O curta “A Edição do Nordeste”, do diretor potiguar Pedro Fiuza, poderá ser visto pela primeira vez presencialmente no 25º Festival do Rio, que acontece entre os dias 5 a 15 de outubro em vários espaços do Rio de Janeiro.
O festival é um dos mais importantes do cinema brasileiro e exibirá 90 filmes nesta edição, entre longas e curtas-metragens. “A Edição do Nordeste” participa na Mostra Première Brasil Retratos.
Esta é a segunda vez que a Casa da Praia Filmes está no Festival do Rio. Em 2022, o curta “Big Bang”, do diretor Carlos Segundo, distribuído na América Latina pela empresa produtora, também integrou a programação do evento. “A Edição do Nordeste” tem produção e distribuição pela Casa da Praia.
O filme é, segundo o diretor e roteirista Pedro Fiuza, “uma homenagem ao cinema brasileiro e também um manifesto”. O curta-metragem é uma colagem de cenas de 28 longas e curtas brasileiros, de 1938 a 1980, que retratam o Nordeste sob diferentes aspectos.
Pedro Fiuza explica que os filmes selecionados “representam não só uma memória da cinematografia nacional, mas um momento importante da história do país, pois o cinema, com sua força simbólica e imagética, ajudou a inventar uma região inteira”.
A produção se propõe a ser uma jornada visual aberta, provocadora e propositiva sobre como o cinema brasileiro foi essencial na construção de uma identidade nordestina. O filme pôde ser visto virtualmente em junho no CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto e foi muito bem acolhido pela crítica.
Segundo o crítico Pablo Villaça, “em apenas 20 minutos, Fiuza cria ligações inspiradas entre filmes para abordar temas como o cangaço, a seca, a fome, a emigração para o Sudeste e as dificuldades encontradas pelos que viajaram para o sul em busca de melhores condições”.
Já o crítico Chico Fireman afirmou que “‘A Edição do Nordeste’ justapõe cenas e diálogos das mais variadas obras que mostram como a região foi historicamente reduzida a um combo de ideias, personagens e imagens que impuseram um imaginário folclórico e rudimentar que virou ‘verdade’ para o resto do Brasil”.
André Rossi, em sua análise, diz que o filme é “um exercício instigante, que desnuda as intenções por trás de uma construção cultural absolutamente enviesada”.
A aproximação de Fiuza com o tema se deve a sua participação no Grupo Carmin e no espetáculo teatral “A Invenção do Nordeste”, também inspirado no estudo de Durval. A peça do grupo, idealizada e dirigida por Quitéria Kelly e escrita por Henrique Fontes e Pablo Capistrano, conquistou o Prêmio Shell de Melhor Dramaturgia e motivou o cineasta a se debruçar sobre a filmografia apresentada no livro e o papel do cinema na construção do imaginário sobre o Nordeste.
O curta é resultado de pesquisa realizada pelo diretor, em conjunto com Matteus Cardoso, Henrique Fontes e Pablo Capistrano, num intenso processo de decupagens, roteirização e montagem ao longo dos últimos seis anos com base no livro “A Invenção do Nordeste e outras artes” do professor e historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior.
Alguns dos títulos presentes são parte fundamental da história do cinema nacional, como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” de Glauber Rocha, “O Pagador de Promessas” de Anselmo Duarte, “Os Fuzis” de Ruy Guerra, “Maioria Absoluta” de Leon Hirszman, “O Cangaceiro” de Lima Barreto, “Menino de Engenho” de Walter Lima Jr., “Vidas Secas” de Nelson Pereira dos Santos e o potiguar “Boi de Prata” de Augusto Ribeiro Jr.
O filme “A Edição do Nordeste”, selecionado no edital Cine Natal 2018, da Prefeitura do Natal, foi produzido por Fiuza e Mariana Hardi e montado por Aristeu Araújo, com Desenho de Som e Mixagem de Luiz Lepchak e Design Gráfico de Vítor Bezerra. Conta ainda com uma canção da cantora potiguar Juliana Linhares e com a parceria da Cinemateca Brasileira e apoio do Canal Brasil, entre outros acervos, no que diz respeito às imagens de arquivo.
Pedro Fiuza é natalense. Estudou Rádio & TV na UFRN, onde também especializou-se em Cinema. É sócio-fundador da Casa da Praia Filmes, empresa potiguar responsável pela produção de “Sideral”, concorrente à Palma de Ouro em 2021 no 74º Festival de Cannes e integrante da “shortlist” do Oscar 2023, e pela distribuição na América Latina de “Big Bang”, premiado com o Leopardo de Ouro de Melhor Curta de Autor, no 75º Festival de Locarno, ambos filmes dirigidos por Carlos Segundo.
Fiuza é diretor e roteirista de “Vai Melhorar”, indicado na edição do primeiro semestre do 20º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em 2021. Trabalha ainda no teatro assinando dramaturgia audiovisual, principalmente pelo Grupo Carmin.
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