Política

Pressionada pelo setor produtivo, Fátima flexibiliza com cenário de covid ainda devastador

por: Foto do autor Daniela Freire

Publicado 12 de maio de 2021 às 13:11

Como era esperado, a governadora Fátima Bezerra não conseguiu ‘segurar’ a pressão do setor produtivo do RN com a cobrança pela flexibilização de comércio e serviços aqui no Estado.

O discurso do setor, especialmente do segmento do Turismo, foi inflado pela notícia da redução em 40% nos óbitos por covid19 no Rio Grande do Norte, divulgada nacionalmente, e acabou mobilizando também parte da opinião pública, através de campanha nas redes sociais pela abertura. A gestora cedeu nesta terça-feira, com novo decreto.

No entanto, os dados da covid19 no RN estão longe de estarem em situação confortável para flexibilizar. Para se ter ideia, hoje estamos tão piores quanto no auge da primeira onda da doença, em meados de 2020.

Dados da própria Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) confirmam que o cenário é, na verdade, devastador. Com nada menos do que 46 óbitos e 3.601 novos casos confirmados somente ontem (11). Além de uma média de mais de 1.300 novos casos na última semana. Em junho do ano passado, a média semanal estava em cerca de 1.400 novos casos.

Para dar mais um dado da realidade preocupante: nesse momento o RN tem 90.7% de ocupação de leitos de UTI covid SUS. E 69.19% de ocupação de leitos clínicos.

Se esses números não são suficientes para manter as medidas mais restritivas o que será? 100% de ocupação novamente? Pessoas morrendo sufocadas por falta de leitos? A curva de óbitos e de casos confirmados continua muito alta.

Fora isso, a população está sendo vacinada de forma muito lenta – graças à atuação do governo federal frente à pandemia – e o RN tem mais de 80 mil pessoas com a segunda dose de vacina atrasada.

Há ainda mais um fato a se acrescentar: a possibilidade real da terceira onda nos atingir em breve e mais potente, segundo levantamentos de especialistas. “Estamos falando de uma terceira onda no Brasil, que pode ser um tsunami”, avisou o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, em entrevista à CNN. “Ainda que tenhamos uma desaceleração, a melhora foi bem mais tênue do que a gente acreditava porque o cenário ficou pior que o esperado”, ele afirmou, alertando para o rejuvenescimento do perfil dos atingidos pela doença, com mais jovens sendo internados e morrendo de Covid-19.

A BBC News Brasil publicou, inclusive, a reportagem “Covid-19: relaxar medidas aumenta risco de terceira onda mais letal, apontam pesquisadores”, no último dia 30 de abril, abordando a chegada de uma terceira onda muito pior do que a segunda. Revelando que a tendência descendente da doença, “embora ainda tímida, serviu de pretexto para que prefeitos e governadores aliviassem algumas das medidas mais restritivas” e que esse movimento é “precipitado e preocupante”, podendo “desperdiçar os poucos avanços conquistados e gerar uma terceira onda ainda mais problemática”.