Economia

Indústria eólica prevê boom de geração de empregos

Movimento no setor também acelera corrida por qualificação. Apenas no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis mais de 2 mil pessoas passam por qualificação e expectativa é de crescimento

Publicado 26 de junho de 2021 às 00:27

Em Areia Branca, município a 330 Km de Natal, capital do Rio Grande do Norte, uma empresa multinacional do setor de energia procura profissionais com ensino superior completo em Eletromecânica, Eletroeletrônica, Eletrotécnica, Mecânica ou Eletrônica, para atuar como gerente de projetos eólicos.

Na mesma rede social, em meio a mais de 70 vagas postadas para diferentes empresas do setor na última semana, ela também avisa que precisa de gente formada em biologia, engenharia ambiental, florestal ou agronomia para atuar como analista ambiental sênior.

Os anúncios na rede e em páginas de empresas de recrutamento especializadas em ocupações técnicas e de média e alta gerência não param.

O Rio Grande do Norte é o estado que mais produz energia eólica no Brasil e, segundo analistas do setor, é um dos que deverão ver oportunidades desse tipo se multiplicarem com força nos próximos anos, com uma corrida por qualificação na área também em ritmo acelerado.

Um levantamento do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), principal referência do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) no Brasil para formação de mão de obra para o setor, ajuda a medir esse movimento.

Desde 2014, 2.272 pessoas foram matriculadas em cursos voltados à energia eólica apenas no Centro, com um recorde de 764 registrado em 2020.

Nos primeiros cinco meses de 2021, aproximadamente 600 novos alunos e alunas ingressaram.

O número corresponde a 76% do total registrado durante todo o ano passado e, segundo estimativas do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis, poderá mais do que dobrar até dezembro.

A lista de cursos envolve medição e análise de dados anemométricos (dados coletados por instrumentos que medem a direção e a velocidade dos ventos), segurança no trabalho, Especialização Técnica em Energia Eólica, Legislação Ambiental Aplicada à Implantação de Parques Eólicos, Normalização e Desempenho de Aerogeradores, Prospecção de Áreas para Implantação de Projetos Eólicos, Sistemas Elétricos Aplicados a Parques Eólicos e Tecnologia em Geração Eólica, por exemplo.

 

Oportunidades aquecidas

As oportunidades de trabalho na área surgem sem parar no horizonte. Um estudo divulgado em maio pela GIZ no Brasil, empresa do governo alemão que executa projetos de cooperação técnica focados em desenvolvimento sustentável, mostra que o setor de energia eólica deverá gerar mais de 1 milhão de empregos no país até 2038, com maior concentração na região Nordeste.

Cerca de 85% dos empregos em Operação e Manutenção dos parques, o chamado setor de O&M, são previstos para a região, que também espera participação crescente na fabricação das máquinas, ficando com 60% das oportunidades de trabalho estimadas nesse campo.

 

Técnicos

Laboratórios do ISI-ER – Foto: Divulgação/SENAI

Em um debate online promovido pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) para lançamento do estudo e outras discussões sobre o mercado nessa indústria, Jorge Luís  Boeira, responsável pelo levantamento da GIZ por meio da Cognitio Consultoria, observou que “90% da mão de obra no setor é de pessoas com formação técnica, entre técnicos de nível médio e engenheiros, e que isso é muito importante” para quem tem interesse em abocanhar uma vaga.

“O Nordeste vai concentrar a maior parte dos empregos em todos os segmentos, de fabricação, montagem à manutenção dos parques. Isso me parece bastante importante do ponto de vista do planejamento de políticas públicas, de capacitação de mão de obra”, disse ele, apontando a localização do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), referência do SENAI no Brasil para pesquisa, desenvolvimento, inovação para o setor – como estratégica.

O horizonte, observou ele, mostra muito trabalho a caminho para a qualificação nos próximos anos. Um trabalho que já anda a todo vapor no Rio Grande do Norte e em outros estados com grande concentração de investimentos.

 

Qualificação

No caso do RN, o ISI-ER e o CTGAS-ER dividem um prédio de mais de 20 mil metros quadrados em Natal e sentem o ritmo acelerado do setor dentro das salas de aula e também dos laboratórios, observou Rodrigo Mello, diretor das duas unidades, durante o debate sobre a geração de empregos na indústria.

“Os dados do estudo apresentados pela GIZ”, segundo ele, “ratificam o que a gente enxerga no dia a dia, com um interesse crescente por cursos técnicos, cursos de aperfeiçoamento e as especializações muito voltadas a quem já está no mercado, mas também aos que querem entrar nele”.

E não são só os homens que estão de olho em uma fatia desse mercado.

A indústria, majoritariamente masculina, tem recebido cada vez mais mulheres – com crescimento na busca por qualificação, inclusive, acima da média.

 

Mulheres em campo

Os dados do CTGAS mostram que 258 mulheres foram capacitadas para trabalhar no setor eólico entre os anos 2015 – o primeiro a registrar ingressantes do sexo feminino em sala de aula – e 2020, quando o número alcançou o recorde da série histórica.

Tecnologia em geração eólica, Especialização Técnica em Energia Eólica e Legislação Ambiental Aplicada à Implantação de Parques Eólicos são, segundo o levantamento, as áreas que mais têm atraído esse público.

“Em todos os cursos e ocupações da cadeia de eletricidade têm havido um natural incremento da presença feminina”, diz o diretor do CTGAS-ER e do ISI-ER, Rodrigo Mello.

“No curso de mecânica, de instalador, no curso técnico, na especialização e em alguns bem sui generis, de formação de rede, do eletricista de rede percebemos claramente esse movimento. Já fizemos uma turma aqui com 50% de mulheres, e que saíram daqui com 100% de empregabilidade”, acrescenta.

Atualmente, a participação das mulheres em meio à mão de obra do setor gira em torno de 20%, segundo o estudo da GIZ.

Os pesquisadores que realizaram o trabalho também concluem que esse batalhão tende ao crescimento. “Diz-se no mercado que atualmente já são 3 mulheres para cada 10 empregos no setor”, afirmam.