Cotidiano

Adoção tardia, um ato de amor

Adoção transformou a vida do casal francês Delphine e Franck Courchay Albely, que decidiu, em 2020, adotar dois irmãos. Atualmente, existem 44 crianças e adolescentes em fila de adoção no Rio Grande do Norte

por: NOVO Notícias

Publicado 10 de outubro de 2022 às 16:00

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Cresce número de famílias que iniciam processo de adoção de crianças e adolescentes – Foto: Arquivo Pessoal

Adotar é um ato de amor. Com certeza você já ouviu essa frase. Mas a família Courchay Albely está aí para mostrar que é muito mais que isso. A adoção transformou a vida de um casal, de dois irmãos, criou uma nova família e provou que o amor se multiplica, inclusive, para o futuro dos próprios adotados.

O casal francês Delphine e Franck moram no Brasil há 12 anos e, após atingir os 40 anos de idade, mas ainda sem filhos, decidiram que adotar seria a melhor opção. Eles queriam adotar crianças já maiores, entre os três e nove anos de idade, e, por saberem que o processo de adoção não é tão rápido, já queriam, pelo menos, dois filhos. Do outro lado, dois irmãos haviam sido encaminhados para adoção, pois a mãe havia perdido a guarda deles e outros familiares não tinham condições de criá-los.

O casal passou cinco anos na fila de adoção e as duas crianças viviam no abrigo por quase dois anos até que seus caminhos se cruzaram. Em 15 de janeiro de 2020, Delphine recebeu uma ligação de Teresina/PI informando que o perfil que eles estavam habilitados para adotar teria sido encontrado. Ao confirmar o interesse, o processo teve início.

“Nós tentamos ter filhos, mas passamos dos 40 anos e não tínhamos conseguido de forma biológica. Então, decidimos adotar. Muitas crianças precisam de família, de amor. E amor não está apenas no DNA. Já sabíamos que a fila demorava, então, não queríamos começar outro processo nem queríamos uma criança sozinha. Aqui no Brasil temos muitos grupos de irmãos e queríamos dar visibilidade também a essas crianças maiores”, lembra a mãe.

Após a decisão, a justiça autorizou as ligações online para iniciar o contato com as crianças. Ali, ainda através de uma tela, nitidamente, uma nova família se formava. Quinze dias depois, o casal viajou para Teresina e o sonhado encontro aconteceu. “Podemos nos ver de verdade, nos abraçar. E vimos que a cumplicidade de uma família já estava ali. É claro que no primeiro contato existia um pouquinho de medo da parte deles. Talvez um receio de começarem a amar e serem abandonados, o que é algo normal no início. Mas este primeiro contato foi mágico”, afirma Delphine.

Foram quatro meses de viagens ao Piauí. Uma semana por mês eles se viam, passeavam, levavam as crianças à escola. “Nós já nos sentíamos família”, diz. Em maio do mesmo ano, eles receberam a guarda provisória e vieram para São Miguel do Gostoso, onde moram, com Wesley e Gabrielle. “Tirei licença-maternidade para me dedicar exclusivamente a eles. Nós precisávamos desse tempo para nos conhecermos melhor. Para que nós aprendêssemos a ser pais e eles, a ser filhos, a nos comportarmos como família realmente. No início não foi fácil, principalmente, para o Wesley, que por ser maior, ainda carrega muitas lembranças do passado. Mas, aos poucos, com paciência e muito amor, tudo deu certo”, reforça a mãe.

Hoje, Gabrielle tem seis anos e Wesley vai completar 10. Aprenderam a gostar de ir para a escola e vivem uma vida tranquila em meio à praia e à liberdade de quem vive em um paraíso potiguar. “As pessoas dizem que eles têm sorte de nos ter, mas não. Nós é que temos sorte de tê-los em nossas vidas. São dois anjos que nos trazem muitas alegrias e muito conhecimento sobre a vida. Temos muito o que aprender com eles mais pra frente e somos muito gratos por termos nos encontrado”.

A adoção definitiva saiu em junho deste ano e a gratidão pela formação da família Courchay Albely é tanta que o Wesley já decidiu “Ele diz que quando for grande também vai querer adotar. O amor, realmente, se espalha”, conclui Delphine.

Perfil de adotantes tem mudado

Atualmente, existem 44 crianças e adolescentes em fila de adoção no Rio Grande do Norte, sendo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. Deste total, 18 delas ainda não estão vinculadas a pretendentes, ou seja, não estão em fase de aproximação ou de conhecer possíveis adotantes.

O perfil das crianças à espera de adoção e disponíveis para tal é de maioria parda, pouco mais da metade de meninos, nenhum com doença infectocontagiosa, apenas um com deficiência intelectual e/ou física e seis com outros problemas de saúde. A maioria está nas faixas etárias de 0-2 anos, 8-10 anos e 16-18 anos. Já os pretendentes à adoção no Estado são 385. A maioria dos adotantes não faz distinção na hora de definir o perfil das crianças. No entanto, a maioria busca crianças menores de 6 anos, mas não tem preferência quanto ao sexo.

Voluntária do grupo Acalanto Natal, Fabiana Fontes explica que o perfil dos adotantes vem se modificando há 20 anos. “A gente não via pessoas se habilitando para crianças maiores e para as chamadas adoções necessárias, que são adoções de crianças negras, com necessidades especiais e grupos de irmãos. Isso era muito mais difícil. Com o passar dos anos e com muita conscientização das pessoas, essas adoções passaram a crescer. Claro que ainda há uma tendência, um desejo maior por recém-nascidos e crianças de até três, quatro anos. Mas já é uma faixa bem maior de adotantes que topam as adoções necessárias. Isso é uma mudança no perfil e na conscientização das famílias de que essas crianças também precisam de família. O que buscamos são famílias para crianças e, não, crianças para suprir o desejo de famílias”, pontua a voluntária.

Para ela, a preparação por meio de cursos realizados pela Justiça tem sido fundamental para essa mudança de perfil. Além disso, também existem projetos, como o de Padrinhos, promovido pela Acalanto, que aproxima famílias que não querem adotar, mas que querem contribuir com algumas crianças. “Essas pessoas abrem um horizonte para a sociedade, pois esses meninos maiores também precisam de famílias de referências”, acrescenta.

Provisoriamente, as crianças deveriam ficar, no máximo, dois anos em instituições de acolhimento e a intenção é a de que elas voltem para a família biológica. Quando não é possível, parte-se para a destituição. “O ideal é que isso seja no menor tempo possível para que ela vá para uma família adotiva”, diz Fabiana.

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