Ailton Gonçalves Moraes Barros, major reformado do Exército, e o ex-presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução
Ailton Barros é um dos 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022
Publicado 19 de fevereiro de 2025 às 13:28
O ex-militar Ailton Barros, um dos 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, acumula um extenso histórico de infrações durante sua carreira no Exército, incluindo uma detenção em uma unidade militar no Rio Grande do Norte.
Documentos do Superior Tribunal Militar (STM) revelam que Barros foi detido sete vezes antes de sua reforma militar em 2006. À época, ele era capitão do Exército. Um dos casos mais graves ocorreu em 1997, quando servia no 17º Grupo de Artilharia de Campanha em Natal (RN), onde foi detido por suspeita de assediar sexualmente uma mulher em área de acampamento militar. O documento não traz maiores detalhes do caso.
Em 2002, o então oficial enfrentou seis procedimentos disciplinares. Entre as infrações, destaca-se uma detenção de cinco dias por distribuir material de campanha em área militar, desobedecer às ordens superiores e conceder entrevista não autorizada sobre racismo no Exército. Mais recentemente, em maio de 2023, Barros voltou a ser detido, desta vez pela Polícia Federal, em operação que investigava um esquema de falsificação de dados de vacinação contra Covid-19.
Agora, ele figura entre os denunciados pela PGR por supostamente participar de articulações para impedir a posse do presidente eleito em 2022.
De acordo com denúncia do procurador Paulo Gonet, Ailton participava do chamado “Núcleo da Desinformação”, que era formado por militares e ex-militares. O grupo atuou entre junho de 2021 e janeiro de 2023. A denúncia aponta que os integrantes tinham como objetivos impedir o funcionamento dos Poderes da República e derrubar o governo eleito.
Os denunciados são denunciados, entre outras coisas, por contribuírem moral e materialmente para os atos de vandalismo de 8 de janeiro em Brasília, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. A Procuradoria-Geral da República aponta que houve uso de violência, substâncias inflamáveis e causação de prejuízo considerável ao patrimônio público.
“O caso, por isso, também se subsome aos tipos dos crimes de dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima (art. 163, parágrafo único, I, III e IV, do Código Penal c/c art. 29 do Código Penal), e de deterioração de patrimônio tombado (art. 62, I, da Lei n. 9.605/1998 c/c art. 29 do Código Penal)”, escrevei o procurador Paulo Gonet.
Ataques nas redes
De acordo com a investigação do Ministério Público Federal, o general Braga Netto (também denunciado por Paulo Gonet) orientou Ailton Gonçalves Moraes Barros a disseminar uma mensagem que retratava o General Tomás Paiva, atual comandante do Exército, como opositor do movimento golpista, visando prejudicar sua reputação.
“É verdade. Pode viralizar”, teria afirmado Braga Netto. A disseminação da mensagem foi confirmada por dados encontrados no celular de Mauro Cid (que atuou como ajudante de ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro). Os diálogos, segundo a PGR, demonstram o papel central de Braga Netto na coordenação de ações de pressão contra comandantes militares, com apoio de Ailton Barros, que incitava militares e propagava ataques virtuais.
Dois dias depois, Barros publicou em seu perfil no Twitter uma mensagem convocando para um golpe de Estado: “É chegada hora da onça beber água, separarmos os homens das criancinhas e conhecermos os omissos, os covardes e os fracos, a fim de, responsabilizá-los e enterrá-los com a história que será escrita”, postagem que recebeu apoio do então General-de-Brigada reformado Laércio Vergílio com a mensagem “FORÇA! BRASIL!”.
Falsificação de dados da vacina
Em maio de 2023, Ailton Barros foi preso em operação da Polícia Federal por envolvimento em esquema de falsificação de dados de vacinação contra Covid-19. Ele tem longo histórico de transgressões, segundo documentos do Superior Tribunal Militar (STM). Barros, reformado pelo Exército em 2006, acumulou ao menos sete detenções durante sua carreira militar.
Em 1997, quando servia no 17º Grupo de Artilharia de Campanha, foi detido em Natal por tentativa de assédio sexual contra uma mulher em área de acampamento militar.
Em 2002, respondeu a seis procedimentos disciplinares, incluindo uma detenção de cinco dias por distribuir material de campanha em área militar, insubordinação e conceder entrevista sobre racismo no Exército.
Em 2006, seu nome ganhou destaque na imprensa após suposto envolvimento em negociações para recuperar armamento do Exército que estava em poder de traficantes do Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi expulso da Força.
Durante sua campanha para deputado estadual em 2022, na qual obteve cerca de 7 mil votos, Barros se apresentava como “o 01 do Bolsonaro”. O STM o caracterizava como “oficial que reiteradamente pratica atos que afetam a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe, por isso, incompatível com o oficialato”.
Prisão em 2023
Sua recente prisão ocorreu em operação da Polícia Federal que investiga esquema de falsificação de dados de vacinação contra Covid-19 envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Durante as investigações, interceptações da PF registraram Barros afirmando ter conhecimento sobre o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Em áudio enviado ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro, Barros declarou: “De repente, nem precisa falar com o cônsul. Na neurose da cabeça dele [Siciliano], que ele já vem tentando resolver isso há bastante tempo, manda e-mail e ninguém responde, entendeu? Então, ele partiu para a direção do cônsul, que ele entende que é quem dá a palavra final. Mas a gente sabe que nem sempre é assim, né? Então quem resolva o problema do garoto, entendeu? Que tá nessa história de bucha. Se não tivesse de bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a p*** toda. Entendeu?”
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