Igor Freire, da Seu Boné, hoje a maior empresa de bonés personalizados do Brasil. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

Igor Freire, da Seu Boné, hoje a maior empresa de bonés personalizados do Brasil. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

Economia

Reportagem especial Tirando o boné para empreender e transformar a realidade local no RN

Como um comerciante iniciou um negócio com apenas 1 máquina própria e outras 3 emprestadas e se tornou dono da maior fábrica de bonés em Caicó, gerando mais de 200 empregos e faturando por ano em torno de R$ 18 milhões. Como um engenheiro da Petrobras teve uma ideia no dia do seu casamento, largou um emprego estável para abrir um negócio que hoje gera mais de 100 empregos, tem unidades em Natal e em São Paulo e deve faturar entre R$ 50 e R$ 60 milhões em 2024. E como a parceria entre os dois fortalece a indústria de bonés no RN, um setor que só no Seridó gera emprego e renda para quase 6 mil famílias e injeta recursos diretos na região.

por: NOVO Notícias

Publicado 2 de junho de 2024 às 18:03

Francisco Acácioda Silva, o Cacinho, em sua fábrica de bonés em Caicó. Foto: Cedida

Francisco Acácio da Silva, o Cacinho, na sua fábrica de bonés em Caicó. Foto: Cedida

Em meados dos anos 1990, Cacinho trabalhava em Caicó com seu pai, o comerciante Joaquim Alves da Silva, hoje com 80 anos. Ganhava R$ 50 por semana. Nessa época, um irmão dele, Francisco Ramos Alves, 55, que já trabalhava produzindo bonés, lhe fez uma proposta: “Cacinho, apareceu um cliente e quer fazer esse chapéu australiano. Eu não vou fazer. Você quer fazer?”

Ele relutou. “Ramos, como é que eu vou fazer?”, perguntou, na época. “Eu não tinha nada. Eu trabalhava com papai ganhando R$ 50 por semana. Como era que eu ia montar uma fábrica com R$ 50?”, lembra.

Passaram-se cerca de 20 dias. O irmão então voltou com a pressão: “E aí, vai fazer ou quer que eu faça?”. Cacinho topou. Sem saber costurar nada (até hoje não sabe), com algumas máquinas e três costureiros, ele iniciou um pequeno negócio em um quartinho nos fundos da casa de seu pai, na rua Major Lula, 935 (perto do quartel da PM), bairro Paraíba.

Começava ali uma história de empreendedorismo que hoje ajuda a transformar realidades locais em Caicó. Hoje, o Cacinho, cujo nome é Francisco Acácio da Silva, 50 anos, possui a maior fábrica de bonés de Caicó, gera em torno de 200 empregos diretos, deve produzir 1,2 milhão de bonés e espera em 2024 faturar no bruto cerca de R$ 18 milhões.

Dizendo assim, até parece moleza, né? Mas é claro que não foi. A história de Cacinho é um bom exemplo de como os pequenos negócios têm de enfrentar muitos desafios e exigem perseverança, compromisso, criatividade e senso de oportunidade.

5 de fevereiro de 1996. A data vem fácil quando Cacinho é perguntado quando começou. Esse foi exatamente o dia que o empresário fechou seu primeiro negócio, aquele dos chapéus australianos que aceitou por pressão do seu irmão.

“Meu começo é muito engraçado. Meu pai era comerciante de redes e tinha um quarto no final da casa. Eu comecei lá. Eu comprei uma máquina. Meu pai me emprestou outra. Meu irmão, outra. Uma tia minha, outra. Então, dessas máquinas, eu comecei a vida nessa história de fabricação de chapéu”, conta.

No início, os 3 funcionários conseguiam fazer 100 unidades por dia. “Esse chapéu foi me dando resultados”. De um cliente, foram surgindo outros. E o irmão que deu aquele primeiro impulso, também ajudava vendendo.

O empresário conta que mesmo com tudo indo bem, não faz parte da sua personalidade ser acomodado. “Eu sempre fui daquela pessoa que o que aparecer de novidade e eu conseguir fazer, eu vou entrar”. E assim ele começou a produzir viseiras.

Com o negócio crescendo, Acácio teve de ampliar o espaço de produção: saiu do quartinho na casa de Seu Joaquim para uma garagem.

