Às vésperas do 11 de setembro de 2021, os talibãs voltaram a controlar Cabul, depois de uma vitória relâmpago sobre o Exército afegão que Washington se gabava de ter formado, financiado e equipado
Publicado 10 de setembro de 2021 às 17:40
Os Estados Unidos recordam no sábado o 20º aniversário dos mais graves atentados de sua história, com o presidente Joe Biden enfraquecido pelo final caótico da guerra no Afeganistão, iniciada em represália justamente aos ataques executados pela Al-Qaeda que abalaram o mundo.
Vinte anos depois, a emoção segue intensa em um país que ficou em estado de choque com os atentados de 11 de setembro de 2001. Na manhã daquela terça-feira, 19 terroristas, a maioria sauditas, membros da organização Al-Qaeda, sequestraram quatro aviões comerciais e lançaram as aeronaves contra as Torres Gêmeas de Nova York, o Pentágono (nas proximidades de Washington). O quarto avião, que supostamente teria o Congresso como alvo, caiu em um campo na Pensilvânia.
A dor ainda está viva nas famílias dos mortos. “Tenho a sensação de que acabou de acontecer”, afirma Monica Iken-Murphy, viúva de um agente da Bolsa de 37 anos que trabalhava no 84º andar da Torre Sul.
O presidente Biden e sua esposa Jill são aguardados em Nova York para participar na cerimônia de homenagem, durante a qual, como acontece a cada ano, serão lidos os nomes das 2.977 pessoas que morreram nos ataques.
O casal presidencial, que será acompanhado por outros ex-presidentes na cerimônia, seguirá pouco depois para a Pensilvânia e ao Pentágono, onde também prestarão homenagens às vítimas e depositarão coroas de flores. Não está previsto nenhum discurso do chefe de Estado.
O Marco Zero de Manhattan, onde ficavam as Torres Gêmeas, se tornou um local de peregrinação e homenagem aos falecidos. Os dois edifícios foram substituídos por um monumento, uma imensa fonte com formato de piscina cujas paredes funcionam como suaves cascatas e têm os nomes gravados das 2.753 vítimas de Nova York.
De um lado, no museu memorial do 11/9 estão expostos um pedaço da escada por onde alguns sobreviventes conseguiram escapar de maneira milagrosa, pedaços do muro dos edifícios transformados em uma massa de escombros, vigas de aço retorcidas pelo calor do fogo provocado pelo impacto dos aviões carregados de combustível, fotografias das vítimas e a reconstituição com imagens do que foi aquele dia frenético que deixou mais de dois bilhões de pessoas no mundo grudadas diante das TVs, rádios ou telas de computadores.
Afeganistão de novo
Nas duas décadas seguintes, um novo arranha-céus foi construído em Manhattan para substituir as Torres Gêmeas. O líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, foi morto.
E no último mês, o Talibã, que foi expulso do poder por ter abrigado Bin Laden, retornou ao governo em Cabul e os últimos soldados americanos abandonaram o país.
Biden, que deu continuidade à decisão do antecessor Donald Trump de acabar com a presença militar dos Estados Unidos no Afeganistão, enfrenta um país irritado com a precipitada e conturbada retirada de Cabul, marcada pela morte de 13 militares em um atentado em 26 de agosto reivindicado pelo braço afegão do grupo Estado Islâmico.
As mulheres e homens mortos no mês passado na capital afegã haviam acabado de nascer quando o país iniciou a invasão do Afeganistão, ponto de partida da “guerra contra o terrorismo”.
Os atentados “afetaram todos, de uma forma ou outra”, comenta à AFP Patricia Litewski, de 52 anos, que viajou de Illinois a Nova York para visitar o museu pela segunda vez.
“Estou convencida de que este memorial é completamente necessário para recordarmos do que aconteceu, mas também para recordar que continuamos enfrentando desafios no que diz respeito ao terrorismo e que, após nossa saída do Afeganistão, poderemos sofrer mais no futuro”, afirma.
Na memória
Mark Pierson, um bombeiro que há 20 anos participou nos trabalhos de busca de vítimas entre os escombros, chegou a Nova York procedente de San Diego para participar nas cerimônias de sábado, ao lado da esposa e das filhas de 11 e 8 anos.
“Estão na idade de compreender o que é bom ou ruim e ter uma ideia da maldade que aconteceu naquele dia”, explica.
Stephen Walt, professor de Relações Internacionais de Harvard, questionou na revista Foreign Policy “como será recordado o 11 de setembro em seu centenário”, em 2101.
As gerações futuras vão considerar uma tragédia espetacular, mas finalmente menor, ou como uma guinada fundamental na trajetória dos Estados Unidos e da política internacional?”, pergunta Walt, ao mesmo tempo que responde que “o significado” de um fato histórico “depende dos que o interpretam (…) americanos, afegãos, iraquianos, sauditas ou europeus”.
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