O transporte público no município de Natal é um dos serviços mais reclamados pela população há anos. Com o passar do tempo, o número de viagens e linhas vem diminuindo, deixando cada vez mais os habitantes sem transporte na principal cidade do Rio Grande do Norte.
Analisando dados dos meses de novembro, considerando que foi o último de 2022 com informações divulgadas pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de Natal (STTU), a quantidade de viagens feitas na cidade diminuiu 56% desde 2018, o que significa 100.238 viagens a menos feitas na cidade de Natal.
Vendo as condições cada vez piores, a população natalense espera que o poder público faça a licitação do transporte. No entanto, o processo vem sendo adiado há anos, o que acaba deixando o município e os usuários reféns do serviço oferecido.
De acordo com o professor da UFRN Rubens Ramos, mestre em Engenharia de Transportes e doutor em Engenharia de Produção, a Prefeitura do Natal tem, neste ano de 2023, as melhores condições para realizar a licitação do transporte público. Para ele, o cenário atual é o melhor porque nos últimos anos, com as adaptações que a população passou durante a pandemia e os avanços tecnológicos, a demanda por locomoção está cada vez menor.
“O sistema de 2023 não é mais o de 2019. A pandemia acelerou o avanço tecnológico em várias atividades. Enfim, o telefone, o digital, avançou muito, e isso vai tirando, aos poucos, as pessoas das ruas”, diz Rubens Ramos, que explica ainda: “aquele padrão de mobilidade na cidade que havia em 2019 não vai voltar mais. A cidade mudou, pessoas mudaram, atividades econômicas mudaram, relações sociais mudaram em vários graus, e isso mudou a mobilidade em Natal, como em todo o Brasil”.
Segundo o professor Rubens Ramos, o vale-transporte é um dos indicadores que pode dar um diagnóstico da mudança que a mobilidade urbana está passando. Ele explica que em 2022 houve uma redução de até 20% no uso de vale-transporte em relação a 2019, e neste ano de 2023 já há uma queda de 5% em relação ao ano passado. Para ele, isso significa que as relações de trabalho mudaram e, consequentemente, a necessidade de sair de casa também mudou.
Diante de todas essas mudanças, Ramos constata que muitas incertezas dos últimos anos foram sanadas e isso torna mais fácil fazer a licitação. “Havia uma grande incerteza sobre como seria a mobilidade, quer dizer, sobre a demanda das pessoas. Havia uma incerteza tecnológica. Será que o ônibus elétrico vai pegar ou não vai pegar? Será que vem? Não existe mais. Ele pegou. Então agora a questão não é mais se vai ou não ter em Natal o ônibus elétrico, mas qual é a estratégia da cidade para absorver essa mudança tecnológica e avançar nisso”, esclarece Rubens Ramos.
Com tudo isso, a conclusão do professor é contundente: “Está muito mais fácil fazer a licitação este ano. Realmente não há motivo para não acontecer este ano. E, sem dúvida, se não houver licitação, não haverá solução, porque quem vai investir sem contrato?”.
Apesar da necessidade urgente, o processo para lançar um edital de licitação do transporte público segue estagnado na Secretaria de Mobilidade Urbana. Os trâmites esbarraram na análise de um estudo contratado pela STTU e realizado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). O documento com o diagnóstico do sistema de transporte público de Natal será usado como base para a confecção do edital de licitação e foi entregue no fim de janeiro. No entanto, o município não atualizou as informações com relação ao certame e tampouco comunicou que o estudo foi finalizado e entregue.
No dia 3 de fevereiro, o NOVO recebeu a confirmação de que o estudo havia sido entregue para análise da contratante, no caso, a STTU. Apesar disso, o vereador Anderson Lopes, membro da Comissão de Transportes da Câmara Municipal de Natal, foi informado pela pasta de que o documento não estava pronto.
“Há pouco mais de um mês, estivemos na Secretaria, cobramos a licitação e nos foi informado que ainda se estava aguardando o resultado do estudo que foi solicitado pela STTU. No entanto, soubemos, por meio da imprensa, que esse tal estudo já foi entregue desde o final de janeiro e até hoje não foi dado nenhum tipo de publicidade a isso”, disse o vereador Anderson Lopes, que na última terça-feira (28), fez um requerimento de urgência solicitando cópia do estudo, justificando que a “Comissão e a nossa sociedade precisam ter conhecimento sobre ele”.
Em nota, a STTU confirmou que o estudo já foi recebido, mas está sendo avaliado ainda e que, por isso, o lançamento do edital de licitação segue sem data definida. “O estudo em questão ainda está sob análise técnica, pois envolve um serviço com inúmeros aspectos a serem avaliados, dentre os principais: distribuição, frequência de linhas e custos de operação. Todos os aspectos precisam ser minuciosamente examinados a fim de que o produto final resulte na melhor prestação aos natalenses, sobretudo em termos de qualidade dos serviços”.
Novembro de 2018
179.024 viagens
Novembro de 2019
175.572 viagens
Novembro de 2020
98.270 viagens
Novembro de 2021
88.637 viagens
Novembro de 2022
78.786 viagens
De acordo com o sistema de bilhetagem eletrônica do Portal da Transparência da STTU, a quantidade de linhas ofertadas caiu 38,4% em janeiro de 2022 com relação a janeiro de 2018.
Janeiro de 2022: 61 linhas rodaram em Natal
Janeiro de 2018: 99 linhas rodaram em Natal
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