Atendimento emocional do CVV é gratuito e funciona 24h – Foto: Divulgação
Foi durante uma palestra na Fundação José Augusto que Marcelo Pereira – primeiro voluntário do Centro de Valorização da Vida – decidiu que precisava integrar o grupo pioneiro que atuaria no combate e prevenção ao suicídio no Rio Grande do Norte. Na época, aos 21 anos, o jovem viu a oportunidade de poder ajudar pessoas de forma voluntária. No caminho, outros voluntários desistiram, porém, Marcelo persistiu no projeto que virou missão de vida.
“Eu sempre tive interesse em ajudar pessoas, mas esse trabalho era diferente. Fundamos o CVV e dei o primeiro plantão em Natal. Devido ao histórico crescente no número de casos de problemas de saúde mental, enxerguei uma forma de dar apoio a essas pessoas”, contou.
O dia 10 de setembro é marcado como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data foi criada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e reforçada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio anualmente em todo o mundo. O suicídio chega a ser a segunda maior causa de morte entre jovens com idades de 15 a 29 anos. O Brasil ocupa a oitava posição em número de suicídios, com aproximadamente 13 mil casos anuais.
Em contrapartida, visando diminuir esses números, instituições não-governamentais, como o CVV, prestam serviços à população. Em Natal, o serviço existe há 41 anos. São 47 voluntários atuando no serviço atualmente. No Brasil, o CVV existe há 61 anos.
O Centro de Valorização da Vida recebe, em média, cerca de 3 milhões de ligações em todo o Brasil a cada ano, através da prestação de serviços como apoio emocional e prevenção ao suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar. O trabalho é realizado sob sigilo, e pode ser feito via telefone pelo número 188, que funciona 24 horas, e é gratuito.
“Somos ouvintes. É um trabalho centrado nas pessoas, sem exigir identificação, não damos aconselhamento, nós proporcionamos a liberdade para que elas possam falar sobre si, sem julgamentos”, afirmou Marcelo.
O atendimento emocional está disponível para todas as pessoas e, especialmente, àquelas que estão passando por algum problema, independentemente da natureza, e que precisem de alguém com quem possam conversar, compartilhar e desabafar. Tanto a identidade do interlocutor quanto o conteúdo da conversa são mantidos em sigilo absoluto.
Para o coordenador do CVV em Natal, Thiago Martins, o trabalho desempenhado de forma voluntária é de extrema importância não somente durante o mês de conscientização, mas sim, em todo o ano.
“Num momento como o Setembro Amarelo, que tem como o lema ‘Falar é a melhor escolha’, nos leva sempre a reflexão: com quem falar? E o CVV está disponível 7 dias por semana e 24 horas por dia, prestando o apoio emocional”, destacou o coordenador.
Com o passar dos anos e aumento nas demandas, o Centro de Valorização da Vida (CVV) de Natal abriu inscrições para novos voluntários. Os interessados devem ter no mínimo 18 anos, espírito voluntário e disponibilidade para dedicar 4 horas semanais ao atendimento. As inscrições podem ser feitas através do e-mail natal@cvv.org.br .
Para ser um voluntário, os inscritos passarão pelo Programa de Seleção de Voluntários (PSV), um curso gratuito composto por 10 aulas que acontecerão presencialmente.
O PSV deste segundo semestre de 2023 será ministrado aos sábados à tarde, às 14h, começando em 23 de setembro, e às terças e quintas à noite, às 18h30, começando em 26 de setembro. O cadastro deve ser feito através do e-mail natal@cvv.org.br
Psicóloga Cristina Hahn (à esq.) perdeu a fi lha em 2021 – Foto: Reprodução/Instagram
No dia 18 de setembro de 2021, a psicóloga Cristina Hahn recebeu a notícia que nenhuma mãe espera. A filha dela, Ana Beatriz, de 31 anos, havia tirado a própria vida. A distância fez com que a dor aumentasse ainda mais. Ana era médica e fazia residência em Terapia Intensiva na cidade de São Paulo. Além disso, a jovem era acompanhada por uma psicóloga semanalmente.
A situação transformou a vida da psicóloga. Por ser especialista em comportamento humano, Cristina tentou buscar respostas para a perda, mas não as encontrou. Foi então que deu início a um processo de ressignificar o próprio luto, sem deixar de vivê-lo.
Cristina passou a utilizar a energia do sofrimento para aprofundar os conhecimentos sobre a temática e tentar ajudar outras pessoas que possuem pensamentos suicidas ou que já vivenciaram a perda causada pela morte. Profissional há mais de 20 anos, com foco em sexualidade e comportamento, ela precisou recalcular a rota e passou a investir em conteúdos do tema.
“Passei a drenar essa energia buscando formas de poder trabalhar cuidando da saúde mental e evitar chegar ao ponto de que o suicídio seria a única saída. Comecei a movimentar minhas redes sociais e vi que as pessoas estavam precisando também falar sobre o tema e me deu outro sentido”, disse a psicóloga.
A psicóloga destacou a relevância de se debater cada vez mais sobre o suicídio, como forma de prevenção, quebrando o tabu colocado pela sociedade.
“Eu acho que devemos sim, falar sobre o suicídio, mas da maneira correta, com responsabilidade, visando a educação. Isso vai despertar nas pessoas o interesse no conhecimento e, consequentemente, do auto cuidado e prevenção”, afirmou Cristina.
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