Para ONG Oceânica falta de fiscalização, interesses econômicos e desconhecimento dos danos ambientais por parte da população estão entre os principais motivos para repetição de eventos do tipo na área
Publicado 24 de janeiro de 2022 às 15:00
Descarte impróprio de lixo, poluição da água e pisoteio de corais. Essas são algumas das consequências causadas pelo aumento na movimentação de lanchas particulares e aglomeração de pessoas nas áreas de parrachos no litoral Sul do Rio Grande do Norte durante o mês de janeiro.
O último evento registrado no local foi no dia 17 desse mês, quando um luau com intensa aglomeração de pessoas e lanchas foi divulgado nas redes sociais pelos participantes da festa, que contou até com um show musical. Outro luau realizado em 2020 também aconteceu sem a fiscalização dos órgãos responsáveis e com grande divulgação nas redes sociais.
Em ambos os eventos foi possível observar centenas de pessoas aglomeradas, sem máscaras, desrespeitando as normas ambientais e sanitárias de prevenção à Covid-19, configurando crime contra a saúde pública dada a situação de pandemia ainda enfrentada em todo o país e no Rio Grande do Norte.
Sem contar com o impacto ambiental e os prejuízos causados aos corais, já tão prejudicados ao longo dos anos pelo desrespeito e a falta da devida fiscalização. Mas afinal, por que isso ainda acontece?
A ecóloga Maiara Menezes, presidenta da ONG Oceânica, acredita serem os motivos: impunidade, desconhecimento e interesses econômicos. Para ela, a área não é fiscalizada a contento. “Todos os anos esse evento ocorre e os órgãos competentes não tomam uma providência cabível e séria! Não há fiscalização e mesmo em caso de denúncia não vemos nenhum flagrante ou ação dos órgãos para barrar o evento.”
A falta de conhecimento do público sobre os efeitos nocivos que o som alto, o pisoteamento dos corais e a sujeira na água causam ao ecossistema recifal e as espécies que ali habitam também tem sua parcela de culpa na opinião de Maiara Menezes.
Porém, o motivo mais grave para ela é o interesse econômico por parte dos eixos de turismo e entretenimento que envolvem esse tipo de evento. “Certamente tem gente ganhando dinheiro com isso e segue promovendo o evento todo veraneio mesmo com toda a repercussão negativa que isso toma após o vazamento das notícias”, comenta a presidente da Oceânica.
Impactos ambientais
Parrachos são piscinas naturais formadas por recifes. No litoral Sul, a área fica situada a 1 km da praia da praia de Pirangi. Na maré baixa, as águas cristalinas proporcionam uma visão dos peixes que vivem no local e o cenário paradisíaco atrai turistas e visitantes durante todo o ano, com maior registro de pessoas no verão – entre dezembro e janeiro.
De acordo com o biólogo e supervisor do Núcleo de Gestão de Unidades de Conservação do Idema, Rafael Laia, essa movimentação de pessoas nos parrachos pode gerar uma série de consequências aos responsáveis, além de impactos irreversíveis ao meio ambiente.
Segundo o especialista, os parrachos possuem corais – organismos vivos, invertebrados, que se alimentam, respiram e se desenvolvem com uma certa lentidão. O acúmulo desses corais, de animais marinhos e de algas pode formar recifes. Mas, para que esses recifes sejam formados, são necessários séculos de reprodução e conservação desses organismos.
“Os corais são como florestas, com uma diversidade muito grande e muitos animais marinhos. E esse fenômeno natural acontece nos recifes, que fornecem abrigo, alimento e possibilidades de diversidade a esses organismos. O pisoteio desses corais, que acontece quando há uma grande movimentação de pessoas, é um problema, pois machuca e pode até levar a morte deles”, explica o biólogo.
Outro impacto ambiental que pode ser causado pela aglomeração de pessoas é o gerado pelo descarte impróprio de lixo. Os animais marinhos podem se alimentar desse material, além de ficar presos e se ferirem. O óleo dos motores das lanchas também pode ser um fator prejudicial para esses organismos, uma vez que contamina a água usada para sua respiração.
Circulação marítima irregular
Outra infração registrada em episódios do tipo é contra a segurança do meio de transporte marítimo, uma vez que a circulação de lanchas na região dos parrachos deve ser informada e autorizada pelos órgãos responsáveis – o que não aconteceu nos dois últimos episódios, segundo a Marinha do Brasil.
Em nota, a Marinha, por meio da Capitania dos Portos do RN, informou que “eventos náuticos que venham a ser realizados devem ser informados previamente e, sua realização, condicionada à autorização de diversos órgãos, entre eles os ambientais e a MB [Marinha do Brasil]”.
A fiscalização da área dos parrachos é de responsabilidade da Capitania dos Portos que, ainda em nota, afirmou realizar ações de inspeções diárias nas praias de Pirangi do Norte e Pirangi do Sul.
Já a investigação dos responsáveis fica a cargo do Ministério Público Federal, que atua a partir de informações recebidas – seja dos órgãos fiscalizadores ou da população. Sobre os eventos citados, “corre no órgão um procedimento relativo à festa que ficou famosa no verão passado. Este ainda segue na Polícia Federal para diligências. Não há denúncias registradas sobre o evento realizado este ano”, informou a assessoria de comunicação do MPF.
As denúncias de irregularidades devem ser feitas pela população através da internet ou da Sala de Atendimento ao Cidadão, pelo telefone (84) 3232-3900. “O MPF pode promover acordos e, em caso de necessidade, apenas requer à Justiça tais punições”, informou a assessoria de comunicação do órgão.
Receba notícias em primeira mão pelo Whatsapp
Assine nosso canal no Telegram
Siga o NOVO no Instagram
Siga o NOVO no Twitter
Acompanhe o NOVO no Facebook
Acompanhe o NOVO Notícias no Google Notícias