Como é montada uma fake news em Natal. Por Daniel Menezes

Cientista político explica em artigo como o prefeito Álvaro Dias “ergueu falso discurso para responsabilizar MPs e Governo do RN pelo atraso da vacinação na cidade”

por: Foto do autor Daniela Freire

Publicado 8 de junho de 2021 às 21:03

Prefeiro Álvaro Dias culpou MPs e Governo do Estado por Natal não estar vacinando fora do grupo de comorbidades

 

Diante das cobranças sobre o atraso da vacinação em Natal, o Prefeito Álvaro Dias sacou a estratégia que ele já banalizou. Saiu distribuindo culpas por um problema que é eminentemente de sua gestão baseado em dados e fatos falsos.

Primeiro, ele foi ao twitter culpar o governo estadual pelo baixo quantitativo de doses. Ora, o Governo só recebe e repassa para os prefeitos, conforme a proporção de cada cidade. Se há poucos imunizantes isto se deve exclusivamente ao Ministério da Saúde. Mas Dias não quer bater de frente com o bolsonarismo, que faz parte de sua base de apoio e tenta mobilizar esse contingente nas redes sociais ao seu favor para polarizar com a governadora Fátima Bezerra.

Depois, alega que o atraso também se deve ao fato de que o Ministério Público impediu a vacinação de grupos não prioritários. O MP do RN, Federal e o do Trabalho vieram a público e desmentiram o prefeito (leia a nota coletiva dos MPs aqui).

Daí que ele saca agora uma versão nova. O atraso em Natal, enquanto Mossoró já vacina os cidadãos não prioritários, se deve a necessidade de imunizar os presidiários. Seu secretário concedeu entrevista ao jornal Tribuna do Norte (leia aqui) e alega que irá tratar com o Governo e os MPs para que, em concomitância com os apenados, a prefeitura passe agora a imunizar a população em geral. Trata-se de outra mentira e, além disso, uma forma de jogar a população contra os MPs e o Governo do RN, enquanto que se desresponsabiliza pela situação.

O Plano Nacional de Imunização é quem determina – não o MP ou o Governo – a lista e a ordem dos grupos prioritários. Vacinar primeiros os apenados é uma determinação do governo federal, através do Ministério da Saúde. Governo e MPs nada têm com isso. Mas qual é a ideia? Insinuar que eles estão protegendo a população desprovida de liberdade em detrimento dos natalenses.

(E a imunização primeiros dos apenados, por determinação do Ministério da Saúde (PNI), tem uma razão. Se a covid entrar num presídio, o contágio geral na instituição lotará os hospitais. E, obviamente, nem município, nem estado e nem união podem negar atendimento.)

Coincidentemente (?), no whatsapp começam a circular correntes, completando a narrativa. A vacinação em Natal estaria atrasada pela razão dos Ministérios Públicos e Governo do RN estarem priorizando a população carcerária.

Veja a corrente que circula no whatsapp:

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O bolsonarismo lançou esse tipo de estratégia, que se espraiou pelo país. Não é a primeira vez que o prefeito de Natal, Álvaro Dias, inicia um discurso distorcido sobre os acontecimentos para justificar os seus erros. Foi assim também quando disse que a Ivermectina salvou natal, que lidera – acima do seu tamanho populacional em proporção ao RN – o número de óbitos e casos na pandemia, disse que estava tudo bem na cidade e os decretos já poderiam ser relaxados (com hospitais 100% lotados) ou ainda sobre ele ter aberto a maior quantidade de leitos-covid na capital – outra mentira. Virou seu modus operandi.