Uma outra marca do trabalho de Acácio se fortaleceu. Ele explica que sempre gostou de fazer parcerias com clientes de maneira que as duas partes saiam ganhando. Com essa postura ele conquistou alguns compradores de São Paulo. Um deles manteve a parceria por 14 anos.

Nesse período, a fábrica de Acácio começou a fabricar outros tipos de bonés. Os novos produtos e os novos clientes — cada um a seu tempo — foram, boné a boné, impulsionando o crescimento do negócio.

Em meio a essa produção de novos artigos, Acácio destaca um em especial: no ano de 1998, quando houve a Copa do Mundo da França, ele teve a ideia de produzir um chapéu temático. “Eu criei um chapéu australiano com a bandeira do Brasil em cima. Foi um estouro. Eu vendi esse chapéu ainda por umas duas copas pra frente”.

Em 2009, 13 anos após ter iniciado, o empresário conseguiu erguer uma fábrica sua. “Saí de 30 m² para 1.100 m². Quando eu cheguei aqui — meu Deus do céu — quando é que eu vou encher isso? Mas era um sonho que eu tinha, construir uma fábrica decente para mim. Comecei em um quartinho, em uma garagem, então eu queria uma fábrica decente”.

Ouça abaixo um depoimento de Acácio sobre como ele conseguiu se manter durante a pandemia e o que pensa sobre empreender.

Novas parcerias, novo momento

A dúvida que Acácio tinha se ia conseguir ocupar toda a fábrica que havia construído foi se dissipando com o passar dos anos. E deixou de existir completamente em 2017, quando ele já contava 21 anos de atividade.

Nessa época, ele produzia umas viseiras para uma empresa que atuava no ramo de bonés personalizados. Enxergando ali uma oportunidade, Cacinho ofereceu ao casal que tocava o negócio seus serviços. O primeiro boné não foi bem aceito. Era grande.

Acácio então adotou mais uma vez o princípio que tem desde o início: atuar para atender o cliente da melhor maneira. “Mande o boné que você está querendo, que eu consigo fazer. Aí ele mandou o modelo e tal. E a gente começou”, conta.

Dia 15 de novembro de 2017, um feriado, eles conversaram visando o início de um trabalho juntos. Dia 16 foi enviado o primeiro pedido. Este ano, a parceria entre as duas empresas vai completar 7 anos. O que mudou: hoje Acácio tem uma fábrica exclusiva para atender este cliente do RN que, por sua vez, atende marcas nacionais como TikTok, Coca-Cola e Rock in Rio.

“Acho que essa foi a parceria com que mais cresci em pouco tempo. Ele tem essa vontade de crescer e eu comprei essa vontade de ter crescimento. Hoje estamos com uma fábrica, juntando tudo aqui, de 5 mil metros quadrados. Saímos de 3 funcionários para 200”, afirma.

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De um quartinho para a maior fábrica de Caicó

A fábrica de Acácio, que começou em um quartinho há 28 anos, hoje faz seis tipos de bonés. No início eram 100 peças por dia. Hoje, 4 mil. Em 2023, ele produziu 600 mil unidades. Em 2024, a produção já vai em aproximadamente 400 mil e a expectativa é alcançar 1,2 milhão.

A fábrica que começou com 3 costureiros faturava em torno de R$ 5 mil ao mês (bruto), o que dava em torno de R$ 60 mil por ano. Para 2024, a média de faturamento é de R$ 1,5 milhão por mês e a expectativa é de chegar a R$ 18 milhões de faturamento bruto no ano.

Até o final do ano ele espera ampliar também a quantidade de empregos gerados, chegando a 230 vagas.

A realidade de Cacinho mudou. E essa mudança gerou transformação também no seu entorno. O dinheiro que ele capta vem de fora e acaba sendo injetado na economia de Caicó e arredores, com fornecedores, o salário dos funcionários, transportes e demais serviços que sua fábrica demanda.

“A gente não consegue vender nem 10, 20 bonés aqui em Caicó. Então a gente vê que esse dinheiro é legal porque a gente consegue trazer de fora para injetar aqui com 200 funcionários gastando aqui dentro da cidade. Isso aí é uma mudança que eu vejo boa. Então, isso aí é muito legal pra cidade. Eu vejo o meu papel aí e acho que é bem gratificante para a cidade”, diz.

