Cotidiano

Os “filhos da pandemia” e a necessidade do convívio social

Crianças que atingiram idade escolar durante a pandemia perderam momentos de socialização importantes ao seu desenvolvimento, diz especialista

por: NOVO Notícias

Publicado 9 de novembro de 2021 às 10:09

Foto: Divulgação

Em todo o mundo, o impacto provocado pelo isolamento social é imensurável. A falta de contato social com outras pessoas, o impedimento de frequentar escolas, creches, parquinhos, entre outros espaços, afetou a rotina de milhares de famílias e crianças. Agora, com o retorno a essas atividades, surgem novos desafios. Entre eles, a inserção social dos pequenos no ambiente escolar, o que merece uma atenção especial.

“As crianças que nasceram ou atingiram a idade escolar durante a pandemia chegam à escola com grande necessidade de socialização. Junto às famílias, estamos aos poucos inserindo-as neste ambiente ainda desconhecido para elas, principalmente, para possibilitar o convívio com outras crianças. Os primeiros momentos são de pura conquista, depois, quando se torna possível ficar na escola sem a presença da família, tudo vira diversão e aprendizado. Para isso, investimos muito no acolhimento, só assim a criança consegue superar a separação, ficando bem entre adultos e colegas de sala”, explica a coordenadora da Educação Infantil da Casa Escola, Ramona Xavier.

Fádyla Araújo, mãe de Letícia (2 anos), diz ter enfrentado alguns desafios na inserção da filha no ambiente escolar. “Logo nos primeiros dias, ela teve muita resistência ao uso da farda. Mais que isso, ela não aceitou usar qualquer tipo de roupa para sair de casa. Me surpreendi, porque ela nunca havia resistido a colocar roupa para ir a outros lugares, embora nossas saídas tivessem sido bem esporádicas nos últimos meses”, comenta.

A escola teve papel fundamental no processo de adaptação de Letícia, segundo a mãe. “Uma instituição de ensino que permite à criança ser criança e viver a infância de forma livre, segura e bem mediada. Eu venho percebendo isso em pouco tempo. As limitações foram respeitadas durante o processo de adaptação da nossa filha”, explica.

Nesse caso, a escola criou estratégias específicas para a aluna. “De início, era preciso que Letícia viesse para a escola, independente da roupa que estivesse trajando. No passo a passo delicado, a escola disponibilizou uma farda para que Letícia pudesse, em casa, vestir o seu ursinho de pelúcia, seu brinquedo favorito. Ambos começaram a vir à escola devidamente fardados, Letícia e o ursinho Billy. Hoje em dia, o ursinho já fica em casa. Isso foi uma grande conquista realizada em parceria com os pais”, conta a coordenadora.

Um estudo realizado, recentemente, pela Universidade Miguel Hernández/Espanha, apontou que, nove em cada 10 famílias observam mudanças no estado emocional e comportamental das crianças nesse período de pandemia. Depois desse tempo prolongado em casa, cada vez mais, pais e mães percebem a importância da escola na vida de crianças e jovens.

A docente de psicologia da Estácio, Elaine Eufrásio, alerta que “o isolamento social atingiu (e ainda atinge) diretamente não só adultos, mas principalmente crianças e adolescentes, por serem mais vulneráveis devido à sua condição de indivíduos em desenvolvimento, independentemente de sua condição social. O longo período de isolamento social e a falta de convivência com seus pares pode trazer graves danos à saúde física e mental”, explica.

Para Cristiana Oliveira, mãe de Isaías, de três anos, aluno do Grupo 2 da Casa Escola, a decisão de inserir o filho no ambiente escolar já estava tomada desde o início, mas foi adiada pela pandemia. “Sempre soubemos e acreditamos no poder de crescimento e socialização da escola e, hoje, percebo diariamente a urgência de proporcionar a Isaías o contato com outras pessoas, principalmente crianças da mesma faixa etária”, explica Cristiana.

Já no caso de Gael, da mesma idade e classe que Isaías, a mãe Mayara Paiva, que é médica, tentou inseri-lo no convívio com outras crianças assim que ele chegou à idade escolar, o que não ocorreu devido à Covid-19. Mais de um ano depois, Gael entrou para a escola, quando a família percebeu o ambiente afetivo, acolhedor e promissor para o desenvolvimento do filho.

Para Gael, que é filho único, a escola é essencial. De acordo com Mayara, “ficar em casa acaba facilitando o acesso à televisão e ao celular e, nessa idade, ele precisa do convívio com outras crianças e também do aprendizado que a escola oferece. O carinho e o acolhimento, tanto conosco quanto com Gael, fizeram toda diferença. O difícil agora é explicá-lo que sábado e domingo não tem aula”, comenta animada.

Os pais precisam se empenhar para esse convívio, pois, segundo a psicóloga Elaine Eufrásio, a vida social ativa que as crianças usufruem na escola tem impacto direto no futuro delas. “As atividades escolares fornecem estrutura, ritmo e rotina à vida diária das crianças e jovens, contribuindo para estarem mais ativos”, afirma Elaine Eufrásio. E isso na escola, ela reforça, ocorre em várias situações tanto na companhia dos colegas como sob o olhar atento e cuidadoso dos adultos que optaram e se formaram na área da Educação.

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