Sociedade Brasileira de Infectologia pede volta de vacinação para adolescentes sem comorbidades

Entidade afirma que benefícios da imunização de jovens superam substancialmente quaisquer riscos

por: Foto do autor Daniela Freire

Publicado 17 de setembro de 2021 às 16:03

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) manifestou, nesta sexta-feira, posição divergente ao Ministério da Saúde, que recuou ontem na vacinação de adolescentes sem comorbidades, e pediu à pasta a revisão da posição. “Suspender a vacinação de adolescentes nesse momento pode prejudicar o bom andamento do controle da pandemia no território nacional, bem como gerar insegurança quanto ao uso dos imunizantes”, apontou a entidade em nota.

Dentre os motivos apresentados em nota, a entidade reforça que o imunizante Pfizer foi autorizado pela Anvisa na aplicação em jovens de 12 a 17 anos, apresentando eficácia e segurança, comprovados em estudos científicos. O texto questiona também os 1.545 eventos adversos, dado apresentado pelo governo federal em coletiva à imprensa ontem. Segundo a SBI, não houve divulgação da gravidade destes eventos, tampouco é sabido se eles ocorreram de forma casual/aleatória ou se foram correlacionados de modo direto à aplicação do imunizante (relação causa-efeito).

Da mesma forma, faz os mesmos questionamentos em relação ao registro de óbito de um adolescente de 16 anos que recebeu a vacina da Pfizer. “O caso está em investigação pela Anvisa e não permite, até o momento, concluir se teve relação com a aplicação do imunizante”, destaca a entidade.

“Os benefícios da vacinação de adolescentes superam substancialmente os riscos. A incidência de eventos adversos graves, como miocardite e/ou pericardite, é de 16/1.000.000 de pessoas que recebem duas doses da vacina. A própria Covid-19 pode causar danos cardíacos relevantes, tanto em adultos como em adolescentes, com uma frequência mais elevada”, destacou a nota, que lembra que a vacinação desta faixa etária, com a Pfizer, já ocorre em outros países.

Sociedade Brasileira de Imunizações também critica recuo

Nessa quinta-feira, a Sociedade Brasileira de Imunizações também se posicionou contrária à decisão do governo federal. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) afirmou, em nota, que a “medida gera receio na população e abre espaço para fake news”.

A associação disse entender “que a população de maior risco deve ser priorizada” na campanha de imunização, porém discordou dos pontos apontados pelo ministro Marcelo Queiroga para embasar a decisão da pasta. Segundo a SBIm, “as justificativas apresentadas não são claras ou não têm sustentação”.

A entidade destacou a melhora no cenário epidemiológico brasileiro em razão da campanha de imunização em massa. “Não há evidências científicas que embasem a decisão de interromper a vacinação de adolescentes, com ou sem comorbidades. A SBIm, portanto, entende que o processo deve ser retomado, de acordo com o que já foi avaliado, liberado e indicado pela Anvisa.”

Entenda o caso

ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, confirmou na tarde dessa quinta-feira que o governo decidiu que só sejam vacinados adolescentes entre 12 e 17 anos com deficiências permanentes, comorbidades ou privadas de liberdade.

Em 2 de setembro, a pasta publicou uma nota informativa recomendando a vacinação de todo esse público. Durante a coletiva, Queiroga afirmou que “de forma intempestiva” quase 3,5 milhões de crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos receberam a vacina. Desse total, 1,5 mil apresentaram eventos adversos.

A crítica do ministro é que os estados iniciaram as aplicações antes da data prevista na nota técnica anterior. Secretários de Saúde demonstraram surpresa pela suspensão da imunização de crianças e adolescentes sem uma deliberação tripartite. “Quem fica surpreso sou eu. Porque a vacinação deveria iniciar no dia 15 [de setembro] e, inclusive, foram feitas imunizações com vacinas fora das recomendações da Anvisa.”

Queiroga afirmou, ainda, que aqueles adolescentes que já tomaram a primeira dose não devem completar o esquema vacinal, exceto se fizerem parte dos grupos prioritários. A nova orientação vale “até que se tenha mais evidências para seguir adiante”.

Com informações do Crreio do Povo e do R7