Jovem, loira, classe média, formada em Fisioterapia, brincalhona e de sorriso fácil. Por fora, aparentemente, uma vida “normal” e “sem motivos” para problemas. Por dentro, um vazio chamado depressão.
A doença silenciosa atinge, segundo levantamento do Ministério da Saúde, 11,8% de natalenses acima de 18 anos. O número coloca Natal como a segunda capital do Nordeste com maior número de adultos com depressão. Anne Karoline integra esse percentual e também faz parte de outra estatística ligada, muitas vezes, à depressão: o suicídio.
Fisioterapeuta e, hoje, estudante de Direito, Anne Karoline conta que a depressão entrou em sua vida ainda criança, aos 7 anos, quando seus pais se separaram. No início, era controlável. Mas, aos poucos, ela foi desanimando. “Saí do emprego, não me via mais na área da fisioterapia, me sentia fracassada”, conta.
O que antes era considerado controlável, tornou-se um sentimento inexplicável e Anne Karoline decidiu pôr um fim. “No dia 26 de setembro de 2021, a angústia que eu sentia foi maior que tudo. Eu só queria fugir de tudo. Tomei várias medicações e apaguei. Mas Deus quis me dar uma segunda chance e colocou minha mãe no meu quarto ainda em tempo. Quando ela me viu naquele estado, ficou tão desnorteada que ligou para o 190. Eles auxiliaram minha mãe naquele momento desesperador a ligar para o SAMU que, prontamente, chegou. Segundo o médico que me atendeu, se tivesse demorado uns minutos a mais, eu não teria resistido”, lembra a jovem.
Após o atendimento, Anne Karoline precisou ser internada e passou 15h em ambiente hospitalar para que todos os remédios saíssem do seu corpo. Para a alta, também foi necessário um parecer médico de sanidade mental.
Recuperada do trauma, mas em tratamento contínuo para a depressão, Anne Karoline diz que tudo o que viveu “serviu” para ver que tem amigos e uma família que a ama. “Antes, na minha cabeça, eu não iria fazer falta. Eu imaginava que as pessoas iam me enterrar e seguir a vida. Mas percebi que, ao contrário do que eu imaginava, as pessoas próximas sofreram muito. E isso me fazia sofrer ainda mais. Eu nunca imaginei ser tão amada. Vi o quanto meus pais me amam e estão sempre ao meu lado e o quanto tenho amigos verdadeiros e incríveis. Se hoje estou aqui é porque Deus me deu uma nova chance de viver ao lado de quem realmente importa”, completou.
Questionada sobre como tem sido o dia a dia com os seus pais após a tentativa de suicídio, ela diz que se sente vigiada, pois eles temem uma nova tentativa. “Meus pais redobraram a atenção comigo. As vezes brinco que perdi minha maior idade porque não me sinto mais uma mulher adulta, estou sempre sendo vigiada. Por mais que eu jure nunca mais fazer nada parecido, pois me apeguei ainda mais com Deus desde o ocorrido, eu não posso mais tomar nem uma dipirona sozinha que minha mãe vem olhar”, desabafa a fisioterapeuta.
As consequências, porém, não foram só para Karol. Sua família também tem sofrido nesse quase um ano. “Nunca tinha visto nem o meu pai chorar, mas nesse dia eu o vi desabar. Minha mãe, até hoje, está com transtorno pós-traumático e não dorme direito. A Karol de antes era brincalhona e de sorriso fácil. A de hoje é mais quieta, pouco sorri, chora muito e tenta seguir em frente”, compara ela.
Diante de tudo o que viveu, Anne Karoline incentiva que quem estiver passando por problemas semelhantes deve procurar ajuda. “Ligue para o CVV, é um serviço maravilhoso e gratuito pelo 188, fale com seus pais, com um amigo, seja com quem for, mas converse, fale, se abra. E para aqueles que estão de fora da situação, apenas não julgue. Abrace, demonstre carinho e afeto. É disso que nós precisamos”, conclui.
No Brasil, a campanha foi criada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Brasileira de Psiquiatria. No calendário, 10 de setembro marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. As ações de atenção ao tema acontecem ao longo de todo o mês.
Segundo o Ministério da Saúde, o suicídio é a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal entre os jovens de 15 a 29 anos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o suicídio é considerado a segunda causa de mortes entre jovens, depois de acidentes de trânsito.
Os números da OMS dão conta de que, em todo o mundo, os casos de suicídio chegam a 800 mil – todos os anos morrem mais pessoas como resultado de suicídio do que de HIV, malária ou câncer de mama – ou ainda guerras e homicídios. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, uma média de 38 suicídios por dia. A cada 100 mil homens brasileiros, 12,6% cometem suicídio; entre mulheres, a comparação aponta para 5,4% casos de suicídio a cada 100 mil mulheres brasileiras.
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