Uma das coisas que me intrigam sobre Machado de Assis é o fato de que em tudo relacionado a ele, há sempre algum tipo de referência a José de Alencar. A sala Machado de Assis, na Academia Brasileira de Letras, por exemplo, tem um busto enorme de José de Alencar, que também é o patrono da cadeira de Machado de Assis, a número 23, na casa em que foi o primeiro presidente, em 1897, e de onde é o presidente perpétuo.
Muitos atribuem as constantes menções de Machado a Alencar à gratidão pelo fato de o cearense ter sido o padrinho literário do criador de Dom Casmurro. Mas, o que não se diz é que, o tamanho do busto de Alencar, pode, sim, expressar o nível da culpa que Machado carregou durante a vida, pois há quem diga que ele é o pai biológico de Mário de Alencar, escritor e também imortal da Academia Brasileira de Letras na cadeira 21.
Vejam, a fofoca tornou-se pública quando da publicação dos diários pessoais de outro imortal, este da cadeira 20, Humberto de Campos, que tinha o hábito de escrever sobre personalidades políticas e literárias em seus cadernos pessoais. Porém, depois da morte dele e dado o sucesso que os escritos publicados por ele faziam, o conteúdo privado tornou-se público e, entre as anotações, há o registro de que Machado de Assis seria o pai biológico do filho de José de Alencar, Mário de Alencar, que tinha em Machado, uma referência literária.
Busto de Machado de Assis no salão nobre da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro
Se a paternidade de Mário de Alencar e a culpa de Machado de Assis nunca poderão ser desvendadas, fica a reflexão sobre o que bem disse Lucas, o evangelista, no capítulo 8, versículo 17: “Pois não há nada secreto que um dia não apareça, nada oculto que não deva ser conhecido e vir à plena luz.” Sempre haverá aquele que sabe e vê o que fazemos. Sempre.
E se não bastasse essa preocupação – moral -, há outra reflexão sobre o que acontece com as coisas que guardamos depois que morremos, isso vale para o físico e para o digital. Os diários de Humberto de Campos, chamados de pessoais não sem razão, não são o único exemplo desse tipo de publicação póstuma. “Carta o pai”, de Kakfa, também é exemplo da lista infinita de material publicizado à revelia do autor. Mas, e os seus escritos? As coisas que você guarda achando que ninguém nunca vai saber? Já pensou o que acontecerá com elas quando você não mais estiver aqui e as consequências que resultarão do que for revelado?
Como se vê, a inexistência da privacidade não é algo questionável somente nos dias de hoje, o ponto é que na chamada “Era do Compartilhamento” ela ganhou novas proporções.
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