Construir expectativas para o futuro, mesmo que em curto prazo, é arriscado. A política sempre muda muito rápido e, mais rápido que ela, é o humor do povo. Fato que a famosa lua de mel entre político eleito e povo tem ficado cada vez mais curta, e a população espera efeitos rápidos e imediatos de melhora em sua vida dos governantes eleitos ou, no mínimo, que o clima fique melhor.
Não fico com o pessimismo dos bolsonaristas e nem com o otimismo dos Lulistas. Uma leitura mais pragmática é necessária para tentar observar o cenário sem as lentes da paixão ideológica. Normalmente, os vencedores contam a história da batalha e, nesse sentido, fico com a vitória da Democracia. Ela estava em risco? Sim, a instabilidade e a tensão entre as instituições eram altas e, ao meu ver, deve ser esse um grande foco do governo Lula, reestabelecer um ambiente de estabilidade para podermos partir para uma reconstrução e unidade nacional.
Lula terá grandes desafios e precisará vencer a desconfiança de parte da sociedade e também de algumas instituições, como por exemplo, o mercado. Esperava-se que a frente ampla que o elegeu fosse mais presente na montagem dos ministérios, ter protagonismo, mas Lula mostra ter o foco em manter o controle sobre as pastas essenciais para o governo. Ele tem dado o recado claro que vai ditar os rumos do próximo governo, o que de fato é legítimo.
O fato positivo, diante da tensão criada pelo governo de Bolsonaro, é restabelecer o fortalecimento das instituições no Brasil. Elas serão fundamentais também no próximo governo, talvez com outro papel, mas serão o “check and balances” que o País pode precisar diante de um governo que sempre precisa do parlamento para governar.
Imagino uma oposição forte, porém também responsável. O bolsonarismo, a depender das ações de Lula, tende a sair mais do extremo e do discurso de guerra, e se deslocar mais para a direita. Sem essa movimentação correrá o risco de ficar reduzido a uma pequena parcela da população. A nuvem tá passando e alguns políticos desse extremo já entenderam o recado.
O que precisamos para 2023 é previsibilidade e estabilidade. O governo Lula parece, ainda que em menor ritmo, sinalizar com estas bases essenciais para que o Brasil retome sua naturalidade. O campo do ódio e da guerra cultural precisa dar lugar a políticas públicas eficientes. Na estabilidade do campo fiscal Lula precisa dar uma resposta rápida já no próximo ano, e estabelecer uma âncora fiscal que seja praticável por este e demais governos.
Por que acreditar no futuro? A resposta é simples. Precisamos avançar enquanto nação, o Brasil tem se especializado em perder oportunidades. Hoje o mundo olha para nossa nação com enormes expectativas. O cenário externo pode ser ruim? Sim, mas o Brasil é o motor da transição energética e devemos atrair muitos investimentos.
Thiago Medeiros, sociólogo