Nessa trajetória, além da persistência, da criatividade e do senso de oportunidade, ele também contou com o apoio do Sebrae-RN. “Rapaz, eu acho que o Sebrae dá um apoio legal porque ele tem o conhecimento para fazer isso acontecer. Quando temos alguma dificuldade, procuramos por eles”, afirma.

Hoje, o próprio Acácio se admira com a evolução do seu negócio, mas não se deixa levar por alguma ilusão que isso possa trazer. Do escritório, quem olha os funcionários e os resultados e continua tocando o negócio não é o empresário que hoje tem a maior fábrica da cidade e fatura acima de R$ 1 milhão por mês. Quem está lá é o Cacinho, o cara que começou sob pressão do irmão, com chapéus australianos, três funcionários e cinco máquinas. É o pequeno empreendedor que sonhava em ter sua própria empresa, que age para tentar mudar a própria realidade, não foca nas dificuldades e vê sempre um ano sendo melhor que o outro.

E que, acima de tudo, é grato: “Essa é a minha história: começar com nada, com crédito e fazer com que a gente chegue a um faturamento desses. A minha vida mudou bastante. Agradeço demais por tudo o que consegui até hoje através de chapéus e bonés”.

Um presente de casamento que fatura milhões

Igor Freire, da Seu Boné, hoje a maior empresa de bonés personalizados do Brasil. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

Igor Freire, da Seu Boné, hoje a maior empresa de bonés personalizados do Brasil. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

Contando hoje, parece até brincadeira. Mas foi assim mesmo: uma ideia que surgiu meio por acaso. Muitos anos após Cacinho ter fundado seu negócio em um quartinho na casa do pai, o engenheiro Igor Freire casou-se com a advogada Tuanne Mariz. E nos preparativos da festa, eles receberam um presente diferente.

“Tuanne é de Serra Negra do Norte, que é um polo de fabricação de bonés nacional. Serra Negra do Norte, Caicó, aquela região ali do Seridó. E, quando a gente casou, o pai dela convidou a região inteira lá. E acabou que muita gente que trabalhava com boné foi para o nosso casamento. Uma dessas pessoas, que era fabricante, nos presenteou com um kit de bonés personalizados. E a gente ficou naquela dúvida se usava, se não usava e tudo mais. E a gente decidiu utilizar no casamento. E a gente teve uma surpresa. Todo mundo adorou aqueles bonés”, conta Igor.

Adorou tanto que, muito tempo depois, o povo ainda usava o acessório. “Aquilo ali, eu digo que foi nosso ‘day one’. Foi o primeiro estalo que a gente teve. E que a gente viu que ali existia uma oportunidade. Aquilo ali se juntou com a vontade enorme que a gente tinha de voltar a morar aqui em Natal”, conta.

Após o casamento, Igor e Tuanne foram para o Rio de Janeiro e depois para o Mato Grosso do Sul, onde ele foi para assumir um emprego obtido por concurso na Petrobras. Mas eles não eram felizes lá.

Alguns meses após aquele estalo ter feito com que ele iniciasse um negócio no setor de bonés personalizados, o empresário fez algo classificado por alguns como uma loucura: pediu demissão.

“Em 2018, eu finalmente tive coragem e abri mão do concurso, de um bom salário, pedi demissão e foi o momento que a gente conseguiu voltar para Natal, para se dedicar exclusivamente à Seu Boné e a fazer com que a Seu Boné saísse de uma empresa bem pequenininha ali para virar uma grande empresa, que é o trabalho que a gente está tentando desenvolver ao longo desses anos”, relata.

Hoje, a loucura que começou com 3 sócios em um escritório de advocacia tem unidades em Natal e em São Paulo, gera mais de 100 empregos diretos, ajuda a gerar outros 200 em Caicó, e prevê faturamento bruto entre R$ 50 e R$ 60 milhões para 2024.

Você já deve ter topado com eles nas redes sociais. É a Seu Boné, uma empresa do RN que hoje é a maior do Brasil em seu segmento, bonés personalizados. E que quer crescer ainda mais.

Como Cacinho, a empresa de Igor e de seus sócios transforma a realidade a seu redor aliando um mercado dito tradicional ao uso de tecnologias e estratégias de venda que antes não eram possíveis. “A gente começou a empresa sem funcionário, sem escritório, sem nada. Ali no celularzinho”, conta o empresário.

