Pollyana foi assassinada no dia 18 de maio com um tiro na nuca dentro da loja de parafusos, que decidiu abrir em sociedade com o companheiro Bruno Resende em abril deste ano
Publicado 12 de junho de 2021 às 06:00
Casas, apartamentos, pontos comerciais, veículos, terrenos e granjas. A disputa por uma herança de aproximadamente R$ 2 milhões pode ter motivado a execução de Pollyana Natalusca Costa de Medeiros, no bairro Nossa Senhora da Apresentação, Zona Norte de Natal. É o que afirmam Polícia Militar, Polícia Civil, amigos e familiares da comerciante de 22 anos.
Pollyana foi assassinada no dia 18 de maio, por volta das 10h, com um tiro na nuca dentro da loja de parafusos, que decidiu abrir em sociedade com o companheiro Bruno Resende em abril deste ano.
Leia também:
Comerciante é assassinada com um tiro na nuca na Zona Norte de Natal
Ela estava trabalhando quando foi surpreendida por uma dupla de criminosos que foi até a loja em uma moto modelo CBX Twister amarela. O garupa rendeu Pollyana nos fundos do estabelecimento e disparou uma única vez. Após o homicídio, os dois fugiram pela Avenida Boa Sorte sem levar nenhum pertence da vítima.
Para o delegado Rysklyft Factore, que está conduzindo as investigações do caso na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), não restam dúvidas de que o crime trata-se de uma execução premeditada.
Além disso, a polícia já concluiu que Pollyana não possuía ligações com práticas ilícitas. Cerca de oito depoimentos já foram colhidos dentro do inquérito sigiloso, que segue em andamento e não tem previsão para ser finalizado.
De acordo com testemunhas ouvidas pela reportagem do Novo, Pollyana estava no centro da disputa por bens e convivia com constantes ameaças de morte.
Pollyana Natalusca é filha biológica da assistente de cozinha Gilvanete Fernandes. Quando tinha um ano de idade, ela foi adotada por Pedro Soares de Medeiros e Márcia Maria da Costa, um casal de comerciantes que construiu patrimônio na cidade de Extremoz, Região Metropolitana de Natal. Márcia, por sua vez, é irmã de Moisés da Costa, pai biológico de Pollyana. Pedro e Márcia faleceram entre 2009 e 2011 vítimas da diabetes e deixaram uma herança a ser dividida entre as três filhas: Paloma Nataluska Costa de Medeiros, Elisângela Medeiros de Coimbra e a adotiva Pollyana.
Apesar de ter morado com os pais adotivos até os 13 anos, Pollyana manteve boa relação com a mãe biológica durante a adolescência e a vida adulta. As duas conversaram pela última vez no dia 17 de maio por telefone, véspera do assassinato.
“Ela falou para mim que estava feliz, que ia assinar os documentos para receber a herança dela. A gente conversou bastante, no dia 11 agora ela faria 23 anos e estávamos combinando de sair, fazer um passeio juntas e não deu tempo”, conta. O último encontro das duas ocorreu em março. “Ela me chamou e disse ‘mainha, tenho uma coisa muito importante para falar com a senhora’ e ela falou para mim que estava sendo ameaçada por causa de dinheiro e eu pedi para ela deixar tudo para lá e viver a vida dela sem precisar disso”, acrescenta.
Depois de um período vivendo com a irmã Paloma, Pollyana decidiu morar sozinha até conhecer o companheiro Bruno, com quem dividia residência em Extremoz. Segundo relatos de amigos e familiares, ela passava por um processo de reaproximação da família biológica.
É o que assegura Pietro Fernandes, irmão de Pollyana e filho de Gilvanete. Ele mora em São Paulo e mantinha contato com a irmã pelas redes sociais.
“A Pollyana era uma pessoa muito reservada, a única pessoa que ela conversava, de se abrir, de contar o que realmente estava acontecendo com ela era a nossa mãe. A nossa mãe era o poço de segredos dela. Também passei por um processo em que me afastei literalmente de muita gente e depois disso, a Pollyana foi uma das pessoas que eu procurei porque senti falta. Passamos um tempo sem se falar, mas quando voltamos era como se fosse a mesma coisa de antes”, detalha Pietro, que trabalha em um restaurante na capital paulista.
Pietro fala ainda sobre a relação com Paloma e Bruno:
O processo de partilha de bens se inicia em 2012, após a morte dos pais adotivos, quando Pollyana tinha 14 anos. Mesmo de longe, em Minas Gerais, a técnica de farmácia hospitalar Elisângela Medeiros garante que acompanha de perto os conflitos familiares que envolvem o processo de divisão da herança deixada pelos pais, da qual também tem direito.
Segundo Elisângela, que firmou acordo para receber uma quantia em dinheiro, o assunto seguiu provocando desentendimentos entre Paloma e Pollyana ao longo dos últimos anos, dentro e fora dos tribunais.
“Eu espero que a Polícia resolva isso porque era uma pessoa jovem, tinha a vida inteira pela frente. Foi uma crueldade muito grande o que fizeram com ela. Não posso falar que é ou não é [por causa da herança], eu sei que elas [Paloma e Pollyana] tiveram uma briga na praça. Eu não vi porque estava aqui, mas fiquei sabendo por terceiros. Elas tinham uma audiência naquela semana no fórum aí de Extremoz”, relata.
De acordo com o registro de uma audiência de conciliação de 2018, Pollyana teria direito a uma casa, um ponto comercial, um terreno e 15 lotes de granja em Extremoz; dois apartamentos na Zona Sul de Natal; e um veículo. Gilvanete conta que Pollyana havia vendido dois imóveis entre fevereiro e março deste ano.
A ideia era usar o dinheiro para investir na loja de parafusos na Zona Norte de Natal, retomar os estudos que iniciou anos atrás na Argentina, cursar administração e morar em um lugar tranquilo.
“Antes de ir para a Argentina, a gente se encontrou no shopping quando eu larguei do serviço e ela disse que estava deixando o namorado porque ele não queria que ela fosse para a Argentina. Ela disse ‘mainha, o estudo para mim é mais importante’ e eu disse que ela estava certa. Estudo é tudo na vida de uma pessoa e a gente quer o melhor para os nossos filhos. Só que eu jamais esperava que a vida da minha filha fosse tirada dessa forma, com um tiro na nuca”, conta.
A reportagem do Novo conversou com Bruno Resende e Paloma Nataluska, mas os dois não quiseram gravar entrevista.
Enquanto aguarda o desfecho das investigações da Polícia Civil, Gilvanete clama por justiça e se apega a boas lembranças da filha, como a última troca de mensagens entre as duas.
“Ela mandou mensagem no meu aniversário, a gente tinha planos, mas infelizmente não deu tempo. Tem sido muito triste, não tem um só dia que eu não pense na minha menina, eu já acordo chorando. Nunca pensei que fosse perder uma filha assim. Não está sendo fácil. Quem fez isso com a minha filha vai pagar. Sei que a gente precisa de dinheiro para sobreviver, mas do jeito que o dinheiro traz coisas boas, traz o dobro de coisas ruins. Tem um ditado que diz que a justiça tarda, mas a justiça de Deus não tarda, chega na hora certa”, diz.
Receba notícias em primeira mão pelo Whatsapp
Assine nosso canal no Telegram
Siga o NOVO no Instagram
Siga o NOVO no Twitter
Acompanhe o NOVO no Facebook
Acompanhe o NOVO Notícias no Google Notícias