Esporte

Manipulação de resultados no RN: Apuração sem cortina de fumaça

Investigação sobre suposto esquema de manipulação de resultados no futebol potiguar não pode servir como bengala

Publicado 25 de maio de 2021 às 12:45


Imagem: Reprodução

As apostas esportivas são febre no mundo todo. Tem gente que aposta por diversão, como forma de renda extra ou ainda principal fonte de receita. Até aí, nada demais. Da corrida de cachorro a jogo de xadrez, apostar no ambiente virtual é algo regulamentado e aqui no Brasil não é crime.

Mas a bandidagem se adapta a tudo e o dinheiro cega. No futebol brasileiro há vários atletas e clubes que mal se sustentam. Nas apostas esportivas, encontraram a saída para esse dinheiro “fácil”.

Aqui no RN, isso não é novo e não começou em 2021. Nos últimos anos, a suspeita de manipulação de resultados fez parte de outras edições do nosso estadual, seja profissional ou de categorias de base.

Quem não lembra de jogos suspeitos do Palmeira no sub-19?; ou ainda do Potiguar de Mossoró, onde há fartos relatos e acusações contra a gestão passada?; Teve ainda o Força e Luz em um dos acessos; e as de agora, em 2021, com as denúncias no ASSU? Nada provado, é verdade, mas muito suspeito em todos os casos.

Ontem, a FNF se manifestou oficialmente pela primeira vez sobre o assunto. Encaminhou notificação ao TJD e ao MP/RN para que seja investigada tais suspeitas. O estopim, claro, é a repercussão sobre o Globo.

Faz muito bem. Agora, a régua que baliza esse movimento para investigar as supostas manipulações dentro dos clubes deve ter a mesma medida PARA TODOS e ser ATEMPORAL. Claro que não se pode entrar numa máquina do tempo e investigar jogos de 2020 e 2019 (seria muito bom), mas grande parte dos personagens são os mesmos.

Dirigentes, gerentes/diretores de futebol, atletas e pessoas conhecidas nos bastidores do futebol do RN fazem um looping. Tem sido um “oito”, onde pulam de clube em clube, numa espécie de rodízio. Uma simples pesquisa na internet comprova o que eu estou dizendo. As suspeitas em torno do esquema migram dependendo da temporada.


Na mitologia grega, a Hidra tinha corpo de dragão e cabeças de serpente. Imagem: Ruth Tay

Se me perguntassem se os esquemas terão fim, eu diria que acho muito difícil. Torço para que consigam, mas a coisa parece ser uma hidra que quando se corta uma cabeça, crescem duas em seu lugar.

Só chamo atenção para que a investigação deve ser AMPLA e não apenas motivada por rusgas pessoais ou benefício imediato de time X ou Y. Escrevo isso porque o torcedor não é cego. Estamos vendo um Globo na final do estadual e isso nas ENTRELINHAS faz muita gente torcer o nariz. O América vive um drama, podendo ficar sem o título estadual e ainda sem brasileiro em 2022, o que é mais grave ainda. Temos o Santa Cruz de Natal quebrando barreiras e com chances de chegar a final da Copa RN. O ABC antes do clássico estava com chances mínimas de brigar pelo turno (precisa vencer o ASSU para garantir vaga na final).

Caso haja alguma investigação em tempo recorde que na punição imediata venha qualquer benefício a um clube via “tapetão”, não vai pegar bem. Não se pode tirar a peneira do sol por conveniência.

Havendo comprovação real de todas essas suspeitas, e com participação conivente dos clubes, que sejam sim punidos, mas ainda mais as pessoas envolvidas no esquema. Punindo e afastando os “CPFs” dos protagonistas dos esquemas trará mais benefício do que apenas punir o CNPJ do clube/instituição.

O já ressabiado futebol do RN não merece mais esse capítulo.

Dizem que a justiça é cega, mas acredito que ela enxerga no escuro.