Dados da Junta Comercial do Estado mostram que atividade empresarial segue com números positivos no bairro histórico, no entanto, cenário está sendo puxado atualmente pelo setor de prestação de serviços
Publicado 29 de maio de 2023 às 16:30
Um dos bairros mais tradicionais de Natal, a Cidade Alta, sempre foi conhecida pela intensa atividade comercial que se desenvolve nas avenidas, travessas e ruas do bairro histórico da capital potiguar. No entanto, há alguns anos, os comerciantes da região vêm reclamando da constante redução do movimento, o que tem impactado as vendas e resultado no fechamento de diversos empreendimentos.
Gillefrance Matias, conhecido como Gil, mantém um empreendimento no bairro há anos, e até conseguiu expandir as suas vendas de acessórios para celular abrindo outros dois pontos, mas conta que, no geral, a situação não é boa para os empreendedores do bairro.
“O movimento diminuiu, e diminuiu muito. Aqui na Cidade Alta, de uns anos para cá, acho que caiu em torno de 50% das vendas, principalmente no mercado geral”, conta Gil Matias, que tenta justificar: “isso também é devido aos aluguéis cada vez mais altos, e as pessoas não vêm aguentando. E sem a influência do poder público, a impressão que se tem é que a Cidade Alta está sendo abandonada”.
Apesar de constatada por quem vive diariamente na Cidade Alta, essa realidade é contestada pela Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Norte (Jucern). De acordo com o presidente do órgão, Carlos Augusto Maia, a situação do bairro atualmente não é de diminuição do movimento, mas de uma mudança de perfil da localidade, o que tem afastado alguns empreendimentos e atraído outros.
“Essa questão de diminuição no movimento não reflete o que nós achamos. Estamos constatando exatamente o contrário na Cidade Alta, que tem sido mais pujante a cada ano. Porém, com uma diferença. A Cidade Alta tem passado por uma mudança de perfil. Tradicionalmente ela tinha um perfil comercial, só que nos últimos anos temos percebido uma mudança para o setor de serviços”, explica Carlos Augusto Maia, presidente da Jucern.
O comerciante Gillefrance Matias chega até a concordar que o perfil esteja mudando, mas ele atribui esse movimento a uma tentativa dos empreendedores locais de fazer sobreviver o seu negócio naquele espaço.
“Isso pode fazer sentido (mudança de perfil), mas eu acho que muita gente está mudando para a prestação de serviços. E isso pode ajudar justamente, porque para ter o público de vendas, precisamos de gente na Cidade Alta, e esse povo que vem em busca do serviço é quem também vai comprar”, explica Gillefrance Matias.
De acordo com o gestor da Jucern, essa percepção não é fruto apenas de achismo. Os dados da Junta mostram números que apontam para essa mudança citada por Carlos Augusto Maia para justificar a aparente diminuição do movimento na localidade.
“Essa mudança a gente sentiu aqui nos números da Junta Comercial de forma gritante”, diz Carlos Augusto que completa: “A Cidade não perdeu a característica empresarial. Ela perdeu a característica comercial, mas ganhou uma característica de oferecimento de serviço”.
Os números aos quais o presidente da Jucern se refere estão em um relatório de análise da movimentação empresarial na Cidade Alta no período entre 2019 e 27 de abril de 2023.
O documento mostra que nesse período foram abertas 1.248 empresas no bairro, sendo 752 do setor de serviços, que representa 60,3% de todos os novos empreendimentos do local.
Já o comércio abriu 368 pontos, representando 29,5%, e a indústria representa 10,2% com 128 abertura. Esses números consideram empresas de todos os portes, inclusive os microempreendedores individuais, os conhecidos MEIs.
A Junta também registrou a quantidade de fechamentos nesse período. No total, foram 650 portas fechadas desde 2019 até o fim do mês de abril deste ano. O setor de serviços fechou 341, o comércio 256 e a indústria 53.
Se compararmos o número de aberturas e fechamentos, cerca de 55% dos empreendimentos de prestação de serviços abertos seguem funcionando na Cidade Alta, enquanto apenas 31% das empresas de comércio sobreviveram. Já a indústria mantém pouco mais de 58% das empresas abertas funcionando. No geral, o saldo é de 598 novas empresas no bairro, sendo 411 de serviços, 112 de comércio e 75 indústrias.
A esperança de que o comércio na Cidade Alta volte a aquecer reside também no investimento do poder público no bairro. A Prefeitura de Natal está investindo cerca de R$ 25 milhões na recuperação da rua João Pessoa, que corta a avenida Rio Branco, a mais movimentada da região.
Ruas históricas do bairro passaram por obras de recuperação, com o intuito de ajudar a manter qualidade na mobilidade urbana local.
Outro projeto destacado pelo município foi o de construção de novas calçadas na avenida Rio Branco. Os instrumentos de passeio público passaram por reestruturações e adaptações para promover maior segurança aos pedestres, bem como a instalação de ciclovias e novas áreas de estacionamento.
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