Coluna Thaisa Galvão – 27 de dezembro

por: NOVO Notícias

Publicado 27 de dezembro de 2021 às 18:25

COLUNA THAISA GALVÃO

Para refletir…

O ano termina um pouco diferente do que começou. O Natal já foi mais festivo do que o de 2020 e as famílias já puderam formar mesa sem uso de máscara e sem sofrer efeitos desastrosos como no ano passado, quando o pós-natal, para muitos, foi no hospital. Quase todos com duas doses de vacina e muitos já com a dose de reforço. Fora os medos que surgiram com a tal gripe H3N2, a vida vai voltando à normalidade.

Normalidade para quem? Para os adultos que não tem filhos pequenos, novas vítimas do negacionismo que ainda impera no país, com o presidente Jair Bolsonaro negando para crianças, a vacina que tentou negar para seus pais e avós. Porque não me venham com a história que o presidente foi a favor da vacina e comprou a vacina. Isso é discurso de quem segue o chavão de Bolsonaro para se inserir como ‘gente importante’ num cenário onde nunca tinha conseguido entrar antes.

Na conta da população

Bolsonaro foi obrigado a comprar vacinas depois que o governador de São Paulo, João Dória, surgiu como vacinador de primeira hora, bancando a produção do Butantan e anunciando vacinação no Estado. O governo federal passou a ser vacinador para não dar espaço a Dória, e não para salvar vidas. E faturar que pagou pelas vacinas, pode ser mais uma fala desconstruída do presidente e seus seguidores que precisam dele para existir no cenário de filme de terror que o Brasil vive. O governo federal pagou, sim, as vacinas, com o dinheiro do contribuinte que paga imposto caro. Então, caro leitor, não esqueça que você pagou pela sua vacina. Até disso o presidente tenta se apropriar. Cabe a quem raciocina com inteligência, e não com interesses, entender.

Boicote à vida

Aqui pelo Rio Grande do Norte teve até representante oficial do bolsonarismo anunciando em mesa de reunião política, lá no início do processo de vacinação, que iria ‘boicotar’ a ‘vacina do Dória’. Sabe aquelas declarações que a gente não tem como provar porque não estão gravadas, mas que você tem certeza que foram ditas? E pasmem. Anunciar boicote à vacina e ser candidato a cargo eletivo. Modelo de político que o Brasil não precisa mais. Mas estes não aprenderam nada com o resultado das eleições passadas, onde uns foram embora de vez, outros se penduraram em um mandato no rabo da gata, como diz a linguagem das vaquejadas, sobre os que ficaram lá atrás nas disputas.

Saúde na UTI

Voltando à negação das vacinas, tema mais indigesto impossível para se começar um ano que poderia ser mais leve – mas nada é leve no governo Bolsonaro – o personagem da vez é o quarto ministro da Saúde do governo, o paraibano Marcelo Queiroga. Ministro que começou até bem, falando linguagem científica, que foi se desmilinguindo à medida que ele foi adotando a máxima do seu antecessor Pazuello : “Ele manda, a gente obedece”, se referindo ao poder de mando do presidente sobre a saúde, apesar de não entender nada sobre Saúde, como não entende de Economia, de políticas públicas, de Educação, de Ciência, de Pesquisa, de meio ambiente, de gestão, de Brasil, de humanidade, de gente…

Queiroga, que substituiu Eduardo Pazuello, que substituiu Nelson Teich, que substituiu Luiz Henrique Mandetta, hoje é o negador número 1 da vacina contra covid para crianças. E conseguiu, com apoio incondicional do Planalto, reunir médicos negacionistas – o Rio Grande do Norte que tem dois ministros também tem seu representante no processo de negar vacina às crianças – para espalhar pelos 4 cantos do país, com direito a patrocínio de laboratórios, que a vacina que está sendo aplicada em crianças de países de primeiro mundo, poderão fazer mal aos brasileiros no futuro. Não usaram da mesma teoria quando quiseram enfiar cloroquina e ivermectina de goela abaixo.

Vestibular

E a teoria de que vacina faz mal para crianças, mata, deixa inválido, infértil e outras milacrias criadas pela milícia negacionista, faz lembrar que a boiada que faz coro sobre riscos da vacina, nunca questionou o pediatra do filho sobre a série de vacinas que mandou aplicar no recém-nascido. Quem procurou saber o significado de BCG? Quem questionou os riscos que o filho correria se tomasse vacina contra difteria, tétano, coqueluche, poliomielite? E haemophilus tipo C? Ah, e precisava saber? Vacinou mesmo não sabendo do que se tratava. Orgulho era encher o cartão de vacina do bebê, que só chorava com tanta furada todo mês durante os primeiros anos de vida. Agora orgulho é não ter formação nenhuma, em muitos casos, mas saber tudo sobre medicina, e principalmente sobre vacina.

E é exatamente, a partir de uma consulta pública inventada pelo ministro da Saúde, que a turma que não se especializou em nada que vai decidir se as crianças brasileiras serão vacinadas ou não contra covid. Doença que no Brasil matou cerca de 10 vezes mais crianças e adolescentes do que os EUA e a Europa. Foram pouco mais de 300 nessa faixa etária, o que dá uma média de uma criança morta a cada dois dias. Dado alarmante se comparado a mortos por difteria, tétano, coqueluche, poliomielite e haemophilus tipo C, que os filhos do negacionismo não contraíram porque se vacinaram.

Deus, Pátria, Família…

Passamos o natal fazendo fazendo as contas, certos de que estamos na reta final de uma pandemia onde mais de 600 mil perderam a vida, e tendo certeza que o número poderia ter sido bem menos. E refletindo a trilogia que foi incutida na cabeça da população desde 2019: Deus, Pátria e Família. ‘Deus acima de todos’, quando na realidade Ele sempre esteve NO MEIO de todos. Pátria esfacelada e destruída com a população sem dinheiro para comprar comida, gás de cozinha, combustível para o carro que voltou para a garagem. E família! O presidente constituiu 3, onde os filhos da primeira figuram entre investigados por rachadinhas e compras esquisitas de imóveis com dinheiro vivo, o filho da segunda não se relaciona com os irmãos nem com a madrasta, e a filha da terceira família, por ser mulher, foi apontada pelo próprio pai presidente, como fruto de uma fraquejada de sua sexualidade. Fica a dica para refletir sobre a pauta de costumes e de valores que imprimiram o modelo de Brasil.