“O mercado de boné é um mercado muito tradicional. Ele existe há décadas e décadas aqui no Brasil. E esse mercado era feita a venda por carros de linha. O que é que a gente fez? A gente viu a oportunidade de trazer a tecnologia e a inovação para fazer aquele mesmo trabalho que era feito através de vários carros de linha. Mas de uma maneira muito mais barata e eficiente. Isso possibilitou a gente começar uma empresa sem investimento, do zero e tudo mais”, explica.

Uma das ações que a Seu Boné fez para poder começar foi vender kits personalizados a amigos dos fundadores que também tinham ou estavam começando empresas. “A gente meio que obrigou esses amigos que tinham empresa a comprar esses bonés. Eles compraram para nos ajudar, porque a gente estava começando o empreendimento do zero. E o que aconteceu? De cara, a gente já tinha 30, 40 clientes aqui em Natal”.

Esse primeiro movimento colocou as engrenagens em funcionamento, gerou indicações, novas compras e recompras. Nessa época, a Seu Boné contava apenas com Igor, Tuanne e Camilo Medeiros, que também era advogado e é sócio-fundador da empresa.

Eles se revezavam nas funções e isso durou até o momento que não havia mais como manter a empresa como uma atividade paralela. “A gente trabalhava da hora que acordava até a hora que a gente ia dormir, durante muito tempo. E assim a gente começou a conseguir prosperar”, relata.

Um susto grande, logo após a demissão

No momento de dificuldades, a Seu Boné recebeu ajuda do Sebrae-RN. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

No momento de dificuldades, a Seu Boné recebeu ajuda do Sebrae-RN. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

Era outubro de 2018. Igor e Tuanne conseguiram voltar para Natal. Junto com Camilo Medeiros, eles reformaram um escritório de advocacia para ficar mais com cara de startup (porque afinal é isso que a Seu Boné é) e foram tocar o negócio.

E aí veio um tremendo susto.

“Eu pedi demissão e a gente voltou. Aí, quando a gente chegou em Natal, com aquele frio na barriga, aquela vontade de fazer acontecer, aquele medo de não ter aquela remuneração certinha todo final de mês, por algum motivo, os resultados da empresa começaram a cair. Semana a semana e eu fiquei desesperado. Meu Deus, o que é que eu faço?”, lembra.

Foi nesse momento da história que a Seu Boné encontrou o Sebrae-RN e outros parceiros.

“Eu acredito que o papel do Sebrae é extremamente importante, principalmente para as empresas que estão começando. Muita gente nem sabe o quanto o Sebrae pode ajudar. Por exemplo, o programa Sebraetec, eles custeavam 70% das consultorias, consultoria de processos, consultoria de vendas, de gestão, de tudo”, diz.

Ele acrescenta que, ao procurar o Sebrae-RN, descobriu que eles poderiam ajudar muito empresários que, como ele, estavam no começo de sua jornada. “O Sebrae ajudou muito. A gente depois fez o programa Ali do Sebrae, que também foi um programa excepcional, que nos ajudou muito. Inclusive hoje, um dos sócios da empresa, de partnership, um sócio minoritário, a gente o conheceu no Ali do Sebrae”, relata.

Assista abaixo um vídeo na qual Igor conta como foi a descoberta de sua veia empreendedora, a passagem pela pandemia, sua visão de empresa e os planos de crescimento:

“Fazer a diferença na sociedade, gerar empregos”

Um pouco antes desse susto, em 2017, a Seu Boné firmou a parceria com Francisco Acácio da Silva, 50 anos, o Cacinho, que é fornecedor exclusivo. E passou a ajudar na geração de empregos em Caicó também.

“A gente viu nele um cara diferenciado. Ele tinha uma visão de qualidade, ele tinha uma visão de crescimento, ele não tinha olho grande de querer vender, ele entendia o papel dele na cadeia como fornecedor e a gente, o nosso, como marketing, vendas e distribuição. E a gente viu um potencial”.

Na fábrica de Cacinho são 200 empregos diretos. E a Seu Boné gera hoje em torno de 100 empregos diretos.

