Uma das coisas que a pandemia da Covid-19 intensificou foi a obsessão das pessoas por falar sobre coisas que não compreendem como se fossem verdades absolutas e, quando essas são derrubadas por argumentos elaborados com base em fontes de referência, a postura é de desqualificar para aniquilar. Essa é a mesma tática que está sendo utilizada na discussão a respeito das pesquisas eleitorais deste ano.
Apesar de o período crítico da pandemia ter possibilitado o contato com cientistas dispostos a explicar didaticamente como agem vírus e vacinas, bem como a influência do comportamento social nessa dinâmica, não foram poucos os que optaram por desacreditar pesquisadores com base em achismos.
A incapacidade de estabelecer diálogo com aqueles que notoriamente sabem mais parece ferir a alma dos que preferem desqualificar o conhecimento construído ao longo dos anos, o que, mesmo sem querer, expõe a ignorância dos que não se deram esse trabalho.
Para os donos da verdade, aceitar que alguém sabe mais, sobre qualquer coisa – mesmo que o cada um de nós é capaz de saber seja ínfimo em relação ao que desconhecemos – é algo inadmissível. Portanto, o caminho é aniquilar aquele que sabe o que não sei.
Essa postura é inaceitável em uma sociedade dita civilizada e menos ainda quando o assunto é a ciência, como nos casos da Covid-19 e das pesquisas eleitorais. Nas duas situações, o fundamento é a análise de um recorte da realidade que possibilite a identificação de tendências e possíveis respostas aos problemas em questão, mas, sobretudo, são práticas baseadas em métodos, tentativas, erros, acertos e resiliência para recomeçar quantas vezes forem necessárias.
Os donos da verdade rechaçam a resiliência por acreditar que já sabem tudo e, como tal, basta desqualificar quem questiona os dogmas defendidos porque nem mesmo pensar em mudança é permitido. Para esses, é preciso conservar as coisas como estão e se para isso for preciso reagir com violência, assim será. Não há diálogo.
Apesar desse movimento, o combate à Covid-19 a partir do conhecimento científico prevaleceu em todo o mundo, mas não sem deixar um rastro de dor e morte que, como outros momentos trágicos da humanidade, não será esquecido.
O mesmo acontece em relação às pesquisas eleitorais que, ao apresentar um retrato de determinado momento, reforçam a importância do conhecimento científico para que sejam realizadas e analisadas. Esses são trabalhos baseados na Estatística e nas Ciências Sociais e requerem conhecimentos específicos para serem estruturadas e compreendidas para minimizar a ocorrência de erros.
As pesquisas deste ano, além dos problemas estatísticos, como a base de dados desatualizada para a definição das amostras, expõem aspectos que cientistas políticos são capazes de explicar, como a definição de votos de indecisos e a antecipação do segundo turno, como observou o ex-presidente do IBGE e pesquisador da FGV, Roberto Olinto, em entrevistas sobre as diferenças entre os resultados das pesquisas e o registrado nas urnas.
Olinto destacou que “o censo é o melhor e mais fiel retrato da composição demográfica do País”, mas o fato de a edição de 2010 ser a última disponível faz diferença na definição das amostras das pesquisas porque está desatualizada.
Os grandes institutos têm método, experiência e conhecimento acumulado, por isso, seguem como referência na elaboração dos retratos do momento e, assim como as vacinas contra a Covid-19, não serão aniquilados.
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