Há dias tento puxar na memória quando foi a primeira vez que participei de um projeto de um projeto formal de leitura compartilhada, sem êxito. Esse resgate tem a ver com a apreciação das histórias em ordem cronológica porque, desta forma, entramos em contato com os elementos que permitem a compreensão da evolução dos fatos que hoje conhecemos.
Isso vale para livros, filmes, projetos e, especialmente, pessoas, porque é muito fácil tirar conclusões precipitadas sobre situações que desconhecemos em seus respectivos contextos e complexidade, apenas por causa de um recorte que nos chega às mãos. Por isso, também, o apreço à psicanálise.
Mas, voltando ao tema desse texto, as leituras compartilhadas permitem tanto a identificação de perspectivas diversas sobre o mesmo assunto, como ajudam a manter a continuidade da leitura, especialmente dos calhamaços que, pelo próprio tamanho, tendem a causar temor e preguiça em qualquer leitor. Foi assim que aconteceu a leitura das mais de 1,2 mil páginas da trilogia “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien; as quase 1,2 mil páginas de “David Copperfield”, de Charles Dickens, o inglês do coração; e as mais de 600 páginas de “Steve Jobs”, por Walter Isaacson.
Atualmente, participo de dois projetos de leituras: o “Joyce Cronológico”, sob a coordenação de Jorge Witt, no qual a proposta é ler a obra de James Joyce em ordem cronológica; e o “Desenvolvendo o hábito da leitura”, criado em 2019 para ler aqueles livros que todo estudante de Administração tem que ler .
Um aspecto que a vida de leitora já me mostrou é que, para mim, os romances clássicos são os que mais funcionam. O fato de ser detalhista pode estar entre as causas, pois, apesar de os contos, como os que compõem “Dublinenses”, de Joyce, serem, por natureza estrutural, menores e, em tese, mais fáceis de serem consumidos dada a agilidade na leitura, tendo a largar, facilmente as coletâneas de contos.
Porém, a possibilidade que o compromisso de discutir toda semana um dos textos com um grupo totalmente heterogêneo oferece, auxilia na manutenção da regularidade dessa leitura, que tem se mostrado de uma riqueza sem precedentes.
Vale destacar que, apesar de os calhamaços ofertarem ao leitor um conjunto de detalhes impossível de ser inserido em um conto, isso não significa que as poucas páginas sejam incapazes ofertar ao leitor efeito similar. Ao contrário disso, é surpreendente o que um escritor como James Joyce é capaz de fazer nos escritos que precedem a grande obra dele, que é “Ulysses”, ao apresentar textos de quarto, cinco páginas, recheados de camadas com complexidade similar à inerente subjetividade humana.
Essa subjetividade, lida por seres naturalmente complexos e que interpretam as sentenças a partir das respectivas experiências de vida resulta em significados, por vezes, inimagináveis a uma única pessoa, porque a riqueza da leitura associada ao compartilhamento está em aprender com o outro aquilo que sozinhos teríamos que experimentar em infinitas vidas e, mesmo assim, dificilmente conheceríamos.
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