“Hoje, de maneira direta e indireta, dependendo totalmente do nosso trabalho, são mais de 300 famílias. Somando, a gente tem uma influência no sustento de mais de mil pessoas com o boné personalizado, daquela sementinha que a gente plantou. Isso nos orgulha muito, porque a gente consegue ter um sentimento muito grande de que a gente está fazendo a diferença”, diz o empresário.

Para ele, a estabilidade de um emprego público é algo muito bom, mas nada se compara ao sentimento que a Seu Boné gera.

“Eu acredito que fazer a diferença na sociedade, gerar empregos, mudar a mentalidade de pessoas que vão pensar grande, que vão empreender, que vão gerar mais empregos, eu acho que isso é melhor do que qualquer estabilidade que a gente poderia ter”, afirma.

O empresário comenta ainda que a empresa de Cacinho e a Seu Boné têm, de certa forma, trajetórias parecidas, porque cresceram de algo muito pequeno e que também têm em comum a vontade de crescer e alcançar novos horizontes.

“Ele começou pequenininho também. Hoje a gente foi crescendo junto, foi se ajudando, foi aprendendo. Hoje eu tenho, por exemplo, mais de seis colaboradores diretos dentro da fábrica dele. A gente trabalha como sócio, praticamente. A gente cresceu junto e hoje tem uma fábrica enorme, a maior fábrica do Nordeste de bonés. E não tenho certeza, mas acredito que é a maior fábrica do Brasil de bonés. Hoje são mais de 4 mil metros quadrados de chão de fábrica, mais de 200 colaboradores, e essa parceria está dando muito certo e a gente quer que ela vá muito, muito longe ainda”.

O resto do mundo para conquistar

Igor e Tuanne, o casal Seu Boné. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

Igor e Tuanne, o casal Seu Boné. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

Passados oito anos desde que aquele convidado de casamento presenteou Igor e Tuanne com um kit de bonés personalizados, a Seu Boné é hoje a maior empresa do Brasil no segmento “bonés personalizados, com vendas online, para empresas utilizarem de maneira corporativa”.

“No ano passado a gente vendeu mais de 1 milhão de bonés. Nos últimos meses, a gente fez uma média de mais de 100 mil bonés por mês, todos os meses, somando mais de 1 milhão de bonés por ano. E na nossa história a gente já fabricou mais de 4 milhões de bonés que são distribuídos em todo o Brasil para mais de 40 mil clientes”, informa Igor.

E destaca: “Uma coisa que é legal também é que a gente já atendeu mais de 3 mil municípios diferentes. A gente pega a arte, o trabalho suado aqui do Rio Grande do Norte, do Nordeste, e a gente consegue distribuir para o Brasil inteiro. 3 mil municípios são mais da metade de todos os municípios que existem no Brasil. A gente tem muito orgulho de levar o trabalho do Nordeste, a garra nordestina, norte-riograndense, para todo esse Brasil aí, através de trabalho duro, de tecnologia e de pensar grande”.

Outro número que mostra a pujança do negócio: “no ano passado a gente faturou aí próximo de R$ 37 milhões. E o nosso objetivo este ano é faturar entre R$ 50 e R$ 60 milhões”.

Achou muito? A Seu Boné discorda. Igor explica que na visão da empresa o mercado em que atuam ainda oferece uma oportunidade enorme de crescimento. “A gente atendeu 40 mil empresas, o que parece muito. Mas se eu observar que no Brasil tem 10 milhões de CNPJs, a gente está só com um grãozinho de areia no mercado. Então a gente ainda tem uma infinidade para crescer e depois que a gente conseguir realmente crescer mais e dominar o Brasil, tem o resto do mundo inteiro aí para a gente conquistar”.

O plano é conquistar pelo menos 30%, 40% de crescimento em termos de volume de faturamento, resultado financeiro e volume de produtos. Projetando isso no horizonte de 5, 10 anos, a Seu Boné acredita que “vai virar uma organização muito relevante aqui no nosso estado, gerando muito emprego, fazendo muita diferença e até para nível Brasil”.

Assim como Cacinho, mesmo após ter conseguido alcançar um patamar diferenciado, Igor e seus sócios conduzem a empresa com a mesma motivação do início, com um propósito que supera o objetivo de obter estabilidade financeira.

