Soma é resultados da estimativa de R$ 30 bilhões em projetos de energia eólica e solar somados a outros R$ 45,6 bilhões previstos para projetos visando a produção de hidrogênio verde. Neoindustrialização tem como base o uso de energias renováveis pela indústria
Publicado 23 de setembro de 2024 às 08:00
Os projetos de energia renovável no RN preveem até 2029, pelo menos, R$ 75,5 bilhões em investimentos. São R$ 30 bilhões em projetos de energia solar e eólica e outros R$ 45,5 bilhões em projetos para produção de hidrogênio verde.
A soma coloca o RN em posição de destaque no que diz respeito à chamada neoindustrialização brasileira, que é pautada pelo uso de fontes sustentáveis e alinhada à agenda internacional de combate às mudanças climáticas.
Os números foram levantados junto à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec-RN) e levam em consideração as perspectivas reais para os próximos anos. Esse é o cenário atual, contudo, esses valores poderão se tornar ainda maiores.
Para dar uma ideia da pujança desses investimentos, em 2022, os projetos de energia solar somaram R$ 21,8 bilhões em investimentos, enquanto a eólica ficou em R$ 9,3 bilhões. Em 2023, esses valores foram de R$ 17,1 bilhões para solar e R$ 5,4 bilhões para eólica.
Os investimentos em energia solar estão de tal modo que mudaram a balança comercial do estado. Hoje, o principal produto importado para o RN são placas de painéis solares, para parques que ainda serão instalados no território potiguar.
De acordo com a Sedec, a estimativa é de que nos últimos 13 anos, a energia sustentável no RN foi responsável por um investimento entre R$ 45 a 50 bilhões (de 2010 a 2023). Esse valor inclui tudo que foi necessário para a implantação dos parques no estado.
Agora em 2024, de janeiro a junho, o Rio Grande do Norte registrou investimentos de R$ 6,1 bilhões em eólica e R$ 3 bilhões em solar.
E também registrou — no início do segundo semestre — o primeiro contrato para produção de hidrogênio verde do Brasil. Esse contrato, cujo investimento previsto é de R$ 40 milhões, foi firmado entre a CPFL Energia e a Mizu Cimentos, com apoio do governo do Rio Grande do Norte e do Consórcio Nordeste.
O projeto consiste em uma planta-piloto que usará energia renovável para produzir o hidrogênio verde a ser utilizado nos fornos rotativos da companhia de cimento, que ficam na cidade de Baraúna, a cerca de 300 quilômetros de Natal, na divisa com o Ceará.
A assinatura do contrato com a Mizu é apenas a fresta de luz um novo horizonte de oportunidades que está começando a se descortinar para o RN. De acordo com o secretário-adjunto da Sedec, Hugo Fonseca, há pelo menos outros quatro projetos privados de hidrogênio verde sendo desenvolvidos no RN.
Um deles foi destacado recentemente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no estudo “Hidrogênio sustentável: perspectivas para o desenvolvimento e potencial para a indústria brasileira”, que lista mais de 60 projetos de hidrogênio a partir de fontes renováveis no Brasil, com investimentos totais estimados em R$ 188,7 bilhões.
O projeto citado pelo estudo da CNI no RN visa a implantação do Complexo Industrial para produção de Hidrogênio e Amônia Verde – Alto dos Ventos. De acordo com a CNI, o investimento total é de R$ 12,9 bilhões.
O pedido de licenciamento prévio foi apresentado ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) em maio de 2023 e informava que seriam gerados 50 empregos diretos. A planta deve ocupar uma área de 200 mil metros quadrados.
Há também um projeto em Areia Branca, com investimento estimado em R$ 13 bilhões, cuja licença prévia foi pedida pela Maturati Participações em abril de 2024. O pedido prevê a instalação do Complexo Industrial Morro Pintado – Usina de Geração de Hidrogênio Verde/Amônia.
Trata-se de um projeto híbrido com mais de 1 GW de capacidade instalada – composto por 231 MW de energia eólica e 812,5 MW de energia solar. De acordo com o memorando assinado pelo governo do estado e a empresa em agosto deste ano, o projeto tem potencial para gerar 3 GWh por ano.
