Educação

Comportamento é escolha

Ser um agressor ou aquele que dialoga é resultado de escolhas feitas todos os dias, a começar pela definição das fontes de dados consumidos

Publicado 26 de setembro de 2022 às 19:24

Diante de mais um caso de agressão a um pesquisador do Instituto de Pesquisa Datafolha, no interior de São Paulo, na semana passada, recordo a participação em duas pesquisas eleitorais, por telefone, no último mês, sendo uma sobre intenção de voto no âmbito nacional e a segunda com foco no Rio Grande do Norte.

Apesar de terem sido as primeiras participações em pesquisas desta natureza, ambas foram sem importância, provavelmente, porque os institutos, dos quais nem mesmo os nomes são lembrados, assim o são. Se os levantamentos fossem do Datafolha ou do Ipec (antigo Ibope), isso dificilmente aconteceria.

O trabalho desenvolvido pelo Datafolha e pelo Ipec é considerado pelo agregador de pesquisa do Estadão como o padrão de referência à análise de levantamentos realizados por outros institutos. A classificação como “padrão ouro” é justificada pela metodologia adotada e o consequente desempenho observado a partir da proximidade entre o retrato de determinando momento feito pela pesquisa com a realidade registrada em eleições passadas.

E, se para leigos, como eu, prezado leitor, a metodologia pode parecer aquele detalhe técnico e chato de compreender e que, portanto, pode ser desprezado, lamento informar, mas esse é o detalhe que sustenta a posição diferenciada desses institutos.

Para realizar os levantamentos, Datafolha e Ipec têm como base os dados do Tribunal Superior Eleitoral, Censo e/ou da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), sendo esses dois levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados que orientam o recorte que dá a representatividade da amostra populacional observada. Esta é uma demonstração da importância de conhecer e compreender a fonte dos dados da análise de uma determinada situação que, neste caso, é a preferência do eleitor brasileiro.

É a metodologia do levantamento e da análise dos dados que dá ao Datafolha e ao Ipec a relevância que os dois outros institutos, de nomes ignorados, não têm, porque opinião qualquer um pode ter, mas a capacidade de transformá-la em argumentos embasados em fontes capazes de sustentar um discurso, é para poucos. Não porque seja impossível, não, não. Mas é que a formação de um embasamento que permita a leitura da realidade por caminhos que fogem dos achismos dá trabalho, só que é esse trabalho que garante aos que se dispõem a fazê-lo se tornar padrão de referência.

Seguir por um caminho ou outro é escolha, como qualquer comportamento, e não com pesquisa feita de qualquer jeito que a credibilidade será auferida. Menos ainda por autoafirmação, pois credibilidade não é nem nunca será autodeterminada, mas sim o reconhecimento conquistado a partir da observação de terceiros, que abre portas e fortalece relações.

Aos que não tem e não querem se dar ao trabalho de construir uma trajetória que os diferencie, resta agir como o agressor do interior de São Paulo que, por incapacidade de argumentação para debater ideias, ainda crê ser possível ganhar alguma coisa no grito.

Ser um agressor ou aquele que dialoga é resultado de escolhas feitas todos os dias, a começar pela definição das fontes de dados consumidos, pois, como nas pesquisas, esses dados orientam as nossas percepções e ações. Confiar que é possível se tornar relevante na área de escolha optando por fontes questionáveis segue a mesma lógica dos ratos que se mantêm correndo em rodas de exercícios em busca da saída: pura ilusão.