Cotidiano

Adoções crescem 15% durante pandemia no RN

Rio Grande do Norte tem hoje 192 crianças acolhidas, 53 disponíveis para adoção e 26 em processo de adoção

por: NOVO Notícias

Publicado 22 de maio de 2021 às 00:33

Andreia Mendes – Foto: Cedida

Quando a chamada de vídeo conectou naquela tarde de quarta-feira, encontrei uma mulher sorridente e ávida em contar sobre sua história e de seus filhos, principalmente. A professora Andreia Mendes me falou sobre o processo de adoção de seus filhos e deixou já deixou claro: “Foi a realização de um projeto de vida, eu já sabia que ia ser mãe por adoção”.

Aos 43 anos Andreia disse que muitas pessoas se chocavam quando ela dizia que não desejava ter uma gravidez biológica. “Nunca me enxerguei grávida, e isso sempre incomodou as pessoas. Minha família não se deu por infertilidade, eu escolhi esperar pela cegonha da adoção”, disse ela com um sorriso orgulhoso e iluminado no rosto.

Decidida a ser mãe por adoção, a professora deu entrada no processo na Vara da Infância e Juventude da Comarca de Parnamirim ainda em 2015. Ela e o esposo optaram por uma menina de três anos de idade e qualquer etnia, mas por causa da demora eles decidiram ampliar o perfil, dessa vez escolheram duas meninas e ampliaram a idade.

Contudo, em 2019, após uma visita a casa abrigo, onde ficam as crianças e adolescentes acolhidas, o casal decidiu mudar o perfil mais uma vez. Decidiram que uma menina com irmão ou irmã talvez fosse mais rápido. E foi, logo o telefone tocou com a informação de que as crianças no perfil que eles desejavam estavam disponíveis, mas eles ainda eram o terceiro casal da fila de adoção.

“Éramos os terceiros, mas já começamos a sonhar com nossos filhos e a nos preparar”, disse Andreia.

O mais interessante da história da Andreia, é que ela e o marido já haviam conhecido os filhos, durante aquela visita a casa abrigo em 2019, e não sabiam. Além disso, foram os próprios filhos que os inspiraram a ampliar o perfil de ação pela terceira vez.

“Quando chegamos lá para nos apresentarmos como os candidatos a pais, eles não lembravam da gente, mas a conexão foi instantânea”, lembrou ela com olhos brilhando. A ligação entre eles foi tão grande, que o processo de convivência que chega a durar até 90 dias, para eles durou apenas uma semana.

Andreia falou o quão importante foram as pesquisas, livros, estudos e artigos que consultou sobre o assunto durante todo o processo. “É muito importante nos informarmos para não fazermos uma escolha errada, pois não é uma ação que afeta apenas a nós”, observou.

“Esquecem que numa maternidade biológica não podemos escolher. O processo de adoção foi um período de desconstrução”

A ansiedade da espera

Enquanto isso, a servidora pública, contadora, artesã e, acima de tudo, mãe, Allane Contreras, espera ansiosamente a chegada de seus filhos. Allane, o esposo e sua filha, Ana, nos receberam em sua casa para dizer como estão os sentimentos enquanto aguardam a chegada dos novos membros da família.

Allane e o esposo deram início no processo de adoção em 2019, no ano seguinte mudaram o perfil e menos de dois anos depois receberam a tão aguardada ligação. “A gente sempre soube que queríamos adotar, então quando o telefone do amor tocou foi um sonho realizado”, diz ela.

A família já conheceu os dois meninos que agora são parte da família e aguardam sua chegada para o mês de julho quando, provavelmente, todo o processo jurídico será concluído.

Rede de apoio

O Grupo de Apoio a Adoção Acalanto Natal, com mais de 25 anos de atuação na capital potiguar, faz um trabalho de acolhimento social com as crianças e adolescentes a serem adotados e com as famílias adotantes.

A advogada e voluntária do grupo, Elaine Mendonça, diz que o trabalho feito pela Acalanto e por outros grupos tem como objetivo poupar a família e as crianças de qualquer sofrimento. “A nossa equipe faz um trabalho muito sério onde ninguém pode errar. Queremos ver famílias felizes, porque acreditamos que adoção é cuidado. É amor”, afirma ela.

