A anomalia é monitorada por cientistas da agência espacial americana (Nasa), interessados nas mudanças na força do campo magnético na área que abrange o Oceano Atlântico Sul e o sul da América do Sul por servirem como um indicador do que está acontecendo dentro do globo e com o campo magnético do planeta.
Publicado 29 de maio de 2024 às 17:00
Cientistas conhecem e estudam há décadas a Anomalia Magnética do Atlântico Sul (Amas), área onde o magnetismo da Terra é mais fraco e que compreende o Sul e Sudeste do Brasil. Resultado do movimento do ferro no núcleo interno do planeta, o campo magnético da Terra funciona como um escudo para partículas cósmicas.
Assim, o impacto da falha é basicamente um menor poder de filtragem da radiação solar e de partículas do espaço, mas que acabam sendo absorvidas pela atmosfera. A Amas também pode causar interferências em satélites que orbitam a Terra e na propagação de ondas de rádio, mas não oferece atualmente riscos para a saúde humana nem tem outros impactos visíveis.
“Apesar de o termo ‘anomalia’ sugerir algo preocupante, ele refere-se apenas a diferenças em intensidade e orientação do campo magnético terrestre, quando comparado a outras regiões do planeta”, afirma o Observatório Nacional.
A anomalia é monitorada por cientistas da agência espacial americana (Nasa), interessados nas mudanças na força do campo magnético na área que abrange o Oceano Atlântico Sul e o sul da América do Sul por servirem como um indicador do que está acontecendo dentro do globo e com o campo magnético do planeta.
Eles também estão atentos ao fato de que a radiação de partículas nessa região pode desativar computadores de bordo e interferir na coleta de dados dos satélites que passam por ela. A existência da Amas tem sido usada para produzir desinformação sobre a tragédia no Rio Grande do Sul, em publicações que conectam o campo magnético mais fraco às chuvas extremas que atingiram o Estado em maio.
A empresa gaúcha de meteorologia MetSul publicou nota dizendo não haver base científica para a afirmação. O comunicado afirma que as precipitações intensas no Estado “têm origem exclusivamente no clima com componentes de variabilidade natural, como El Niño até meados deste mês, e mudanças climáticas que favoreceram bloqueio atmosférico persistente e superaquecimento do Atlântico”.
A Nasa também já destacou não haver evidências de que variações no campo magnético da Terra contribuam para a mudança do clima.
Segundo o mais recente Relatório Anual do Estado do Campo Geomagnético, divulgado em janeiro de 2024 pela agência americana Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), a intensidade do campo na Amas equivale a cerca de um terço da intensidade próxima aos polos magnéticos.
O relatório também afirma que a Anomalia Magnética do Atlântico Sul está se aprofundando e aumentou 7% nos últimos quatro anos, de 2020 a 2024, o que exacerba seus efeitos sobre os satélites e a propagação do rádio. Segundo a Nasa, a falha está se expandindo em direção ao oeste e se dividindo.
A agência espacial americana afirma que a região de força mínima do campo se dividiu em dois lóbulos, o que coloca desafios adicionais para as missões de satélites. Estudo publicado pela revista científica Nature em 2023 também desmentiu que a Amas possa colocar riscos para a aviação civil, crença que se tornou amplamente difundida mas sem base científica.
O Observatório Nacional afirma ainda contribuir com dados da AMAS. Os dados do Brasil são particularmente valiosos porque abrangem esta área onde há poucos dados magnéticos disponíveis. “Com isso, o Brasil se encontra em posição mundialmente privilegiada para desenvolver estudos em geomagnetismo e avaliar a anomalia”, continua o órgão.
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