Uma mostra disso foi uma encomenda para a TikTok no carnaval, quando eles precisavam entregar 5 mil bonés em Salvador (BA) num prazo de 5 dias. E conseguiram.

“A gente está aqui para resolver a vida do cliente. Então a gente parou tudo no fornecedor, trabalhou de madrugada, fez esses produtos saírem, fretou um transporte, entregou lá em Salvador, e a gente conseguiu, através de muito trabalho duro, atender o cliente e nosso cliente até hoje. E é por esse tipo de ação, de lutar pelo cliente, de querer fazer diferença, querer fazer com que nosso cliente tenha resultado, que o boné não seja custo, que o boné seja investimento, trazendo essa visão que a gente faz com que os clientes continuem comprando e continuem indicando a gente. E isso é a turbina, é o combustível do nosso crescimento”, explicita.

A Seu Boné também trabalha internamente essa mentalidade empreendedora para seus colaboradores. Há participação nos lucros, cursos, palestras, oportunidade de educação e até uma moeda própria que pode ser trocada por livros, cursos, jantares e ingressos de cinema, entre outros. “Teve uma pessoa que juntou muito tempo e trocou por um notebook para estudar em casa”, conta Igor.

E há um último diferencial, implícito, que a Seu Boné tem e que (talvez) sem isso, não seria tão forte: a história de amor e parceria entre Igor e Tuanne.

“Se não fosse minha esposa, acredito que jamais eu teria ido para o lado do boné. Foi com ela que eu tive esse contato com o mercado de bonés e que a gente teve essa oportunidade. Então a gente juntou essa visão que eu tenho, empreendedora, essa bagagem que eu tenho de grandes empresas, com a força de trabalho dela, a visão que ela tem, e com essa bagagem do produto do boné, do interior do Rio Grande do Norte, do trabalho guerreiro, do seridoense, e a gente conseguiu juntar forças e junto também com os nossos sócios, com os nossos colaboradores, formar essa organização que hoje é a Seu Boné e que tanto nos orgulha e a gente tenta fazer a diferença e causar também orgulho para todo o nosso estado do Rio Grande do Norte”, assegura.

Afinal, o que é a Seu Boné?

A Seu Boné aplica tecnologia e inovação ao mercado tradicional de bonés e contribui para a geração de mais de 300 empregos. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

A Seu Boné aplica tecnologia e inovação ao mercado tradicional de bonés e contribui para a geração de mais de 300 empregos. Foto: Everton Dantas/NOVO Notícias

“A Seu Boné é uma startup, uma empresa disruptiva, que pensa diferente. Eu acredito que o que a gente faz é justamente pegar o mercado tradicional de boné e trazer uma roupagem diferente, de tecnologia, de marketing, de crescimento, interna na empresa, de meritocracia, de partnership, que é fazer as pessoas virarem sócias. A gente traz empreendedor para vir aqui todo mês, conversar com a galera. A gente tem competição, a gente tem moedas internas, a gente tem participação no lucro, todo mundo, então a gente tenta pegar o tradicional e trazer uma roupagem moderna, diferente, disruptiva, que eu acho que a cara da startup é isso, é ser disruptiva. Eu não gosto daquela startup, 100% startup, que tá ali querendo reinventar a roda e acaba que não sai do canto nunca, só pensa em ter super ideias, mas não executa. E eu também não gosto da empresa super tradicional, onde ela é muito engessada, onde ela não é meritocrática e ela acaba crescendo muito devagar. Então o nosso objetivo aqui na Seu Boné é juntar os dois, juntar a força do trabalho, do tradicional, de fazer a diferença, de ter resultado, com a mentalidade de startup, de trazer tecnologia, modernidade, marketing, vendas online e fazer com que esses dois se entrelacem e criem uma organização que cresça muito. Eu acredito que hoje a gente é isso: utiliza tecnologia, mercado tradicional e uma vontade imensa de fazer a diferença no mundo, de fazer uma coisa muito grande”
— Igor Freire, sócio Fundador

Quem é a Seu Boné:

Sócios Fundadores:

  • Igor Freire
  • Tuanne Mariz
  • Camilo Medeiros

Sócios partnership:

  • Marcelo Medeiros
  • João Gabriel Albuquerque
  • Thais Lima
  • Artur Pinheiro

Bonés: o maior celeiro de empregos hoje no Seridó

Presidente do Sindibonés no RN, Francisco Sena. Foto: Reprodução

Presidente do Sindibonés no RN, Francisco Sena. Foto: Reprodução

“A indústria do boné hoje é o maior celeiro de geração de emprego e renda na região do Seridó”. Quem afirma é o presidente do Sindicato das Indústrias de Bonés e Chapéus do Rio Grande do Norte (Sindibonés-RN), Francisco das Chagas Sena de Medeiros.