A previsão é que a nova planta entre em operação até janeiro de 2026. Segundo o memorando, estima-se a geração de 52 mil toneladas de hidrogênio verde e derivados como amônia e ureia verde por ano.
De acordo com Hugo Fonseca, há ainda outros dois projetos em Galinhos, cujos investimentos são estimados entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões (cada). Para a estimativa total foi usado o valor de R$ 7 bilhões, cada.
No Diário Oficial do Rio Grande do Norte, em maio de 2023, em julho e agosto deste ano, constam pedidos de licença de alteração “visando a instalação de uma planta piloto de eletrólise de água de hidrogênio sustentável por meio de um projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), localizada na Ilha de Pisa Sal, Zona Rural”.
Além das iniciativas já citadas, o Governo do Estado desenvolve o projeto do Porto-Indústria Verde, que deve ser instalado em Caiçara do Norte (RN), a cerca de 154 quilômetros de Natal. De acordo com estudos feitos, a obra está orçada em R$ 5,6 bilhões e será implantada em uma área de 13 mil hectares, gerando 50 mil novos empregos diretos e indiretos
“O Porto-Indústria é um grande hub de produção de hidrogênio, onde vai estar concentrado um pool de usinas, que vão produzir hidrogênio e vão usar a logística para distribuir esse hidrogênio para o mercado técnico brasileiro e também para o mercado externo”, explica Hugo Fonseca.
A tendência é que o Rio Grande do Norte observe já nos próximos anos uma nova mudança na sua matriz energética, com a produção de energia solar ultrapassando a fonte eólica. “A tendência é que até 2029 a fonte solar, nesse ritmo de crescimento, supere a fonte eólica como a principal fonte de geração de energia no estado”, afirma Hugo Fonseca.
Ele explica que tendo por base o que já está como potência outorgada, a energia eólica responde por 11.1 gigawatts enquanto a solar está com 10.9 gigawatts. “A diferença entre a eólica solar, está em torno de quase 200 megawatts. É muito pouco. Então a tendência é que a solar, ela ultrapasse os dados de potência instalada outorgada a eólica”.
De acordo com o secretário-adjunto, essa ultrapassagem poderá ocorrer no final de 2025 e início de 2026. “Vai depender muito do cenário que a gente vai encontrar agora no segundo semestre. Porque o que está acontecendo é que estamos vivendo um período de seca grande agora, e se houver aí uma perspectiva de melhora de preços no mercado, pela demanda que tende a ser crescente agora no segundo semestre, e ir se intensificando até o final de fevereiro, no início de março, a tendência é que nós teremos um volume maior de contratação da solar pelo preço que será mais competitivo e ela tende a passar”, explica. De acordo com Balanço Energético do primeiro semestre de 2024 produzido pela Sedec, o Rio Grande do Norte superou a marca de 24 gigawatts de potência outorgada para geração de energia elétrica.
Investimentos 1º semestre de 2024
▸ Eólica: R$ 6,1 bilhões
▸ Solar: R$ 3 bilhões
Investimentos em 2023
▸ Eólica: R$ 5,432 bilhões
▸ Solar: R$ 17,180 bilhões
Investimentos em 2022
▸ Eólica: R$ 9,378 bilhões
▸ Solar: R$ 21,884 bilhões
Investimentos feitos de 2010 a 2023
▸ Entre R$ 45 a R$ 50 bilhões
Investimentos em Eólica e solar previstos até 2029
▸ R$ 30 bilhões
Investimentos em Hidrogênio Verde previstos
▸ 01 Projeto em Macau – R$ 12,9 bilhões
▸ 02 Projetos em Galinhos – R$ 6 a 8 bilhões (cada)*
▸ 01 Projeto em Areia Branca – R$ 13 bilhões
▸ Porto-Indústria Verde – R$ 5,6 bilhões
▸ 01 Projeto (contrato assinado) – R$ 40 milhões
Fonte: Sedec/RN
*Para a soma total usou-se a estimativa de R$ 7 bilhões, cada
Nos últimos 20 anos, o Rio Grande do Norte vem construindo uma história de destaque nacional na área de energias renováveis. Prova disso é sua posição de liderança na produção de energia eólica por uma década. E nessa trajetória, a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern) tem um papel de destaque.
