“A participação dos produtores foi o ponto alto da Fenacam 2021”, diz presidente da ABCC

Confira a entrevista com Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão

por: NOVO Notícias

Publicado 22 de novembro de 2021 às 16:00

Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão – Foto: Canindé Soares

Reconhecido por todos os atores envolvidos, direta e indiretamente, com a carcinicultura, a piscicultura e a malacocultura brasileira, como um dos principais entusiastas e motivadores destes setores, Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão, enxerga um futuro promissor no pós-pandemia. Apesar de a crise gerada com a queda dos preços do camarão, mesmo diante de um aumento de 24,4% durante a pandemia, ele diz apostar numa recuperação do mercado já em 2022. E a 17ª da Fenacam foi fundamental neste processo. “A participação dos produtores na Fenacam foi muito boa. E todos vieram motivados. Esse, pra mim, foi o ponto alto da feira este ano”, destacou Itamar, que comemorou a entrada da Caixa Econômica Federal na edição deste ano, realizada entre os dias 16 e 19 de novembro, no Centro de Convenções de Natal.

A instituição financeira, inclusive, lançou um cartão novo, específico para os produtores, que vão ter acesso mais facilitado para a compra de equipamentos e insumos, além de linhas de crédito especiais, com juros baixos, para novos investimentos. Confira mais detalhes nesta entrevista com o presidente da ABCC e idealizador da Fenacam:

Qual a importância da Fenacam para a Carcinicultura?
– Itamar Rocha – Quando a Fenacam foi criada, o objetivo principal era o de divulgação. Mas, ao longo dos 17 anos, a gente vem aprimorando e ela hoje é um instrumento de promoção do setor, de união. Começou com a Carcinicultura, mas depois abrimos para a aquicultura, todos com o mesmo peso e grau de importância. Atualmente, contamos com uma feira eclética, reunindo toda a cadeia produtiva. Tem uns que vendem equipamentos, outros vendem insumos, tem quem venda só camarão, outro só o peixe. Enfim, é um ponto de encontro de confraternização, mas acima de tudo de conversação, entre os produtores e as pessoas que detêm e desenvolvem as tecnologias. Por isso, nós temos a parte de simpósios, que este ano contou com a participação de profissionais de nove países. A Fenacam, hoje, tem o poder de agregar o setor, trazer, conversar e disseminar mais informações que possam ajudar cada vez mais o Brasil a desenvolver essa atividade.

A cadeia produtiva do camarão foi impactada pela pandemia?
– Do ponto de vista da produção, não foi. Nós crescemos em 2020 24,4% em relação a 2019. Agora, do ponto de vista da sustentabilidade econômica foi, porque tudo aumentou, carne, combustível, inflação, mas o camarão baixou. Nós tínhamos um camarão que era para ser vendido por 24 reais, o quilo, e o preço médio hoje tá em 16 ou 17 reais. A cadeia do setor, principalmente, do camarão, é formada por micro e pequenos produtores. Esse pessoal não tem estrutura e condições para processar e dá vida de prateleira maior ao produto. Então, o produto fresco aguenta só 3 ou 4 dias, aí você não tem onde botar e tem que baixar o preço para vender. O produtor não vai deixar o camarão dentro do viveiro, comendo ração, que é cara, gastando energia e morrendo. Chega um ponto que o produtor tem que despescar. Essa cadeia toda de distribuição que foi afetada, teve que fechar (na pandemia), bares, restaurantes, feiras livres, dificultou muito as vendas para fora do estado e da região Nordeste. Por isso, nós fomos afetados no preço. Mas, mantivemos os empregos, crescimento do volume de produção, e a gente espera que depois da Fenacam deste ano o setor consiga se organizar melhor, inclusive, com a entrada de novas instituições de financiamento, como a Caixa Econômica Federal, além do Banco do Nordeste. Esperamos que o próximo ano seja bem melhor, principalmente, na comercialização.

