História de Eunice Paiva é contada no filma "Eu ainda estou aqui". Foto: Divulgação

História de Eunice Paiva é contada no filma "Eu ainda estou aqui". Foto: Divulgação

Cultura

Premiação Cinema: especialistas potiguares comentam as chances de “Ainda Estou Aqui” no Oscar

Filme nacional concorre nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, pela atuação de Fernanda Torres

por: NOVO Notícias

Publicado 27 de fevereiro de 2025 às 16:19

O Brasil vive a expectativa de um momento marcante para a indústria audiovisual nacional, que estará no palco do principal prêmio do cinema do mundo, o Oscar, com três indicações do filme “Ainda Estou Aqui”, que concorre nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, e Melhor Atriz, pela atuação de Fernanda Torres. A cerimônia de premiação acontece neste domingo (2), no Dolby Theatre, em Hollywood.

O momento é marcante pela inédita tripla indicação. Segundo o especialista em Cinema pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o diretor, roteirista e produtor Pedro Fiúza, o que vivemos agora é representativo por dar maior destaque internacional ao cinema brasileiro.

“Representa uma melhor colocação do cinema nacional no mercado internacional e um reconhecimento maior por parte da sociedade brasileira da importância do nosso cinema. A presença do filme na mídia e no imaginário coletivo nos dá um exemplo do poder do nosso soft power, que pode ser mais explorado e fortalecido. Mas pessoalmente eu sinto que para os profissionais do audiovisual o ganho é mesmo este, indireto, pois esses ganhos ainda precisarão se reverter em investimentos para o nosso setor futuramente. De qualquer forma, fico muito feliz que “Ainda Estou Aqui” tenha chegado onde chegou falando sobre a ditadura, continuando o legado de cinema político que o Brasil construiu na sua história”, destaca Fiúza, que produziu o premiado curta Sideral, que em 2023 figurou na pré-lista de indicados ao Oscar (chamada de “shortlist”) na categoria de “Melhor Curta Metragem de Ficção”.

Com um pensamento semelhante, o jornalista e diretor do festival de cinema Curta Caicó, Raildon Lucena, acredita que figurar em premiações como o Oscar ou Cannes é importante “para reafirmar o papel do Brasil na indústria audiovisual mundial”, mas destaca que “o brasileiro ainda precisa conhecer melhor o que se produz aqui”.

“As salas de cinema, por exemplo, são inundadas por produções enlatadas, enquanto que as produções brasileiras enfrentam dificuldades para encontrar janelas, além dos festivais e mostras”, pontua Lucena, que comenta ainda sobre o bom momento do cinema nacional destacando o sucesso de O Auto da Compadecida 2. Ele acredita que a indústria nacional como um todo precisa olhar para os sucessos deste momento e repensar a logística para que seja possível alcançar resultados ainda melhores.

“É importante repensar o cinema como um todo e entender bem como o filme de Walter Salles conseguiu se posicionar de forma tão positiva. Um dos pontos que vejo é que a campanha do filme vem sendo realizada de uma forma muito certa, desde a escolha do filme até sua inserção em festivais, eventos, programas de TV e daí por diante. Ou seja, a indústria cinematográfica brasileira precisa repensar toda a sua logística, desde produção até distribuição. Dessa forma, é possível enxergar os caminhos para que consiga se posicionar e se consolidar de uma forma bem mais assertiva”, destaca Lucena.

Já Pedro Fiúza analisa a possibilidade de estarmos no melhor momento do cinema nacional a partir de dois parâmetros.

“Se o parâmetro for prêmios internacionais, o melhor momento até hoje é a Palma de Ouro para ‘O Pagador de Promessas’ no Festival de Cannes, em 1962, já que Oscar, até agora, ainda nem ganhamos. Mas, óbvio, é um dos melhores momentos, sobretudo se ganharmos o Oscar de Filme Internacional, onde o prêmio vem para o país e é um ganho mais coletivo”, destaca o especialista em Cinema.

Ele espera que um resultado positivo possa refletir no investimento para a indústria cinematográfica nacional.

“A história do cinema brasileiro é muito rica em vários aspectos, só que ela se dá em ciclos que, quando acabam, a gente esquece o que passou. Hoje nós vivemos talvez o momento de maior distribuição de recursos do cinema nacional, com a Lei Paulo Gustavo e as políticas da ANCINE. Eu espero que elas sejam potencializadas com um possível Oscar para ‘Ainda Estou Aqui’”, completa Pedro Fiúza.

Ao comentar a cerimônia específica deste fim de semana, Raildon Lucena é ousado ao afirmar que “o Brasil tem boas condições de surpreender na premiação do Oscar”.

“Na categoria Filme Internacional, seu principal concorrente “Emilia Perez” se envolveu em tantas polêmicas que, creio eu, pode dificultar que as pessoas que votam na Academia enfrentem dificuldades em votar no filme da Netflix. Nesse contexto, “Ainda estou aqui” se beneficia diretamente, Apesar de ser um filme muito melhor, as 13 indicações de “Emilia Perez” pesavam. Hoje, acho que a onda surfa mais para o filme brasileiro”, explica Lucena comentando as chances da obra nacional na categoria “Melhor Filme Internacional”.

Na categoria Melhor Filme, ele diz que “não é algo fácil, mas é possível”, lembrando que o sistema de eleição depende de uma matemática em que “os votantes nomeiam seus filmes do 1º ao 10º colocado e aí existe uma conta que pode até beneficiar ‘Ainda estou aqui’”, enquanto que na categoria Melhor Atriz, ele destaca que “seria incrível ver Fernanda Torres levar essa estatueta”, mas lembra que Demi Moore (A Substância) e Mikey Madison (Anora) venceram premiações importantes e possuem narrativas que agradam os votantes do Oscar. Contudo, aponta um caminho que seria positivo para a atriz brasileira: “se houver uma divisão de votos entre as duas, quem sabe, Fernanda Torres até saia beneficiada. Agora, independente do resultado, podemos afirmar que só o fato de estar concorrendo já é um grande feito”, conclui Raildon Lucena.