Na entrevista a seguir, o presidente da entidade, Roberto Serquiz, explica tudo o que a Federação fez e anuncia que até o final de setembro será entregue “uma proposta de alteração da lei complementar 272/04”, que trata da Política e do Sistema Estadual do Meio Ambiente. “Em nossa visão vai modernizar e racionalizar o licenciamento do estado”, afirma.
Ele também fala sobre o que a Fiern está fazendo diante desse novo cenário de neoindustrialização no qual o RN está inserido. A Federação — segundo ele — desenvolveu um projeto voltado à indústria de transformação e trabalha atualmente “na perspectiva da filiação de novos setores”.
Confira os principais pontos da entrevista
Nos últimos 20 anos, o Rio Grande do Norte vem construindo uma história de destaque no setor de energias renováveis. Como a FIERN vê esse processo? E como foi a participação da Federação nessa história?
Roberto Serquiz – A qualidade dos nossos ventos e sol, levaram o RN a obter a preferência dos investidores. Desde o primeiro momento a FIERN tem concentrado esforços para garantir apoio técnico, segurança jurídica e bom ambiente de negócios. Nesse sentido, em 2018, a Federação apresentou ao Conema uma proposta de resolução de energia fotovoltaica e, em 2021, participou de um GT que elaborou a proposta de resolução de Energia Eólica. Recentemente, iniciou as discussões com a Assembleia Legislativa referente ao Marco legal do Hidrogênio Verde. Através do CTGAS-ER, Centro de referência nacional em Petróleo, Gás e Energias Renováveis, ligado ao SENAI-RN, tem criado toda uma estrutura física e funcional, com laboratórios, estudos, pesquisa aplicada e inovação nessa área. Temos a primeira faculdade de ensino superior para formação de profissionais para energias renováveis e já coordenando um pool de 5 estados na qualificação de mão de obra para o hidrogênio verde. A cada dia o SENAI-RN se prepara mais para o atendimento nessa área. Neste ano foi inaugurado o laboratório de hidrogênio verde, já produzindo em escala laboratorial. Criamos uma oficina para produção de bóias oceânicas e agora iniciamos a montagem de uma usina parque fotovoltaico experimental.
Recentemente, o RN assinou o primeiro contrato de comercialização de hidrogênio verde do Brasil. Que avaliação o senhor faz desse marco?
RS – Esse foi o primeiro contrato de compra e venda de hidrogênio entre duas empresas no Brasil, simbolicamente aqui no Rio Grande do Norte, e isso tem muita importância porque dá o pontapé inicial de uma cadeia que tanto se discute e de tamanha importância para o futuro do país. As condições de produção do Rio Grande do Norte, de disponibilidade de energia renovável, que é matéria-prima para a produção de hidrogênio verde, dão o tom da importância que o estado tem para o nascedouro e o desenvolvimento do setor. Duas gigantes, a Mizu, no setor de cimentos, e a CPFL, no setor de energias renováveis, mostram à sociedade a importância do nascimento de uma cadeia e a importância do Rio Grande do Norte para esse setor que está nascendo.
A CNI divulgou esta semana que o Brasil terá investimentos de R$ 188,7 bilhões para mais de 20 projetos de hidrogênio a partir de fontes renováveis. Um desses projetos é no RN e representa investimentos de R$ 12,9 bilhões. Como o senhor avalia esse novo cenário apontado pela CNI com relação ao RN?
RS – Com otimismo e responsabilidade, tanto que o nosso centro de referência em Energias Renováveis nacional, o ISI-ER e o CTGAS-ER, cada vez mais recebe investimentos físicos, mantém um grupo de profissionais em graduação, doutorados e pós doutorados, promove intercâmbio internacionais, sempre no propósito de termos a máxima competência para recepcionar e podermos tornar esses recursos em desenvolvimento sustentável.
Levando em consideração as potencialidades do Rio Grande do Norte em solar, eólica e também em hidrogênio verde, pode-se dizer que o estado está inserido nesse processo de neoindustrialização que está em debate no Brasil. Como a FIERN analisa este momento?
RS – É um momento promissor, em que o mundo aposta em nosso potencial, e a transição energética global passa obrigatoriamente pelo RN. Mas também é dever transformar isso em benefícios para nossa sociedade.
Levando em consideração os dados já apresentados, como foi e como tem sido a participação da FIERN nesse processo de neoindustrialização no qual o RN se insere?
