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Arrecadação de direitos autorais na música é menor para mulheres

Apesar terem apresentado um aumento tímido de 5% em Relação a 2021, elas ainda estão bem atrás dos homens, como Aponta o relatório “o que o brasil ouve”, publicado pelo ECAD

por: NOVO Notícias

Publicado 28 de março de 2022 às 16:00

 

Arrecadação de direitos autorais na música é menor para mulheres – Foto: Reprodução/ECAD

O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) divulgou este mês o relatório “O que o Brasil ouve – Edição Mulheres na Música”, com registros da participação feminina no mercado musical, com relação à arrecadação de direitos autorais. Apesar de elas terem apresentado um aumento de 5% em relação a 2021, elas ainda estão bem atrás dos homens, tendo conseguido apenas 7% de um total R$ 901 milhões, distribuído ano passado a 267 mil compositores, artistas, e outros titulares e associações.

Um dos objetivos do relatório do Ecad – divulgado no último Dia Internacional da Mulher – é apontar a desigualdade ainda existe entre homens e mulheres na arrecadação de direitos autorais e apoiar a participação feminina na cadeia produtiva da música e a ocupação do espaço que lhe é de direito. Mas por que, em um país de grandes compositoras desde sempre, essa desigualdade ainda persiste?

A cantora e compositora Simona Talma considera que a falta de informação e de formação faz os compositores, de uma forma geral, não terem ideia do que fazer com sua obra, de como administrar seus direitos autorais. “Uma parte tão importante da renda de um músico ou compositor (a); um bem que será passado como herança pra sua família.”

Para Simona, quem cuida dos seus direitos autorais deixa um legado intelectual e também material. Ela diz já ter tido problemas com arrecadação de direitos autorais. Além de sua carreira solo, Simona integra a Orquestra Greiosa e o projeto Retrovisor, além de tem uma parceria fértil com Luiz Gadelha, na banda Talma & Gadelha.

Já a cantora e compositora natalense Valéria Oliveira diz ainda haver uma longa estrada a percorrer para reduzir a expressiva desigualdade entre homens e mulheres na arrecadação dos direitos autorais e na música de uma maneira geral. “Os dados do relatório ‘O que o Brasil ouve – Edição Mulheres na Música’, divulgado recentemente pelo Ecad, nos estimulam a empreender esforços ainda maiores para estimular a participação das mulheres na música, bem como a nos organizarmos mais para que valores provenientes da arrecadação de direitos autorais possa chegar a nós, compositoras, intérpretes, instrumentistas, produtoras.”

Valéria tem dez discos lançados, sendo o mais recente “Sacrário”, do início deste ano, todos repletos de composições próprias. Além do mercado nacional, ela teve vários trabalhos lançados no Japão.

Para ter acesso à íntegra do relatório, acesse o link: https://bit.ly/36TWHX6.

ENTREVISTA / Simona Talma, cantora e compositora

Simona Talma, cantora e compositora – Foto: Reprodução

NOVO – Você já teve problemas com arrecadação de direitos autorais?

– Tive problemas sim. Não existe uma faculdade, curso ou capacitação que nos prepare pra ser cantoras e compositoras. Além disso a educação da mulher de uma forma geral não é para desenvolver trabalhos intelectuais e de criação. Não existe estímulo pra isso em casa ou na escola; e assim como na política, existe pouca representatividade, num país em que estamos em maior número, temos poucas mulheres à frente das decisões que realmente mudam as nossas vidas. Na música não é diferente. Quem são as maiores compositoras do Brasil? Que êxito elas tiveram? Que jovem vai escolher ser compositora por ter grandes inspirações? Na música brasileira posso dar alguns exemplos que me inspiram, como Adriana Calcanhotto, Dolores Duran, Suely Costa, Fátima Guedes…Entre elas, acredito que a mais popular atualmente seja Adriana. Será que a maioria das pessoas vê Adriana como compositora?

NOVO – Você acha que o público reconhece a mulher compositora?
– Eu acredito que existe uma glamourização da nossa profissão. Falando de áreas da música como o Sertanejo. Marília Mendonça tinha uma obra gigantesca de composições. Ela se posicionou em seu mercado como compositora e a força de suas ideias abriram caminhos gigantescos pras mulheres do estilo. Mas eu fico em dúvida se realmente o público tem a imagem mais forte da compositora ou da cantora, da artista em si. A maioria das artistas brasileiras dá pouca ênfase ao seu perfil de compositora. E também isso é pouco “valorizado”. As pessoas querem saber se você é bonita, carismática, se canta bem, se é sensual, se dança bem. Ou seja, seja bela, recatada ou puta, mas guarde suas ideias pra si, ou elas podem mudar o mundo e quem quer isso?”