Até o dia 2 de outubro de 2022, quando acontecem as eleições gerais no Brasil, uma enxurrada de pesquisas eleitorais, realizadas pelos mais variados institutos, seguirá dominando o noticiário e levantando questionamentos sobre a confiabilidade dos dados apresentados.
A dificuldade de acompanhar e analisar os levantamentos pode ser observado, por exemplo, em reportagem publicada na edição desta segunda-feira, 30 de maio de 2022, de O Estadão, na qual é apresentado um agregador de pesquisa. A ferramenta disponibilizada no site do jornal, segundo a reportagem, visa ajudar o eleitor a compreender o cenário mais provável da disputa eleitoral.
O Estadão justifica a iniciativa lembrando que, somente na semana passada, duas pesquisas sobre a corrida presidencial demonstraram que um dos 14 institutos de pesquisa considerados revelou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera com 21 pontos percentuais de vantagem. Outro afirma que a vantagem é de 8%. Somente no mês de maio foram divulgadas 12 pesquisas com resultados tão díspares que mais confundem do que esclarecem. O agregador de pesquisas, afirma os idealizadores da iniciativa, busca minimizar os vieses das metodologias que influenciam de forma significativa os resultados. A coleta de dados feita pelos institutos é feita face a face; sondagem por telefones; ou das duas formas.
De acordo com Darrell Huff, autor de “Como mentir com estatística”, que teve primeira edição em 1954, ao eleitor cabe manter o ceticismo diante das pesquisas porque sempre há uma chance real de os dados serem tendenciosos, pois “médias, relações, tendências e gráficos nem sempre são o que parecem”.
Huff explica que, se por um lado, os métodos e os termos estatísticos são fundamentais para a observação de tendências sociais e econômicas, por outro, aqueles que se colocam como interpretes nem sempre estão embasados do conhecimento e honestidade necessários à essa leitura.
Porém, o problema das pesquisas, observa Huff, é anterior a isso e começa na definição da amostra do universo a ser analisado, pois é ela a base do resultado do estudo, transformado em verdade que ganha status de convicção, mesmo que as conclusões sejam reduzidas demais.
A solução, diz o autor, está na definição de uma amostra representativa e aleatória, o que não é nada fácil e nem barata de ser coletada, mas garantiria a segurança desse tipo de estudo.
Para nós, leigos, a dica de Huff é analisar em profundidade aquilo que lemos e ouvimos para evitar aceitar como verdade diversas coisas que estão distante da realidade, mesmo que o resultado da pesquisa não tenha sido deliberadamente distorcido. A questão, diz ele, é que a possibilidade de definição de uma amostra tendenciosa resulta em uma manipulação automática.
Ao leitor da pesquisa cabe observar a metodologia dos organizadores que, se forem respeitáveis, travarão sistemática batalha contra fontes tendenciosas e, ao mesmo tempo, questionar a parcialidade das pesquisas de opinião, pois elas tendem a definir como perfil analisado “a pessoa que tem mais dinheiro, mais educação, mais informação e desembaraço, melhor aparência, comportamento mais convencional e hábitos mais estabelecidos do que a medida da população que ela é escolhida para representar.” Mas esse perfil representa a totalidade, por exemplo, da população brasileira?
Por isso, questionar, sempre!
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