O que o Rio Grande do Norte deve fazer para retomar o posto de maior produtor de camarão do Brasil (hoje, com o Ceará)?
– Precisamos atrair mais investidores e disponibilizar linhas de crédito. A entrada de um banco grande como a Caixa Econômica Federal na Fenacam foi muito importante nesse aspecto, além do Banco do Nordeste. Com isso, a gente espera atrair mais. O mundo todo está demandando mais camarão. A China, que é um grande produtor e, agora, é também um grande importador. O preço do camarão do Equador, por exemplo, que exporta 800 toneladas/ano, aumentou. O da Índia, que exporta 750 toneladas/ano, aumentou. Ou seja, no mundo o preço do camarão aumentou até para quem produz muito. E nós estamos produzindo relativamente pouco e o preço caiu. Além disso, não estamos com o pé fora do Brasil, estamos concentrando praticamente toda produção e venda para o mercado interno. E isso criou uma situação de desconforto para o setor produtivo, que ficou sem opções, e beneficiou uma cadeia de intermediação, que controlou os preços, porque sabe que o pequeno produtor não tem apoio financeiro para sustentar o camarão dentro do viveiro. Mas, agora, com a Fenacam, com a participação do Banco do Nordeste e da Caixa Econômica, as perspectivas são boas. Os pequenos produtores assistiram as palestras, viram tudo, se atualizaram, se informaram. É um setor que precisa de apoio e tem muita perspectiva de crescer. A Caixa, inclusive, lançou um cartão novo, específico para os produtores, que terão acesso mais facilitado para a compra de equipamentos e insumos, além de linhas de crédito especiais, com juros baixos, para investimento.

Qual tem sido a participação da Academia para o setor?
– Analisando os 27 cursos de Engenharia de Pesca do Brasil, o que vejo é o seguinte: eu que fui da primeira turma, na minha época, dos 50 que entravam, 3 ou 4 não concluíram o curso. Hoje, dos 50 que entram, nem 10% conclui o curso. O que pode estar acontecendo é que as pessoas que estão nas universidades, não estão preparando o aluno para o futuro e, talvez, também não esteja ajudando. A universidade parece que ainda não entendeu que o setor de aquicultura é o mais importante do agronegócio no mundo. Era para o Brasil ser produtor e exportador. O mundo vai estar sempre faminto pelo camarão e pescado, e nós não estamos dando a devida atenção para isso. Não estamos atraindo, promovendo, financiando investimento nessa área e colocando essa turma de estudante jovem nessa área em campo. A pessoa faz mestrado, doutorado, passa a vida quase toda estudando e se qualifica num nível que não atende ao micro e pequeno produtor. A UFRN, por exemplo, não esteve na Fenacam. Não adianta vir só o Reitor na solenidade de abertura. Tem que vir na feira, discutir os assuntos: por exemplo, qual os gargalos do setor? Onde é que a universidade pode realmente chegar para ajudar o setor? Eu só entendo que a universidade poderia se aproximar mais e mostrar aos seus alunos que essa atividade tem futuro. Mas, nós não estamos vendo isso, senão não teria esse aproveitamento de apenas 10% dos alunos na conclusão dos cursos.

Qual a expectativa para 2022, depois da 17ª edição do Fenacam?
– Olha, é difícil precisar um volume de negócios que possa ser realizado na feira. Mas, só nosso setor de camarão, por exemplo, tem um faturamento anual de 3 bilhões de reais. O setor da aquicultura chega a faturar 5 bilhões de reais, no Brasil, anualmente. Então, estamos falando de um setor que fatura 8 bilhões no ano. Na feira, estavam presentes os principais players do mercado e todo mundo que veio para cá veio no intuito de fazer negócios também, além de se atualizar e conhecer novas tecnologias. É um negócio muito significativo. Acredito que é gerado algo em torno de 150 a 200 milhões em negócios durante a feira. Andei pela feira inteira, durante os três dias, e o que vi foram pessoas felizes, sorrindo, dando os parabéns, esse é o termômetro.

Qual o destaque da 17ª Fenacam?

– ITAMAR ROCHA – “A participação dos produtores. Contamos com estantes de praticamente todos os estados do Nordeste, que antes não participavam, como Sergipe e Bahia, por exemplo. Todos eles trouxeram os produtores com estandes bem representativos. Eles entenderam que é na feira que o produtor tem condições de conversar com quem detém as tecnologias, das coisas que estão usando e não sabiam quem fazia. Essa troca dá um feedback fundamental, é um avanço para todos. Então, essa interação, para mim, é o ponto alto, sem dúvida. Todos vieram motivados”.

 

 

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