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“A gente mira no amor e acerta na solidão”

Segundo Ana Suy, sempre há a opção de fechar o livro ou deixar as pessoas para trás, mas jamais conseguiremos fugir de nós mesmos

Publicado 20 de junho de 2022 às 09:37

Descobrir qual é o caminho que um livro leva para chegar às mãos do leitor é o mesmo que se deparar com um labirinto de possibilidades. Não existe tempo e lugar certos para que o encontro aconteça, assim como não há recuperação de tempo perdido porque o encontro se dá quando deve acontecer e, como tudo na vida, nem sempre estamos preparados para compreender o significado das palavras e situações que se colocam aos nossos olhos. Fechar o livro e fugir daquele encontro é sempre alternativa. 

A intertextualidade, constantemente mencionada neste espaço, é um dos caminhos mais fáceis a serem seguidos. Observar as referências daqueles que tocam nossos sentidos, sim, porque a leitura é uma experiência sinestésica, leva cada leitor à construção de uma trilha pessoal e intransferível. É essa trilha que, por sua vez, associada a outras experiências, constituirá a base de sustentação da forma como cada um vê e interpreta o mundo.

Restringir essa fundamentação ao consumo do resumo do resumo do resumo é uma tolice sem precedentes, na medida em que, ao fazer isso, delegamos a outras pessoas a delimitação do recorte da realidade que é nossa. Não somos (ou não deveríamos ser) fantoches. 

Há, sim, pessoas que nos tocam e falam com a nossa alma, mas mesmo essas pessoas, só podem sugerir caminhos, pois, no final das contas, a escolha é, também, pessoal e intransferível, pois é a vivência de cada um que dá significado às experiências e encontros proporcionados pela vida. 

A indicação que faço aqui, que pode ser seguida ou não por você, favorece o encontro com o livro “A gente mira no amor e acerta na solidão”, de Ana Suy, que longe de qualquer clichê, faz um passeio pelos principais conceitos da psicanálise para, entre outras coisas, demonstrar que a ideia do amor vivido fora de nós mesmos não tem sustentação sem o amor próprio, o que pressupõe a construção diária de uma relacionamento consigo mesmo. Afinal, não existe relacionamento honesto com o outro quando a busca é pela fuga de si mesmo. 

E se o encontro com os livros não acontece por acaso, mas apenas quando estamos prontos para compreender o significado proporcionado por esse entrelaçar de caminhos, o mesmo se dá com outras pessoas. Não por acaso Ana Suy ressalta que ser um equívoco pensar que as pessoas que somem ou se afastam de uma relação o fazem por não terem sido tocadas pelo outro. Ela afirma que, com frequência, isso acontece justamente pelo contrário, na medida em que  “podemos fugir justamente de onde nos sentimos tocados em demasia. Amar é um exercício trabalhoso, nem todos estão dispostos a isso”. 

Segundo Ana Suy, sempre há a opção de fechar o livro ou deixar as pessoas para trás, mas jamais conseguiremos fugir de nós mesmos, porque “no coração do amor está sempre a solidão, e por isso quem não suporta a solidão também não suporta o amor”,  enfatiza a autora. 

Ela ainda explica que ao abordar o amor, não o faz no sentido restrito ao amor romântico, mas, sobretudo, em relação a amizade que, segundo ela, e o estado mais digno do amor e que “cabe a nós cultivar nossas amizades, essas figuras que por vezes são as escadas de incêndio quando o prédio está pegando fogo.”

Aproveito para agradecer a minha amiga pela indicação deste livro, porque, como já disse para ela,  nada como ter por perto pessoas que nos conhecem e reconhecem.