Quem nunca ouviu falar em ‘Cidade de Deus’, o livro que se transformou em filme, cuja obra mostra as transformações no conjunto habitacional de mesmo nome, que cresce de forma desordenada em meio à violência e ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro? O livro ‘Cidade de Deus’ foi escrito pelo carioca Paulo Lins, que elaborou a obra entre os anos de 1986 e 1993 após um grande estudo antropológico feito dentro da comunidade carioca.
O livro foi publicado em 1997 e, em 2002, virou um filme com adaptação roteirizada por Bráulio Mantovani e dirigido por Fernando Meirelles. Mesmo 20 anos após o lançamento do filme, ele ainda continua sendo bastante assistido. A Preply, uma plataforma online que conecta alunos e tutores nativos em mais de 50 idiomas, fez um levantamento sobre as produções mais populares e o destaque brasileiro foi o filme ‘Cidade de Deus’, que aparece na segunda posição dos mais assistidos do mundo.
Neste mês de dezembro, Paulo Lins voltou à temática social e lançou o livro ‘Mãe Luiza – Construindo Otimismo’ que fala sobre a comunidade litorânea natalense que se divide, em muitas ocasiões, entre as obras sociais e o domínio do tráfico. Em entrevista ao NOVO Notícias, o escritor Paulo Lins falou sobre a obra, que também será lançada em maio de 2023, em Natal.
NOVO – Cidade de Deus, livro de sua autoria lançado há 25 anos, virou filme e há possibilidade também de virar série. O senhor imaginava que sua obra pudesse alcançar esse sucesso?
Paulo Lins – Não, eu esperava que ele tivesse efeito nas autoridades e fizesse isso que as pessoas fizeram em Mãe Luiza. Enfim, que tivessem um trabalho de cultura, educação, alimentação e saúde que todo ser humano deve ter. Mas infelizmente isso só aconteceu nos governos do PT, que agora espero que volte para o Brasil ter equidade racial e social de forma plena.
NOVO – Após mais de duas décadas do famoso Cidade de Deus, o senhor decidiu voltar à temática social e lançou um novo livro que trata sobre a comunidade natalense de Mãe Luiza. Por que o livro fala em construir um novo sol?
PL – As pessoas de Mãe Luiza saíram de seu lugar de origem por causa do sol forte da seca. Em Natal foram morar num lugar ermo, sem nenhuma condição de habitação decente, enfim: uma favela que as pessoas, para amenizar, chamam de comunidade. O novo sol são todas as pessoas que entraram nessa favela e pessoas do próprio local, lideradas por Padre Sabino que transformam essa favela em um bairro normal super tranquilo.
NOVO – Como o senhor descobriu o bairro de Mãe Luiza? O que o fez “despertar” e perceber que dali poderia surgir uma nova obra?
PL – Eu recebi o contato de Ion de Andrade, Nicole Miescher da ONG Ameropa para escrever esse livro. Justo porque Mãe Luiza tem muita semelhança com Cidade de Deus, mas a diferença é que o final é feliz, graças ao trabalho dessa gente.
NOVO – O livro conta o surgimento da favela e, como ela, aos poucos, foi se transformando. A questão do tráfico também é abordada? O que mais podemos encontrar nas páginas de “A Construção de um novo sol”?
PL – Podemos encontrar o trabalho dessa gente que fez o que os governos devem fazer em todas as favelas do Brasil e não fazem por preconceito, descaso, racismo, roubalheira e acordo com a especulação imobiliária que quiseram o tempo todo tirar as pessoas daquele local por ser extremamente valorizado. Essas pessoas que só pensam em lucro, perdem a humanidade.
NOVO – No livro, há detalhes da história do Padre Sabino, sacerdote estrangeiro e responsável pela formação social, humana e cristã de muitos moradores, mas também por muitas melhorias na “comunidade” que se tornou bairro. Na sua visão, o que a figura de Padre Sabino Gentille – falecido em 2006 – representa para Mãe Luiza?
PL – O Padre Sabino é uma pessoa de bem. Pessoas de bem não são aquelas que têm posses, são aquelas que ajudam. Todas as pessoas que se envolveram para a melhoria do local, são como Padre Sabino. Diga-me com quem andas que eu te direi que és.
NOVO – Por quanto tempo o senhor “estudou” Mãe Luiza para que depois viesse a desenvolver a obra? Chegou a morar na região?
PL – Fiquei lá dois meses entrevistando moradores do bairro. A minha felicidade era tanta que fiquei além do necessário para realizar a pesquisa. Ver um Brasil dando certo é tudo que eu sempre quis. Espero que esse livro possa mostrar para o mundo que não precisa de muito investimento financeiro para termos equidade racial e social.
NOVO – Quais as semelhanças que o senhor vê entre Cidade de Deus e Mãe Luiza?
PL – Pessoas negras descendentes de escravizados, descendentes de indígenas e pessoas refugiadas da seca. As pessoas pobres do Brasil são as mesmas em todos os lugares.
NOVO – E quais as diferenças?
PL – Cidade de Deus também tem pessoas de boa vontade, mas não tem o recurso que a fundação Ameropa tem. Por isso, na Cidade de Deus a desigualdade social ainda é latente, pois não houve um trabalho sério de desenvolvimento humano e social que houve em Mãe Luiza.
NOVO – Apesar de todas as dificuldades encontradas em uma comunidade, o livro trata de otimismo, entusiasmo, a possibilidade da construção de um futuro melhor. Por que o senhor enxergou este futuro em Mãe Luiza?
PL – Eu vi isso lá. Pessoas na universidade, fim da criminalidade, pessoas idosas com assistência, jovens com desenvolvimento cultural e educacional para além das escolas públicas que no Brasil são claudicantes.
NOVO – Há alguma expectativa para o lançamento do livro em Natal?
PL – Sim, em maio estarei em Natal, em Mãe Luiza, para mais um lançamento. Já fizemos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
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