A urgência em atingir as metas de descarbonização e de se combater as mudanças climáticas e seus impactos negativos têm acelerado a busca por parcerias com empresas e instituições brasileiras interessadas em desenvolver projetos de produção de hidrogênio verde no país. Com iniciativas de produção desse combustível limpo se multiplicando no Brasil, com destaque ao menos para cinco estados (Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte), iniciou-se também uma corrida pela formação de mão de obra qualificada.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor será um dos principais responsáveis pela absorção de profissionais qualificados no processo de transição energética que o país já está fazendo. “O Brasil está à frente nesse processo por ter uma matriz energética mais limpa e tem grande potencial para manter esse protagonismo, se aliar a capacitação à disponibilidade de recursos renováveis existentes no país para a produção do hidrogênio verde”, diz o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.
Segundo o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, a área de Meio Ambiente é a segunda com maior projeção de crescimento no número de vagas em quatro anos: 16% – fica atrás apenas de Logística e Transportes, com 47%, em ocupações industriais. Estima-se que a área de Meio Ambiente tenha 5.927 vagas novas, chegando a um total de 43 mil profissionais no país de diferentes níveis de formação – entre eles, engenheiros ambientais, técnicos em controle ambiental e trabalhadores de coleta e seleção de material reciclável.
A expectativa da indústria, de acordo com Bomtempo, é que o país esteja alinhado tanto no desenvolvimento de tecnologias e qualificação de recursos humanos quanto no aperfeiçoamento dos marcos regulatórios já na fase de elaboração de projetos que permitam consolidar no país a cadeia do hidrogênio verde. “Em outros momentos tivemos recursos naturais e investimentos, mas tivemos que importar mão de obra. Dessa vez, este desafio se reapresenta, mas agora temos propostas de ação, algumas já sendo implementadas”, acrescenta Bomtempo.
Uma das iniciativas mais avançadas é a elaborada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Rio Grande do Norte (SENAI-RN), em parceria com a entidade de cooperação alemã GIZ, no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) da instituição. A proposta conta com mais de R$ 13 milhões em investimentos.
Segundo o diretor do SENAI-RN, Rodrigo Mello, a previsão é que o projeto de formação de pessoas fique pronto em 2023 e que seja um atrativo para quem está estudando e deseja trabalhar com energia renovável. “Estamos desenvolvendo um pacote completo. Primeiro, identificamos os perfis profissionais para essa cadeia, em seguida trabalhamos em itinerários formativos a serem trilhados por esses profissionais, como a carga horária de cada disciplina e o conteúdo a ser ministrado”, explica. Quando essa etapa por finalizada, será feita a montagem técnica de laboratórios que serão necessários para que o curso tenha bom desempenho.
O objetivo da parceria com a GIZ é que sejam oferecidos cursos técnicos de nível médio, especialização e pós-graduação, em cinco centros regionais de treinamento voltados ao hidrogênio verde. Esses polos se situam nos estados do Ceará, Bahia, Paraná, São Paulo e Santa Catarina e irão também impulsionar a pesquisa, inovação e outros serviços tecnológicos.
Para o diretor do SENAI-RN, uma das vantagens competitivas da indústria brasileira é a expertise na produção de energia renovável, como biocombustíveis – em que o país é o segundo maior produtor. “Estamos levantando toda cadeia do hidrogênio para fazer o curso de formação e ela se parece muito com a cadeia de combustíveis, que trabalha com ocupações tecnológicas como mecânica, manutenção química, algumas áreas da engenharia, meio ambiente e segurança. Ou seja, já sabemos parte do caminho”.
Além da produção de biocombustível, o potencial brasileiro na produção de energia solar e eólica também faz a diferença. “Em 2002, tivemos a oportunidade de fazer um programa de referência para o Brasil na formação de pessoas para o setor de gás natural veicular. Em 2009, fizemos um programa também de formação tecnológica de pessoas para o Brasil na área de energia eólica. E em 2015, começamos a fazer para energia solar. Essa nossa experiência deu muito certo, com destaque nacional e internacional, e esperamos replicá-la agora”.
Na avaliação dele, o momento é único porque o hidrogênio sustentável é um vetor de descarbonização no qual o mundo inteiro está investindo. Mello corrobora o argumento de Bomtempo de que a demanda não é apenas nacional. “É uma cadeia gigante. O mundo inteiro decidiu frear o consumo de combustíveis fósseis que impactam o meio ambiente e essa transição será feita especialmente com o hidrogênio”, acrescenta.
Considerado vetor estratégico de descarbonização da economia, o hidrogênio verde, cujo processo de produção não emite carbono, poderá ao longo dos próximos anos ocupar o espaço do hidrogênio produzido a partir de fontes fósseis.
O procedimento é feito por meio do uso de energia renovável ou com o uso de tecnologias limpas, o que é positivo para o Brasil. O país é destaque em relação à composição de sua matriz elétrica, composta majoritariamente por fontes renováveis como hidrelétrica, eólica, solar e biomassa. Essa vantagem comparativa coloca o Brasil em posição de liderar a produção do novo combustível no mundo.
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