RS – A economia globalizada despertou para neoindustrialização. A exceção da China, Índia…. as próprias nações mais desenvolvidas priorizaram as commodities. A pandemia e os recentes conflitos geopolíticos, convidou todos a investirem na indústria de transformação. Os EUA, a Comunidade Europeia e o Reino Unido estão investindo trilhões na indústria manufatureira. O Brasil segue essa tendência com a NIB (Nova Indústria Brasil), com aporte de 342,5 bilhões. Com esse entendimento, iniciamos o nosso primeiro ano de mandato na mesma direção. Formulamos um projeto denominado de “Meritocracia”, em apoio sobretudo à indústria de transformação, chamando todas as lideranças para esse processo de mudança mundial. Assim, estamos fortalecendo as diversas atividades industriais do estado. Inclusive na perspectiva da filiação de novos setores.
Na sua opinião, como presidente da FIERN, qual foi a maior contribuição que a FIERN deu e dá ao RN nesse novo cenário que se descortina?
RS – Ao longo desses nove meses à frente da FIERN, contando com uma equipe comprometida e com um olhar para como podemos melhorar a competitividade da indústria, apresentamos diversas propostas e ações, em destaque:
1 – Minuta de Parceria Público-Privado ( PPP)
2 – Levantamento de dados mostrando a viabilidade do tradicional Porto de Natal; indicando os custos e investimentos necessários para recuperação e potencial de cargas (entradas e saídas). Diálogo contínuo com diversas empresas marítimas interessadas em operar no nosso Porto.
3 – Mostramos e compartilhamos solução para viabilizar o leilão do Terminal Pesqueiro de Natal.
4 – Entregamos ao Estado uma minuta de lei de Política Industrial, de forma a preparar o RN para o período pós reforma tributária.
5 – Até o final desse mês, vamos entregar uma proposta de alteração da lei complementar 272/04, que em nossa visão vai modernizar e racionalizar o licenciamento do estado.
6 – Apresentamos propostas efetivas para melhoria do ambiente de negócios no RN.
7 – Temos segurança em afirmar a necessidade de uma ampla aliança entre os poderes, o setor produtivo e a sociedade para equacionar a situação fiscal.
8 – Entregamos à Zurick, um levantamento de carga para viabilizar o tráfego de aviões cargueiros.
Como presidente da FIERN, que desafios o senhor enxerga com relação à essa nova indústria no RN? Quais os gargalos que esse cenário apresenta e requerem solução?
RS – Como desafios temos que melhorar a infraestrutura, numa perspectiva de integração dos 4 modais; rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo. Como gargalo, melhorar o ambiente de negócio.
E quais são as maiores possibilidades para o RN?
RS – Didaticamente, no RN, a economia (PIB) do estado está nas mãos do Petróleo, Energias Renováveis, Mineração, Fruticultura, Pesca e Sal. A Indústria de Transformação é a nova aposta, a qual precisamos de ampla atenção e apoio.
Que avaliação o senhor faz do desempenho do governo estadual e do governo federal nesse cenário?
RS – Ambos enfrentam problemas fiscais. Que precisam ser solucionados sem sufocar o setor produtivo e a sociedade com aumento de carga tributária. Um olhar mais coletivo, foco no gasto público, guardando minimamente os interesses particulares, seria a balança ideal. ■
386 usinas (comercializadas e outorgadas)
Sendo:
– 304 em operação
– 15 em construção
– 67 ainda serão construídos (já comercializados)
Potência instalada: 13.1 gigawatts
260 comercializadas e outorgadas
Sendo:
– 43 em operação
– 16 em construção
– 201 ainda serão construídos
Potência instalada: 10.9 gigawatts
34 usinas
Potência instalada: 464 megawatts
2 usinas
Potência instalada: 61 megawatts
1 usina (Armando Ribeiro Gonçalves)
Potência instalada: 4,7 megawatts
FONTE: Sedec
O Rio Grande do Norte é um dos dos atores principais desse processo de neoindustrialização no Brasil. Quem afirma é o economista e diretor de Planejamento do Banco do Nordeste do Brasil, José Aldemir Freire. Segundo ele, a neoindustrialização de que se fala atualmente é uma estratégia que o Brasil passa a adotar para trazer a indústria ao centro do desenvolvimento nacional.