“Caicó hoje tem 115 empresas. Serra Negra tem 75 e São José tem uma. Somadas, essas três cidades que formam o polo industrial do boné do Seridó. Juntas, essas cidades estão hoje gerando mais de 5 mil empregos nesse setor”, explica.

E detalha, com base em informações da Receita Federal: “Caicó gera 3.450 empregos; Serra Negra, 2.250, e São José de Seridó, 50 empregos. Somando todos, dá 5.730 empregos”.

Segundo Francisco Sena, hoje pode ser dito que Caicó “é a capital nordestina dos bonés”. Ele explica que no Brasil, a cidade no Seridó só perde para Apucarana, no Paraná, essa sim a capital nacional dos bonés. Ou seja: Caicó é a segunda do Brasil em produção de bonés.

Ele explica também que o crescimento da indústria de bonés se retroalimenta e ajuda a fortalecer a economia seridoense, transformando a realidade local.

“Quanto mais emprego, mais capital investido, mais infraestrutura, mais fornecedor, mais tem resultado gerando emprego, renda e sustentabilidade, dando condições de sobrevivência e bem-estar a todo esse quadro de empregados, mais ou menos 5 mil pessoas”, assevera.

O empresário destaca ainda o papel do Sebrae neste ecossistema. “O Sebrae-RN, eu diria que é um pilar na estrutura que soma com o apoio que dá através do Sebraetec, que é de grande importância”, opina.

Ele explica que o Sebraetec, por exemplo, “faz o investimento numa contrapartida de 70%, dando auxílio aos empresários, que dá aperfeiçoando tantos os programas operacionais das empresas e também dando auxílio em treinamento para melhoramento de mão de obra”.

De acordo com o presidente do Sindibonés, o Sebrae também dá apoio com infraestrutura e treinamento especializado, contribuindo para a melhoria de capacitação da mão de obra e da qualidade do produto. “Então, o Sebrae é como se fosse um pai para os empresários”, afirma.

“A indústria de bonés reafirma o potencial do Seridó para o Brasil”

Diretor superintendente do Sebrae-RN, José Ferreira de Melo Neto. Foto: Alberto Coutinho/Sebrae

Diretor superintendente do Sebrae-RN, José Ferreira de Melo Neto. Foto: Alberto Coutinho/Sebrae

Assim como as pequenas empresas desempenham um papel crucial na economia do Rio Grande do Norte, gerando emprego, renda e transformações; o Sebrae-RN presta um serviço essencial para que os pequenos negócios nasçam, cresçam e prosperem. Na entrevista abaixo, o diretor superintendente do Sebrae-Rn, José ferreira de Melo Neto, fala sobre essa missão e sobre como a importância da chamada “industria de bonés” na economia do estado e mais especificamente na região do Seridó. “A atuação integrada e o alcance nacional desta indústria são fundamentais para o desenvolvimento econômico sustentável da região, sublinhando a importância estratégica do setor para o Rio Grande do Norte. A contínua capacitação e inovação implementada pela indústria de bonés reafirmam o potencial do Seridó como um polo econômico vital, não apenas para o estado, mas para o Brasil como um todo”, afirma.

Confira entrevista completa:

NOVO Notícias: Como o SEBRAE/RN tem atuado para apoiar as pequenas empresas no RN?

