloqueio de 14,5% nos orçamentos das universidades federais brasileiras e a UFRN foi atingida. Qual o tamanho do estrago para a Comunidade, que já havia sofrido uma redução de mais de R$ 11 milhões nesse mesmo orçamento?
Daniel Diniz – Este bloqueio é motivo de extrema preocupação porque já tínhamos iniciado o ano com corte no orçamento de custeio (manutenção básica), no ano em que retomamos as nossas atividades presenciais de forma integral, com consequente aumento nos contratos de energia elétrica e terceirização de serviços. Fizemos o nosso planejamento para o desenvolvimento das atividades neste ano e agora fomos informados do bloqueio de parte significativa do orçamento, quando restam somente sete meses para finalizar o ano. Isso desestrutura qualquer planejamento. As universidades não têm como absorver este bloqueio e a situação precisa ser revertida com urgência.
Daniela Freire – Caso o Governo não recue nos cortes do orçamento, haverá universidades que poderão suspender as suas atividades ainda este ano? E a UFRN?
Daniel Diniz – A suspensão das atividades nas universidades não pode ser uma opção. Os estudantes já enfrentaram muitas dificuldades com a pandemia e foi feito um grande esforço nas universidades para a retomada das atividades presenciais. Os estudantes seriam muito prejudicados com uma suspensão das atividades. Portanto, todo o nosso esforço deve ser no sentido de reverter o bloqueio com urgência.
Daniela Freire – O ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), ao abordar o assunto, disse que “não é possível buscar o desenvolvimento do país num ambiente de evidente perseguição ao conhecimento”. O senhor avalia da mesma forma essa situação? Concorda com a afirmação dele?
Daniel Diniz – Nenhum país do mundo vai experimentar desenvolvimento socioeconômico sustentável sem uma política séria de educação. Sabemos que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer no que se refere à educação e à produção de conhecimento. A situação da ciência e da educação no país, que já era muito preocupante, foi ainda mais agravada neste período de pandemia. Portanto, o país necessita de planejamento e continuidade de ações. Os repetidos cortes e bloqueios nessas áreas inviabilizam qualquer projeto de nação.
Daniela Freire – A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) também se pronunciou e repudiou o corte. Ela disse que é “inadmissível, incompreensível e injustificável” que o contingenciamento para cumprir teto de gastos tenha sido direcionado à Educação. Como o senhor avalia essa postura do governo federal?
Daniel Diniz – A Andifes publicou uma nota referente ao bloqueio, que representa o sentimento que tivemos na reunião extraordinária do Conselho Pleno nessa segunda-feira, dia 30 de maio. Definimos ações a serem encaminhadas nos próximos dias junto ao executivo federal e ao Congresso Nacional, em parceria com outras entidades representativas da educação e da ciência no país. Precisamos reverter essa situação com urgência.
