Oito anos após o deslizamento de terra que deixou 26 famílias de Mãe Luiza desabrigadas, a Prefeitura do Natal deu a ordem de serviço para a construção do Residencial Mãe Luíza.
Mesmo com a novidade, a notícia não foi recebida com tanto entusiasmo pelos futuros beneficiados. “Foram promessas atrás de promessas [de reconstrução] ao longo de todos esses anos. A primeira foi feita logo nas primeiras semanas, e ficamos muito felizes. Mas com poucos meses fomos sentindo que não havia agilidade. E mesmo essa ordem sendo assinada agora, a gente ainda fica naquela apreensão. Será que realmente dessa vez vai sair?”, questionou o comerciante Wilson Correia, que perdeu uma mercearia, um estúdio de fotografia e três casas na tragédia.
“Tudo caiu. Perdemos mercadorias no valor de R$ 65 mil; material de filmagem e fotografia; computadores; serviços de clientes a entregar… Só saímos com a roupa do corpo. Eu ainda consegui comprar uma câmera e uma filmadora depois, aí fiz alguns trabalhos em aniversários infantis, casamentos etc. Deu para segurar por um tempo, mas depois da pandemia não estou conseguindo mais trabalhar. Tá muito fraco”, contou.
Inicialmente Wilson começou a receber o aluguel-social de R$ 1.200 e passou a morar próximo à antiga residência. Mas o valor mudou no início deste ano, e o comerciante conta que de lá para cá já precisou se mudar pelo menos 10 vezes. “Agora mesmo estou me mudando. Tivemos que procurar outro canto que coubesse no novo aluguel-social, de R$ 600. Toda vez que nos mudamos é um guarda-roupas ou um armário que vai embora. Viemos para um kitnet tão pequeno que nem couberam todas as coisas”, relatou.
A família agora está morando próximo ao local onde será construído o Residencial Mãe Luiza, no final da rua João XXIII, ao lado da 4ª Delegacia de Polícia Civil. Ao todo, o imóvel vai contar com 29 apartamentos. Mesmo tendo perdido três casas na tragédia, Wilson terá direito a apenas duas unidades habitacionais. “O certo seria receber três, mas levando pelo lado social, o inquilino acabou tendo direito ao terceiro. Acho que nessa história toda, o mais prejudicado sou eu”, disse.
De acordo com a Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes (Seharpe), o investimento para a construção do Residencial Mãe Luiza é de aproximadamente R$ 4,5 milhões com recursos próprios do município. A previsão inicial de conclusão das obras, conforme o cronograma da licitação, é de 12 meses. Portanto, a estimativa é de que o condomínio esteja pronto em meados de agosto de 2023.
O prédio terá apenas um bloco com os 29 apartamentos e uma sala para o síndico. Ainda segundo a Seharpe, as unidades habitacionais terão 49,89m² e contarão com dois quartos, sala, banheiro, cozinha e acessibilidade para pessoas com deficiência. A promessa é de que o Residencial Mãe Luíza seja entregue com toda a estrutura de área comum, academia da terceira idade e diversos outros equipamentos de lazer, esporte e convivência.
“Essa era uma grande prioridade da nossa gestão. O nosso planejamento foi afetado pela pandemia, e também enfrentamos dificuldades financeiras para viabilizar o projeto. Felizmente, com muito esforço e zelo pelos recursos públicos, estamos garantindo com dinheiro do próprio Tesouro Municipal a execução dessa obra que tem uma importância social enorme”, disse o prefeito Álvaro Dias durante a solenidade em que deu a ordem de serviço.
“Sabemos que agora a Justiça vai pressionar, mas ainda ficamos naquela expectativa. Será que vai sair no tempo certo?”, questionou Wilson Correia.
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