Dirigido por Antonia Prado, o programa coloca em cena depoimentos verdadeiros de oito personagens de diferentes idades, religiões e regiões do País, que revelam suas trajetórias de vida e reforçam a necessidade premente de se discutir abertamente a discriminação de pessoas do universo LGBTQIA+
Publicado 28 de junho de 2021 às 09:10
Nesta segunda-feira, 28 de junho, é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBT, data que contará com inúmeras manifestações, em diversas áreas, que servem para dar maior visibilidade para as pessoas que são LGBTQIA+. A sigla, por sinal, reúne as diversas orientações sexuais e de identidades de gênero – lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou travestis, queers, intersexuais, assexuais e outras variações. O sentido desse dia é de reflexão e coloca foco nessa parcela da população que se faz cada vez mais presente e atuante socialmente. Para contribuir com esse debate necessário e urgente, a Globo exibe nesta noite, após a novela Império, o especial Falas de Orgulho, e depois poderá ser vista, em 30 de junho, no GNT, e, em 2 de julho, no Canal Brasil.
Dirigido por Antonia Prado, o programa coloca em cena depoimentos verdadeiros de oito personagens de diferentes idades, religiões e regiões do País, que revelam suas trajetórias de vida e reforçam a necessidade premente de se discutir abertamente a discriminação de pessoas do universo LGBTQIA+. Cada participante contribui com seu depoimento, expondo dessa forma a luta individual por garantias e reconhecimento, além de fortalecer o movimento e mostrar que, apesar das dores dessa trajetória, a força interior e dos que os cercam, como família e amigos, faz toda a diferença para a superação.
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Entre os personagens, Ângela Fontes, lésbica, de 69 anos, carrega uma história singular. Educada em uma família católica do interior do Estado de São Paulo, ela só conseguiu revelar sua sexualidade já entrando na fase madura da vida. Antes disso, precisou manter segredo sobre seus amores e relacionamentos com outras mulheres. Mas um fato inusitado a fez tomar coragem para abrir o coração e revelar ao mundo o que só conseguia dizer a si mesma. Ao ver o casal da ficção formado por Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro, na novela Babilônia, sentiu que esse era um exemplo de representação e que estava na hora de se assumir. “Não foi algo repentino ou que aconteceu de uma só vez, mas ver duas idosas lésbicas na TV me deu uma força muito grande para falar para alguns amigos que eu vivia nessa situação, dentro do armário”, conta Ângela, que faz planos de se casar com Willman, sua companheira há 26 anos.
Outra personagem é Ariadne Ribeiro, 40 anos, que, bem diferente de Ângela, logo na infância já manifestava sua identidade de gênero feminina. Segundo ela conta, desde bem cedo sua mãe já se preocupava com ela, por ter um “comportamento divergente ao sexo que me foi atribuído ao nascer desde dois aninhos de idade”.
E a sua compreensão sobre si mesma e o fato de ser uma pessoa trans veio na adolescência, aos 13 anos. “Eu vivia em bibliotecas e sebos buscando algum livro que pudesse me explicar essa representatividade que, no início dos anos 1990, começava a tomar forma na pele de Roberta Close e, mais tarde, na imagem forte da Maite Schneider, que davam contorno ao sonho que busquei sem recursos através do SUS”, relata Ariadne, que é assessora de apoio comunitário do Unaids – programa da ONU para criar soluções no combate à aids. “Fui uma das primeiras mulheres trans a realizar a cirurgia pelo Hospital das Clínicas em São Paulo.”
Outra história é a de Fábio, de 30 anos, que conquistou seu espaço ao assumir a persona drag queen Sasha Zimmer. Assim, depois de passar por momentos de sofrimento e falta de empatia da família e das pessoas a sua volta, ele passou a brilhar nesse universo drag. Para ele, mesmo ter passado por períodos extremamente difíceis, o importante é acreditar na humanidade, pois é nossa única solução para um mundo melhor. “Parece frase piegas, mas é o que devemos mesmo buscar e acreditar“, diz.
E o momento de contar para a família e amigos sobre ser gay foi, segundo ele avalia, somente a confirmação do que todos pensavam dele. “E foi libertador, foi leve e nada mudou“, conta o orgulhoso rapaz, acrescentando que, mesmo se assumindo aos 12 anos, continuou com sua vida de adolescente. “Meus amigos me aceitaram e me acolheram de forma única.” Mas o mesmo não foi possível com sua família, que precisou de um tempo maior para entendê-lo. “Foi um processo longo e doloroso, que percorreu uns oito anos até que eu realmente fosse aceito como eu sou.”
Refletindo a respeito dessa luta, Fábio acredita que é preciso que haja agora uma reeducação, para que se entenda que o acolhimento é importante para fazer parar toda essa dor por simplesmente “ser como somos”. “Amor deve ser livre, toda forma de amor deve valer!”, diz, de forma categórica. Nessa linha, Ariadne acredita que “mostrar para a sociedade o nosso orgulho de ser quem somos sem nunca mais precisarmos nos esconder”. E Ângela deseja “que as pessoas se deixem viver livremente e deixem o amor entrar”.
Os outros participantes do Falas de Orgulho são Richard Alcântara, 24 anos, jovem transgênero de Caçapava, interior de São Paulo, que sonha ser bombeiro civil; Geisa Garibaldi, 37 anos, criadora da empresa Concreto Rosa, de serviços de mão de obra feminina; Mário Leony, 46 anos, que é delegado da Polícia Civil há 20 anos em Aracaju; Maycon Douglas, 27 anos, jovem bissexual que trabalha na praia de São Conrado e mora na Rocinha; e Mariana Ferreira, 35 anos, médica bissexual, que tem um consultório particular e trabalha como ginecologista do SUS.
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