“Nos últimos anos a indústria perdeu espaço na economia brasileira. Você teve uma reprimarização da economia do Brasil com o crescimento sobretudo dos setores de commodities”, explica. E detalha: “Então agora se fala em neoindustrializar, que não é apenas você reindustrializar o país nos moldes antigos, mas é você instalar uma indústria que seja tecnologicamente moderna e que esteja inserida e competitiva nos mercados internacionais. É você adensar as cadeias produtivas que a gente já tem, de modo a que você agregar valor e complementar a produção industrial brasileira”.
Nesse cenário, observa, o Rio Grande do Norte e o Nordeste estão muito bem posicionados. “O Rio Grande do Norte é um dos atores principais desse processo. Se nós olharmos lá quais são as seis missões da nova indústria Brasil, que é a política que vai materializar essa nova industrialização, uma dessas missões é justamente o desenvolvimento da indústria de geração de energias renováveis”, afirma.
De acordo com Aldemir Freire, a expansão do setor elétrico nacional nos últimos anos vem sendo puxada, sobretudo, pela energia renovável, a eólica e a solar. “E, quando olhamos nesse cenário, sobretudo na indústria eólica, o Rio Grande do Norte está na liderança”, comenta.
Ele explica que além de eólica e solar, a tendência do futuro da energia no Brasil é que deve continuar “nesse processo de geração de energia eólica e solar, mas também o desenvolvimento da energia eólica offshore”. “No caso da energia eólica offshore, o Rio Grande do Norte também está muito bem posicionado como um dos principais locais para a expansão dessa indústria”.
O diretor de Planejamento do BNB vai mais além e cita que se olharmos um pouco mais à frente teremos ainda o hidrogênio verde, para o qual o RN fechou o primeiro contrato de venda no Brasil e possui projetos em andamento. Ele destaca inclusive que além dos projetos privados, o RN está desenvolvendo o Porto-Indústria Verde, que também servirá à produção de hidrogênio verde.
“Então, o Nordeste já está nesse processo de neoindustrialização brasileira e com grande potencial para desenvolver cada vez mais”, afirma.
O Banco do Nordeste já participa deste processo como um dos grandes agentes financeiros da geração de energia eólica e solar no Nordeste e no Rio Grande do Norte. “Praticamente todos os grandes campos de produção, sítios de produção de energia, que é solar e eólica do Rio Grande do Norte, a gente está presente”, informa Aldemir Freire.
Agora, o banco está captando recursos do mercado internacional para avançar nesse processo de produção de energia renovável e para um processo de descarbonização da indústria do Nordeste do Rio Grande do Norte. “O Banco do Nordeste tem sido um dos principais atores do desenvolvimento da infraestrutura energética da região Nordeste do Brasil e queremos fortalecer cada vez mais esse papel”, afirma.
Em meio a esse cenário de neoindustrialização, Aldemir Freire chama a atenção para os desafios que o RN precisa encarar e superar se quiser obter o melhor desenvolvimento dessa nova fase na geração de energia e que envolve a questão da transição energética.
“Os dois principais desafios para o Rio Grande do Norte são: fazer com que essa grande produção de energia renovável no Estado traga benefícios para as comunidades locais, que isso venha acompanhado de mudança nas condições de vida da população do Rio Grande do Norte não se transformar apenas em produtores de energia renovável para o mundo e para o Brasil, ser exportador de uma commodity verde”, afirma.
Com relação ao primeiro desafio, ele avalia que “não basta apenas você gerar energia verde”. “A produção dessa energia renovável precisa trazer desenvolvimento econômico e social para a região na qual ela está inserida”.
Quanto ao segundo, ele explica que a produção de energia precisa desenvolver toda uma cadeia industrial que poderá representar, inclusive, geração de empregos no estado. Aldemir Freire avalia que o RN precisa atrair não só a indústria produtora de equipamentos e insumos para essa geração de energia como também “uma indústria que vai aproveitar essa energia verde para gerar novos produtos”.
Ele observa ainda que em meio a essa perspectiva, a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte pode ter papel importante nessa nova fase da indústria no estado. Ele cita como exemplo o setor empresarial do Ceará, que é “um grande vetor de investimentos no setor de energias da região”, com empresários locais que são produtores de energia e estão articulados com investidores locais e internacionais.