Entrevista

O Rio Grande do Norte tem hoje 192 crianças acolhidas, 53 disponíveis para adoção e 26 em processo de adoção. A legislação brasileira define critérios para que pessoas interessadas adotem.

O primeiro passo para quem quer adotar é procurar a Vara de Infância e Juventude (VIJ) da sua região.

Conversamos com o Juiz José Dantas de Paiva, responsável pela 2ª Vara de Família Central da comarca de Natal.

Juiz José Dantas de Paiva – Foto: Secom/TJRN

– NOVO: Como está o panorama da adoção no RN, aumentou o número de adoções no período de pandemia, o processo ficou mais lento?

JD: Aqui em Natal e no Estado tivemos mais adoções no período de isolamento social que em outros momentos. Nesse período, por exemplo, tivemos 30 adoções. Os processos não pararam, estamos trabalhando de forma remota.

Uma técnica da Vara comentou que uma das causa desse aumento é que o Programa da Coordenadoria da Infância e Juventude, o Atitude Legal, que trabalha com mães que querem entregar os filhos para adoção ou gestantes que não têm condições de criar o filho, fez com que houvesse uma divulgação maior. Por isso, em vez de diminuir aumentou o número de pedidos.

Mesmo durante o isolamento as famílias continuam com o desejo de adoção, as crianças continuam precisando de um lar e a Justiça continua promovendo esses momentos.

– NOVO: Como funciona o processo de adoção aqui no RN?

JD: A pessoa que deseja adotar, o primeiro passo após tomar a decisão é procurar a Vara da Infância para fazer o cadastro de interesse e a pré-inscrição, levando documentos e indicando o perfil da criança que eles desejam. O juiz o inclui no curso de formação e depois do curso a família é incluída, definitivamente, no cadastro e fica aguardando a criança aparecer.

– NOVO: Por que existem tantas famílias na fila de adoção e, mesmo assim, muitas crianças não são adotadas rapidamente?

JD: Muitas pessoas questionam a morosidade da Justiça, nesse processo que envolve crianças e adolescentes há um detalhe que torna o processo mais demorado, é quando tomamos conhecimentos de uma criança que sofre maus tratos e entramos com o processo de destituição familiar para tirar, definitivamente e legal, a criança dessa família. E se a família for contra, tem o direito a todo um processo de defesa e se não tiver condições de pagar um advogado o juiz tem que nomear um pra ele.

– NOVO: O que os candidatos a pais adotivos precisam saber antes de acolher uma criança?

JD: Eles precisam saber de tudo. O processo de adoção deve ser o mais transparente possível. Eles têm que saber da origem da criança, o porquê da criança ter sido tirada da família natural. O pretendente a adoção tem acesso a todas essas informações.

– NOVO: Os jovens disponíveis à adoção também têm exigências do perfil de família que querem?

JD: Podem e devem. Quando é adolescente, com mais de 12 anos, necessariamente eles têm que ser ouvidos e dizer sim ou não. A equipe técnica o prepara, apresenta o perfil do pretendente e ouve. Para só então fazer a aproximação, depois disso ainda tem o estágio de convivência para poder ser feito o processo.

– NOVO: Qual a diferença entre apadrinhamento e adoção?

JD: Adoção é como se fosse a criação de um novo vínculo familiar de forma permanente e irrevogável, uma família que substitui a família de origem. Depois da adoção feita não aparece sequer dizendo que é filho adotivo, nós cancelamos o registro anterior dele e fazemos um novo registro constando os novos pais e ele como filho.

Já o apadrinhamento pode ser afetivo, econômico, social, é aquele compromisso que alguém que não quer adotar quer ter com uma criança ou adolescente que está em situação de acolhimento institucional. Alguém queria ajudar de alguma forma, assumir os estudos de um adolescente que está acolhido, ir visitar etc. E quando o acolhido completa 18 anos esse vínculo pode ser rompido ou não, esse vínculo não tem prazo determinado.

– NOVO: O que o interessado em ser padrinho tem que fazer?

JD: Ele deve procurar a Vara da Família sua comarca.

“Adoção requer como condição essencial amor. Pensar que como a mulher tem o desejo de ser mãe. Acima de tudo aquela criança deseja e merece ter uma mãe”

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