José Ferreira de Melo Neto: Temos uma trajetória exitosa de 50 anos no mercado com atuação em todo o território potiguar, através das 08 agências regionais, 167 Salas do Empreendedor nos municípios, além de inúmeros agentes territoriais espalhados. Atuamos com o atendimento individual em que potenciais empreendedores, estudantes e empresários já estabelecidos buscam informações, consultorias, capacitações e outros serviços disponíveis. Também atuamos com atendimentos coletivos e projetos regionais, por exemplo, a apicultura e queijeiras, além de trabalharmos com projetos setoriais como o petróleo e gás, fruticultura, oficinas de costura, bonelaria, alimentos e bebidas, indústria cerâmica, energias renováveis, entre tantos outros. Trabalhamos na proposição e estruturação de políticas públicas que melhorem o ambiente de negócios no estado e municípios, para a facilitação do funcionamento das micro e pequenas empresas. Com esta capilaridade e uma boa pegada digital, atendemos em 2023, 102 mil pequenos negócios com mais de 500 mil atendimentos. Isso significa que alcançamos cerca de 50% das empresas optantes pelo SIMPLES no Rio Grande do Norte.

Como o senhor avalia a importância das pequenas empresas para o RN?

JFMN: As pequenas empresas desempenham um papel crucial na economia do Rio Grande do Norte, assim como nas demais regiões do Brasil. Sua importância pode ser observada na geração de empregos, participação no PIB local, recolhimento de impostos, no empreendedorismo e na inovação de produtos e serviços. Não há como tratar de desenvolvimento sem fomentar políticas públicas destinadas ao fortalecimento dos pequenos negócios. A base da nossa economia é composta de micro e pequenas empresas. Somam mais 95% das empresas locais. É a pequena empresa que mantém o saldo positivo de empregos há 10 anos, especialmente às que possuem até 10 empregados. Programas de apoio como o que instituiu a figura do MEI (Microempreendedor Individual), têm ajudado muitos trabalhadores informais a se regularizarem, garantindo acesso a benefícios previdenciários e fortalecendo a economia formal. Os pequenos negócios são a porta de entrada para o mundo do empreendedorismo. Traz mais oportunidades devido ao menor risco financeiro, possibilidade de aprendizado prático, além das facilidades para abertura. Iniciar um pequeno negócio geralmente requer um investimento inicial menor, o que torna o empreendedorismo mais acessível para muitas pessoas. Com sua capacidade de inovação, agilidade e conexão direta com a comunidade, os pequenos negócios têm um impacto significativo nas oportunidades de emprego e ocupação, além do fortalecimento da nossa economia regional.

Como o senhor avalia o impacto da chamada “indústria de bonés” no RN e como ela tem alterado a realidade local na região do Seridó?

JFMN: A indústria de bonés no Rio Grande do Norte, com forte presença na Região do Seridó, especialmente nos municípios de Caicó, Serra Negra do Norte e São José do Seridó, está em plena expansão e se capacitando continuamente para aprimorar seus produtos. Com a implantação de inovações em máquinas e implementos, essa indústria tem melhorado significativamente sua produção e competitividade a nível nacional. Este setor tem gerado um impacto positivo expressivo na geração de empregos e na renda regional. Com uma rede de comercialização que cobre todo o território brasileiro, e fortalecida pelo uso estratégico das mídias digitais, a indústria de bonés não só consolida a economia regional, mas também impulsiona empresas de setores complementares, como fornecedoras de tecidos e aviamentos. Importante destacar que, por ser um segmento com mercado distribuído por todo o Brasil, os recursos gerados são reinvestidos diretamente na economia regional. Isso contribui para a dinamização e fortalecimento do comércio local, criando um efeito multiplicador positivo na economia do Seridó. A atuação integrada e o alcance nacional desta indústria são fundamentais para o desenvolvimento econômico sustentável da região, sublinhando a importância estratégica do setor para o Rio Grande do Norte. A contínua capacitação e inovação implementada pela indústria de bonés reafirmam o potencial do Seridó como um polo econômico vital, não apenas para o estado, mas para o Brasil como um todo.

Sem as pequenas empresas, que RN teríamos hoje?

JFMN: Acreditamos que todas as empresas são relevantes para a nossa economia. Até porque temos exemplos de encadeamentos produtivos bem-sucedidos. Podemos citar o setor de petróleo e gás em que trabalhamos com os nossos parceiros a inserção dos pequenos nesta grande cadeia produtiva, o projeto das oficinas de costura que fornecem para o grupo Guararapes, pequenas indústrias de panificação integradas com grandes moinhos e os pequenos produtores de frutas encadeados com grandes players da fruticultura. Muitas vezes os grandes viabilizam o processo logístico para a comercialização dos pequenos, de modo que todos os portes de empresas no Rio Grande do Norte são imprescindíveis. ◼️

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