“A FIERN pode ter um papel relevante nesse processo, um processo em que levar também o empresariado do Rio Grande do Norte a fazer investimento nesses segmentos. Levar os empresários do Rio Grande do Norte a participar também desse processo, a não deixar apenas que você venha investimentos de fora e fazer uma articulação para aproveitar a oportunidade do Rio Grande do Norte como produtor de energia para também desenvolver ainda mais a indústria local, afirma.
Para Aldemir Freire, o momento é uma oportunidade para que os empresários locais entrem nesse processo de investir “num estado que tem um grande potencial de se converter num estado verde, num estado grande produtor de energia e desenvolvimento para a região”.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, Sílvio Torquato, acredita que os investimentos previstos no setor de energia sustentável dentro desse cenário de neoindustrialização no RN serão responsáveis pela geração de milhares de empregos no estado. Como o NOVO mostrou, os projetos de energia renovável no RN preveem R$ 75,5 bilhões em investimentos até 2029. E que para além desses empregos, haverá um novo ciclo econômico.
“Os profissionais que vão trabalhar nessas empresas vão contratar serviços, comprar mercadorias, enfim, todo um ciclo econômico que estará em movimento, com seus desdobramentos na oferta de trabalho e ampliação da renda. Isso vai ter um desdobramento para a nossa economia importantíssimo”, afirma.
O secretário avalia que tudo isso será possível porque — entre outros aspectos — o governo está atento às oportunidades que haverá a partir da geração offshore eólica (no mar). “É a partir dos parques que deverão ser instalados na costa do Rio Grande do Norte que a produção de hidrogênio no Estado deverá ficar atrativa e ganhar escala. Com o Porto-Indústria Verde, isso terá possibilidade inclusive para exportação. E para atrair novas indústrias ao RN”, diz.
Ele lembra que essa trajetória que hoje dá ao RN uma posição de destaque começou a muitos anos e que um de seus marcos foi a criação da secretaria especial de energias, durante o governo Wilma de Faria e que teve como 1º secretário o ex-senador e ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
“O governo Fátima Bezerra tem a convicção e a determinação para adotar as ações necessárias e as articulações com o governo federal para que possamos dar os saltos no crescimento em energias renováveis. Essa sinergia atual tem contribuído muito para avançarmos”,afirma
E acrescenta: “O resultado podemos constatar. O Rio Grande do Norte lidera a geração de energia eólica do país. Conseguimos colocar há dez anos o Estado na liderança em geração de energia eólica. E esse progresso avança. Hoje, são 248 parques eólicos no RN. E a geração dessa energia chega, no estado, há quase 10 gigawatts”.
A opinião do secretário é confirmada por estudo recente publicado pela Confederação Nacional da Industria (CNI, no qual é afirmado que o Brasil precisa de quase 3 mil técnicos por ano para expandir tecnologia do hidrogênio verde.
De acordo com o estudo, são necessários:
Em resposta a essa demanda, uma das iniciativas é do Sistema Fiern: trata-se do primeiro “Centro de Excelência em Formação Profissional para Hidrogênio Verde” do Brasil, que foi inaugurado em fevereiro deste ano.
O laboratório funciona no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, em Natal. Além disso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) lançou a primeira pós-graduação em H2V da rede, pelo UniSENAI.digital e mais cinco laboratórios regionais (Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Bahia e Ceará), voltados para a educação profissional e superior nesse novo setor.
*Fonte: Sedec-RN
Além de ser secretário de Desenvolvimento Econômico, Silvio Torquato ocupa uma das vice-presidências da Federação das Indústrias do RN (Fiern). E defende que a entidade teve um papel fundamental na construção dessa realidade que hoje dá ao RN uma posição destaque nacional.
“A FIERN atua de maneira decisiva para chegarmos aos dez anos de protagonismo em energia renovável. Algo que merece destaque e reconhecimento é a atuação do CTGAS, instituição do Sistema Fiern”, afirma.
Inicialmente — explica — o Centro de Tecnologias do Gás (CTGÁS) fez um trabalho de pesquisa e consultoria de excelência em petróleo e gás. APós isso, foi ampliado e se tornou CTGAS-ER, ao passar a atuar também na área de energias renováveis.
