De outubro de 2002 a maio de 2021, o Brasil registrou 11 ataques a escolas, com 28 mortes. De fevereiro de 2022 a março de 2023, já foram 12 episódios do tipo, com 11 mortes. A contagem inclui o mais recente atentado promovido em uma creche em Blumenau e revela que em cerca de um ano, o País teve uma aceleração no número de ataques a escolas.
Para dar uma ideia melhor desse processo basta comparar: de 2002 a 2021, o ano que mais registrou ataques foi 2019, com três atentados. Somente em 2022, foram 9 ações violentas do tipo. O alerta para a aceleração desse tipo de crime foi feito pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Escolas de Artes e Ciências e Humanidades, da Universidade Federal de São Paulo.
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O projeto de pesquisa é realizado desde 2016 pelo Grupo de Politicas Públicas para o Acesso à Informação (GPoPAI) com sede na USP Leste. E investiga “a polarização do debate político por meio de pesquisas de opinião e da análise do conteúdo político de abrangência nacional que circula nas quatro maiores plataformas de redes sociais: Instagram, Twitter, YouTube e Facebook”.
Semana passada, logo após o ataque que vitimou a professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, o MDPM publicou uma nota, assinada pela pesquisadora Michele Prado, na qual ela afirma que o ataque da semana passada “é o cume de um processo de aceleração deste tipo de episódio que levou a 10 ataques a escolas nos últimos 13 meses”. E enfatiza o papel da imprensa, das escalas e das famílias para evitar que essa mais tragédias do tipo.
O ataque na creche em Blumenau, de acordo com a polícia, trata-se de um fato isolado. Mas as recomendações se aplicam mesmo assim pelo fato de se tratar de um ataque a escola. As observações da nota do MDPM se referem ao ataque que teve como autor um garoto de 13 anos armado com uma faca.
A pesquisadora explica que o “episódio de extremismo violento está, novamente, relacionado às subculturas extremistas que atuam como hubs de radicalização online para o extremismo violento e que atingem um público com faixa etária cada vez mais jovem (a partir dos 10 anos).””
Michele Prado explica que o agressor “habitava uma subcultura online letal que glorifica atentados terroristas, massacres, atiradores em massa, ideação suicida e violência extrema e que dissemina
teses pseudocientíficas de psicologia e biologia evolutiva para justificar ordem sociais hierarquizadas por gênero/ etnia/ religião, conteúdos com revisionismo histórico, apologia ao nazismo, conteúdos de aceleracionismo militante de extrema direita, instruções para fabricação de armas e bombas caseiras e um profundo niilismo e misantropia.”
Segundo levantamento do MDPM, ao menos seis agressores responsáveis por ataques do tipo exibiam conexão direta com essa subcultura. “O agressor da última segunda-feira anunciou previamente em sua rede social na plataforma Twitter a ideação do ataque, sendo encorajado por outros usuários que também participam desta subcultura”, afirmou.
A nota explica ainda que “nessa subcultura online há um extenso conteúdo com misoginia, racismo, antissemitismo e uma vasta constelação de queixas e supremacismos de vários espectros (racial/ gênero/ político e religioso). É possível notar também a fetichização de doenças mentais (“schizopostings”), o incentivo à automutilação e ao suicídio e a violência extrema contra animais.”
Nas redes sociais, o extremismo corre solto
Levantamento feito pelo Núcleo Jornalismo, site de jornalismo profissional especializado na cobertura das redes sociais, revelou que de dezembro de 2022 a janeiro de 2023, as hashtags relacionadas à essa subcultura online extremista “são abundantes e circulam livremente”. O levantamento encontrou aproximadamente 344 milhões de visualizações relativas aos conteúdos de extremismo violento online produzidos por usuários dessa subcultura”.
Mais recentemente, outra reportagem do Núcleo revelou que na última semana centenas posts exaltaram explicitamente massacres escolares e glorificam seus executores. O Twitter não respondeu sobre isso.
O Núcleo Jor também mostrou que “após Elon Musk ter assumido o controle da empresa e demitido cerca de 75% de seus funcionários, eliminando grande parte de sua equipe de moderação, esse tipo de conteúdo extremista de apologia a crimes contra crianças e funcionários de escolas tem circulado livremente na rede social”.
Imprensa adota novos protocolos
Diante da aceleração no número de ataques a escolas no Brasil, a imprensa está adotando novos protocolos para a cobertura deste tipo de episódio. A principal mudança é não divulgar imagens, nome, vídeos e manifestos do autor dos crimes.
“O papel da imprensa para mitigar danos durante o período que sucede o episódio de
extremismo violento em ambiente escolar é fundamental. A abordagem na cobertura do
evento pode auxiliar a minimizar o “efeito contágio”, explica Michele Prado.
E alerta: “A janela para potenciais imitadores é de aproximadamente 13 dias. Quanto mais as coberturas da mídia disseminam fotos do agressor, manifestos, conversas e imagens do atentado, maior será a amplificação do ato e consequentemente a ampliação do “status intragrupo” do agressor — o que faz crescer também o potencial de imitadores”.
Também devem ser evitadas queixas do agressor. Os especialistas argumentam que quando a mídia difunde essas queixas – que fazem parte dessa subcultura – “outros indivíduos podem se identificar com elas e passar a acreditar que o extremismo violento foi uma resposta adequada”.
Seguindo essas recomendações, o NOVO Notícias também adotou esse protocolo para a cobertura de ataques a escolas.
Sinais de que algo pode não estar bem
Na intenção de prevenir ataques a escolas, a nota do Monitor do Debate Político no Meio Digital, ressalta a importância de pais e escolas estarem atentos a sinais que podem indicar tendência de radicalização. Confira:
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