“Isso foi muito importante para destacar nosso Estado como referência em pessoal qualificado nesse setor. E propiciar as bases para que o Sistema FIERN também criasse, no local, o Instituto SENAI de Energias Renováveis (ISI), outro centro de excelência em pesquisa, com laboratórios de hidrogênio verde e combustíveis limpos”, explica Silvio Torquato.
Uma das pesquisas que o vice-presidente da Fiern destaca é a que atua no desenvolvimento de um combustível de aviação sustentável. Ele cita também que em parceria com o governo do Estado, “as instituições que integram o SENAI também fizeram o Atlas Eólico e Solar do RN, um mapa com capacidade para mostrar as nossas potencialidades de geração de energia nessas áreas”.
“A FIERN e o governo mantêm um diálogo efetivo e permanente e apresentam diversas contribuições ao desenvolvimento. Programas que dão resultados cada vez mais animadores. Tanto que a projeção feita por especialista é de que o PIB industrial do Estado deve crescer este ano 10%. A FIERN é parceira na construção da liderança do Rio Grande do Norte em energia renovável e para atrair investimentos industriais”, afirma.
O Rio Grande do Norte sediou dia 28 de agosto, o Seminário CEBDS 2024, “Transição Energética Justa, Integrada à Natureza e Sociedade”, que foi promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). O evento contou com a participação de aproximadamente 300 pessoas e reuniu, no Centro de Convenções, representantes de governos, empresas e entidades para debater a transição energética no Brasil. E também a neoindustrialização brasileira.
O Rio Grande do Norte foi o estado escolhido para sediar o debate por sua liderança na produção de energia sustentável no cenário nacional. A presidente do CEBDS, Marina Freitas Grossi, exaltou a mudança que o estado promoveu em 10 anos na sua matriz energética.
“E por que a gente quis começar aqui no Rio Grande do Norte? Porque esse é um endereçamento que a gente tem que fazer para o mundo e a gente tem que buscar uma convergência nesse endereçamento. No Rio Grande do Norte, a gente passou em 20 anos de 1% da matriz elétrica brasileira para 15,9% renovável e eólica”, disse.
Já a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica ( ABEEólica), Elbia Gannoum, em sua participação exaltou a importância que a produção de energia renovável tem no processo de reindustrialização do Brasil
“Quando eu cheguei na associação, nós estávamos comemorando um gigawatt de energia eólica instalada no Brasil. A eólica estava começando, e hoje nós estamos com 33 gigawatts de capacidade instalada, a energia eólica é a segunda fonte de geração do país”, expôs.
Ela também mostrou que a produção de energia sustentável tem “efeitos multiplicadores positivos para a economia”. “Os estudos que nós fizemos aqui, mostraram que o PIB na região Nordeste cresceu de 2009 a 2017. E a cada R$ 1 que a gente investe em energia, nós devolvemos R$ 2,9 reais para a economia”, disse.
Elbia Gannoum explicou que hoje participa de uma discussão para construir uma política industrial com base na energia. E que essa é uma oportunidade nunca antes vista no País. “Nós vamos reindustrializar esse país pela energia, pela mineração e pela bioeconomia. E é claro que eu estou trabalhando no projeto de política industrial a partir da energia, porque talvez o Brasil não tenha tido um alinhamento de planetas, uma oportunidade tão grande, quanto agora de transformar toda a sua economia e toda a sua sociedade a partir dos recursos naturais”, afirmou.
Em agosto recente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, que prevê R$ 18 bilhões em incentivos fiscais do governo, em 5 anos, com objetivo de descarbonizar a indústria e os transportes.
Acredita-se que a nova política pode alavancar a produção de energia no país, a partir de fontes limpas. O marco legal do hidrogênio verde institui o sistema brasileiro de certificação do hidrogênio e mecanismos de incentivo para aumentar a atratividade dos projetos para produção de energia.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o Brasil tem mais de R$ 200 bilhões em projetos de hidrogênio verde anunciados dentro do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), do governo federal.
*Esta reportagem especial sobre os projetos de energia renovável e neoindustrialização no RN teve parte de seu conteúdo publicado nas edições digital/impressa 177 e 178 do NOVO Notícias impresso, que circularam nos dias 16 e 23 de setembro de 2024.
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